Adeus a Chico Anysio e programas geram debate sobre rumo do humor na TV
"Boni defende sobrevivência de humor humano, como o de Chico Anysio"

A considerar as proporções da comoção nacional em torno da morte de Chico Anysio, na semana passada, é o caso de se perguntar: por que a televisão tanto vasculha novas formas de riso, se aquele formato tradicional de esquetes é o que realmente fica no imaginário popular? Na busca por quem divirta a audiência, todas as grandes redes hoje investem no humor e há vezes em que até tropeçam no mau humor, mas nem por isso as tentativas são em vão.
Alguns poucos tentaram ser discípulos de Chico Anysio, Tom Cavalcante chegou a ser apontado como tal, mas, naqueles moldes de quem cria mais de 200 personagens, nunca houve ninguém que chegasse perto. A fórmula se esgotou? 'Não concordo', diz o empresário José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, responsável pela ida de Chico para a Globo, em 1972.
'O humor humano, com tipos do povo, compostos com alma, sem ser apenas caricaturas, existirá sempre', defende Boni. 'Os personagens do Chico eram todos humanos, cada um existindo de fato e mantendo uma individualidade que os separava do criador. Se Chico tivesse a vitalidade que tinha até pouco tempo atrás, estaria criando novos tipos e modificando continuamente os seus para enquadrá-los na linguagem, comportamento e problemáticas atuais.'
Um dos três responsáveis pela conquista da reconhecida qualidade da Globo, Boni foi quem sugeriu a Chico a exibição diária da Escolinha do Professor Raimundo - e o bordão 'E o salário, ó' foi o mais mencionado pelos populares que foram se despedir do humorista em seu velório. Era o tipo predileto de Chico. Generoso, o mestre era apenas 'escada', sustentação para fazer os outros brilharem.
'O que não se deve esperar é que apareça agora outro humorista criando, escrevendo e interpretando centenas de personagens', defende Boni. 'Mesmo que alguém fosse capaz disso, seria uma cópia do Chico. O que foi feito não precisa ser feito de novo. Chaplin, Harold Llody, Três Patetas, O Gordo e o Magro, os irmãos Max, Monty Phyton, Abbot & Costelo, Golias, Lauro Borges e Castro Barbosa, Dercy Gonçalves, Chacrinha e Chico Anysio são tão fortes que ninguém conseguirá repeti-los. Podem surgir novas coisas, mas têm que ser, obrigatoriamente, coisas diferentes, como todos estes que citei foram no seu tempo.'