Eleito pelo artista plástico Vik Muniz 'embaixador de Gramacho', Tião Santos, de 32 anos, uma vida inteira chafurdada no lixo despejado naquele que é o maior aterro sanitário da América Latina, promete: se Lixo Extraordinário - o filme que coestrela com o artista e seus companheiros catadores - ganhar o Oscar de melhor documentário, 'vai ser o maior mico de todos os Oscars'. Maior até do que o do diretor italiano Roberto Benigni quando venceu A Vida é Bela.
'Sou emotivo. Vou dar um grito, acompanhado de choro. Tenho certeza que vamos ganhar', justifica Santos, presidente da Associação de Catadores de Material Reciclável de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Gregário, articulado e engajado até o último dreadlock, leitor de Nietzsche, Maquiavel e Dan Brown, o futuro sociólogo (ainda vai terminar o Ensino Médio, mas já pensa na universidade), parece um líder natural, aos olhos de quem o observa em ação.
Na última terça-feira, depois de dar oito entrevistas, motivadas pelo anúncio da indicação do filme dos diretores João Jardim, Karen Harley e Lucy Walker (esta, inglesa) ao maior prêmio do cinema, e de posar para o Estado sobre uma montanha de plástico já separado, o presidente da associação conduziu uma assembleia com cerca de cem catadores.
No galpão da entidade, num calor inimaginável, enxugava o suor da testa com a camiseta enquanto tentava conscientizar a plateia sobre a importância da união da categoria. Fundamental neste momento de desativação do aterro, que torna iminente a perda de trabalho para 2,5 mil pessoas, diretamente, e 7 mil, indiretamente (os comerciantes das redondezas), nas contas dos próprios. Consegue-se chegar a R$ 1,2 mil mensais, segundo contam.
'Lá fora, a coleta se deu pela questão ambiental; aqui, foi pela exclusão social', diz Santos, com a experiência de quem já observou de perto o sistema alemão, espanhol e sul-coreano - viajou graças à circulação do filme, premiado nos festivais de Berlim e Sundance.
'O governo acha que somos uma cambada de idiotas. Não pode fechar e acabou', diz Santos. 'Precisamos de uma proposta. São famílias inteiras, com taxa de natalidade de quatro, cinco filhos, e senhoras que trabalharam a vida toda e precisam de uma aposentadoria', explica o catador.
Origem. As filmagens foram há três anos. A ideia de Vik, artista conhecido pela utilização de materiais não convencionais em suas obras, era montar uma série de quadros a partir de objetos coletados no aterro, usando os catadores como assistentes e filmando todo o processo. 'O que mais me impressionou foi a determinação, o empreendedorismo deles. Não quero endeusar ninguém, mas eles conseguem isso mesmo em um ambiente inóspito daqueles', conta o diretor João Jardim.
Ninguém ali imaginava que chegaria tão longe. 'Antes a gente não tinha voz; agora, estamos falando para o mundo todo', orgulha-se José Carlos Lopes, o Zumbi, catador desde criança.
'Nós inventamos uma profissão. É insalubre, mas é melhor do que passar fome. Quando anunciam que vão fechar uma fábrica da Volkswagen, todo mundo se mexe. Se é aqui, ninguém fala nada', lamenta Glória Santos, irmã de Tião. Desde que ele ganhou fama, por conta da parceria com Vik - cujo resultado foi visto também na abertura da recém finalizada novela Passione -, ela faz as vezes de sua assessora de imprensa.
É Glória quem adverte, logo na chegada da reportagem, repetindo a frase-chave do irmão: 'Não somos catadores de lixo, e sim de material reciclável. Quem cata lixo é visto como lixo.' Os dois há anos já não estão no aterro - ficaram na parte administrativa da associação.
O sonho agora é que a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), da capital fluminense, de onde chegam milhares de toneladas de dejetos diariamente, leve a cabo os fundos prometidos para amparar os futuros desempregados.
'Sou emotivo. Vou dar um grito, acompanhado de choro. Tenho certeza que vamos ganhar', justifica Santos, presidente da Associação de Catadores de Material Reciclável de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Gregário, articulado e engajado até o último dreadlock, leitor de Nietzsche, Maquiavel e Dan Brown, o futuro sociólogo (ainda vai terminar o Ensino Médio, mas já pensa na universidade), parece um líder natural, aos olhos de quem o observa em ação.
Na última terça-feira, depois de dar oito entrevistas, motivadas pelo anúncio da indicação do filme dos diretores João Jardim, Karen Harley e Lucy Walker (esta, inglesa) ao maior prêmio do cinema, e de posar para o Estado sobre uma montanha de plástico já separado, o presidente da associação conduziu uma assembleia com cerca de cem catadores.
No galpão da entidade, num calor inimaginável, enxugava o suor da testa com a camiseta enquanto tentava conscientizar a plateia sobre a importância da união da categoria. Fundamental neste momento de desativação do aterro, que torna iminente a perda de trabalho para 2,5 mil pessoas, diretamente, e 7 mil, indiretamente (os comerciantes das redondezas), nas contas dos próprios. Consegue-se chegar a R$ 1,2 mil mensais, segundo contam.
'Lá fora, a coleta se deu pela questão ambiental; aqui, foi pela exclusão social', diz Santos, com a experiência de quem já observou de perto o sistema alemão, espanhol e sul-coreano - viajou graças à circulação do filme, premiado nos festivais de Berlim e Sundance.
'O governo acha que somos uma cambada de idiotas. Não pode fechar e acabou', diz Santos. 'Precisamos de uma proposta. São famílias inteiras, com taxa de natalidade de quatro, cinco filhos, e senhoras que trabalharam a vida toda e precisam de uma aposentadoria', explica o catador.
Origem. As filmagens foram há três anos. A ideia de Vik, artista conhecido pela utilização de materiais não convencionais em suas obras, era montar uma série de quadros a partir de objetos coletados no aterro, usando os catadores como assistentes e filmando todo o processo. 'O que mais me impressionou foi a determinação, o empreendedorismo deles. Não quero endeusar ninguém, mas eles conseguem isso mesmo em um ambiente inóspito daqueles', conta o diretor João Jardim.
Ninguém ali imaginava que chegaria tão longe. 'Antes a gente não tinha voz; agora, estamos falando para o mundo todo', orgulha-se José Carlos Lopes, o Zumbi, catador desde criança.
'Nós inventamos uma profissão. É insalubre, mas é melhor do que passar fome. Quando anunciam que vão fechar uma fábrica da Volkswagen, todo mundo se mexe. Se é aqui, ninguém fala nada', lamenta Glória Santos, irmã de Tião. Desde que ele ganhou fama, por conta da parceria com Vik - cujo resultado foi visto também na abertura da recém finalizada novela Passione -, ela faz as vezes de sua assessora de imprensa.
É Glória quem adverte, logo na chegada da reportagem, repetindo a frase-chave do irmão: 'Não somos catadores de lixo, e sim de material reciclável. Quem cata lixo é visto como lixo.' Os dois há anos já não estão no aterro - ficaram na parte administrativa da associação.
O sonho agora é que a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), da capital fluminense, de onde chegam milhares de toneladas de dejetos diariamente, leve a cabo os fundos prometidos para amparar os futuros desempregados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário