Levante
a mão quem não acha os juros bancários no Brasil escandalosamente
altos! Creio que nem os banqueiros se dignaram a mover o braço. São,
sim! Quais as razões? Os especialistas se dividem quanto às causas. Deve
haver, porque é da natureza, certa cupidez dos “companheiros
banqueiros” etc e tal. Apelo a alguma ironia porque esse é um debate
antigo, que nunca chegou a um consenso. Costuma marcar fronteiras entre
pensamentos econômicos. Sem me alinhar com grupos, alinho-me com
aqueles, no entanto, que não veem motivos técnicos para o estratosférico
spread vigente no país. Muito bem! Governos interferem, sim, nessas
coisas. Afinal, são também a autoridade monetária, e suas ações são
decisivas na formação dos preços — muito especialmente do preço do
próprio dinheiro. Dito isso, quem era aquele que vimos ontem na TV?
Parecia Dilma, mas se comportava como Cristina Kirchner.
O governo
vem de uma escalada de pressão contra os bancos, tentando forçar a queda
do spread. Dilma não quer ver repetido em 2012 o baixo crescimento do
ano passado. Considera que o governo está fazendo a sua parte (não é bem
verdade), inclusive por intermédio dos bancos públicos, mas que os
privados estão sabotando esse esforço. Muito bem! Digamos que tudo isso
fosse assim mesmo. Será que cabe à presidente, abusando de sua altíssima
popularidade (segundo as pesquisas), satanizar os bancos em rede
nacional? Ora, nem bancos nem setor nenhum da economia ou da sociedade!
Tratou-se de
um discurso completamente fora do lugar. Claramente, o que se via ali
era a líder conclamando o povo a pressionar os bancos. “Por que,
Reinado, bancos não podem ser pressionados?” Ora, claro que sim! Para
tanto existem os partidos, as lideranças políticas, as entidades
sindicais, os tais “movimentos sociais”… Escolham aí os agentes. Uma
coisa eu sei: não cabe ao governante fazer uma intervenção daquela
natureza, muito especialmente no discurso do Dia do Trabalho. A mensagem
foi clara: trabalhador de um lado (e ela junto) contra banqueiros do
outro.
Não deixa de
ser uma ironia da história. Em 2010, escrevi aqui, o PT usou o
“discurso do medo” contra o então adversário, José Serra. Nos
bastidores, o partido explorou a valer, num recado aos banqueiros, o
suposto viés intervencionista do tucano. Por irônico que possa parecer, o
partido de Lula dizia aos “companheiros” do sistema financeiro, ainda
que com outras palavras, o seguinte: “Cuidado! Serra é muito…
esquerdista!!!” Nao é segredo para ninguém que os bancos fizeram uma
escolha: Dilma! Um pragmático poderia dizer que eles fizeram muito bem,
do seu ponto de vista, em escolher o PT: vivem nove anos verdadeiramente
dourados.
Mas sabem
como é… O PT, cedo ou tarde, sempre volta à sua natureza. E Dilma foi
para o confronto, na hora errada, com uma fala errada. “Tá com peninha
dos banqueiros, Reinaldo Azevedo?” Eu? Como disse uma conhecida certa
feita, em matéria financeira (em outras áreas tudo bem!), é indecente
ter pena de alguém mais rico do que você… O que estou criticando é a
inoportunidade do discurso, o tom, a escolha. Qual é efetividade
daquilo?
Corrupção
Dilma também aproveitou o pronunciamento para demonstrar que o governo está acima das lambanças da política — que ela voltou a chamar de “malfeitos”; os corruptos e corruptores foram tratados como “malfeitores”. Com a popularidade nas nuvens — e é evidente que as lambanças no Congresso contribuem para isso —, tratou aquele rolo como “coisa dos outros”, como se a Delta não fosse um problema do governo federal. Tanto é que os petistas e o próprio governo se esforçam para tirá-la da CPÌ, do noticiário, do mundo se possível…
Dilma também aproveitou o pronunciamento para demonstrar que o governo está acima das lambanças da política — que ela voltou a chamar de “malfeitos”; os corruptos e corruptores foram tratados como “malfeitores”. Com a popularidade nas nuvens — e é evidente que as lambanças no Congresso contribuem para isso —, tratou aquele rolo como “coisa dos outros”, como se a Delta não fosse um problema do governo federal. Tanto é que os petistas e o próprio governo se esforçam para tirá-la da CPÌ, do noticiário, do mundo se possível…
Terá Dilma
inaugurado ontem uma nova fase, mais — não vai dar para evitar a palavra
— populista? Uma liderança política com elevadíssima popularidade que
vai à TV, por ocasião do Dia do Trabalho, e decide satanizar banqueiros e
atacar os “malfeitores” pode estar fazendo uma escolha política. Uma
má escolha. Vamos ver.
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