Da esquerda para a direita: Gabriela Buscácio, Maria Antonia Goulart, Maria Lúcia Cautiero, Rosinha Garotinho e Sylvia Jane Crivella (Fotos: Káthia Mello e Marcelo Theobald
Duas advogadas, duas professoras e uma radialista. Uma delas deve ocupar o cargo de primeira-dama do estado do Rio a partir de janeiro de 2015. O
G1 procurou as cinco mulheres cujos maridos são os candidatos mais bem colocados nas pesquisas para ocupar o Palácio Guanabara até 2018 –
Luiz Fernando Pezão (
PMDB), Anthony Garotinho (
PR), Marcelo Crivella (PRB),
Lindberg Farias (
PT) e Tarcísio Mota (
PSOL) – e conversou pessoalmente com quatro delas. Até a publicação desta reportagem, Rosinha Garotinho, que é casada com o candidato Anthony Garotinho e cuja entrevista seria feita por e-mail a pedido de sua assessoria , não havia enviado suas respostas à redação.
Nas entrevistas, as 'candidatas' a primeira-dama contaram curiosidades da vida em comum com os postulantes ao cargo e como participam da campanha eleitoral, e ainda revelaram o que significa ser a mulher do governador do estado do
Rio de Janeiro.
Primeira-dama foi um título criado para homenagear a mulher do quarto presidente americano, James Madison. Ela foi chamada pela primeira vez assim - em inglês, first lady - em um discurso durante seu funeral, em 1849.
Maria Lúcia Cautiero Horta Jardim, 59 anos - Desde abril, ocupa o cargo de primeira-dama do Estado do Rio, quando o marido, Luiz Fernando Pezão, então vice-governador, assumiu o Palácio Guanabara. Se conheceram na cidade de Piraí, Sul Fluminense, onde estudaram. Estão casados há 21 anos. "Nós nos conhecemos desde que tínhamos 10 anos. Cada um seguiu seu caminho e nos reencontramos em janeiro de 1993. Casamos cinco meses depois", conta. Do primeiro casamento, ela tem Eduardo, 35 anos e Roberto, 33.
Maria Lúcia era servidora pública da Prefeitura de Piraí, onde trabalhou como secretária de Fazenda, durante dois mandatos do marido. "Eu já tinha sido secretária de Fazenda de três outros prefeitos. Trabalhei 33 anos no poder público". Para ela, o trabalho como primeira-dama deve ser usado para fazer articulações para as boas políticas públicas. "Esse é o meu desejo. Um exemplo de primeira-dama no Brasil, para mim, é Dona Ruth Cardoso. Eu não quero ter um cargo específico. Nunca quis ter mandato político. Eu quero fazer parte desse processo, visando a melhorar o serviço público e a vida das pessoas".
Eu só chamo ele de Luiz Fernando. Agora eu estou tendo que aprender a chamá-lo de Pezão. Estou fazendo um esforço para me acostumar"
Maria Lúcia Cautiero Horta Jardim
Vivendo há cerca de um ano no Rio, ela se mudou para perto da sede do governo, em Laranjeiras, Zona Sul, para ficar mais tempo com o marido. "Eu sinto falta dele, de estar junto e partilhar mais as coisas. Acordamos muito cedo para ficarmos juntos pela manhã. É o nosso horário", revela.
Sobre a atuação na campanha, ela conta que não se sente muito à vontade para pedir votos. "Eu sempre fui próxima dos prefeitos e sempre entendi essa coisa da atividade pública. Sempre trabalhei voltada para a Fazenda. Sempre tive constrangimento de pedir voto, para dizer a verdade, ainda não sei. É difícil, é quase um parto".
Maria Lúcia revelou como lida com o apelido político do marido."Eu só chamo ele de Luiz Fernando. Agora eu estou tendo que aprender a chamá-lo de Pezão. Estou fazendo um esforço para me acostumar". Ainda sobre o apelido (o candidato calça 48), ela conta que calça 37 e tira proveito disso nas viagens economizando espaço nas malas. "Eu encaixo meu sapato dentro do dele e economizo espaço. No dia que descobri isso eu fiquei feliz, porque dois sapatos dele enchem a mala".
Rosangela Rosinha Garotinho Barros Assed Matheus de Oliveira, 51 anos - Nascida em Itaperuna, região Noroeste do estado do Rio de Janeiro, aos quatro anos Rosinha se mudou com a família para a cidade de Campos, no Norte do estado. Se formou em professora e bacharel em Teologia. Desde a infância, participou de cursos de teatro amador. Aos 16 anos, durante o ensaio de uma peça teatral conheceu Anthony Garotinho, com quem se casou em 1981. Tem nove filhos, sendo sendo quatro naturais: Clarissa, Wladimir, Anthony e Clara.
O casal adotou ainda outros cinco filhos: Aparecida, Altamir, Amanda, Wanderson e David. Tem também tem cinco netos. Ela também trabalhou como radialista em emissoras de Campos antes de entrar na política. Rosinha Garotinho foi a primeira mulher a se eleger governadora do estado do Rio de Janeiro, em 2002. Já tinha exercido o cargo de secretária de Ação Social e Cidadania durante o primeiro governo de Garotinho.
Em 2008, foi eleita a primeira prefeita de Campos. Em 2012, foi reeleita a mais um mandato à prefeitura da cidade. As informações do perfil de Rosinha Garotinho foram publicadas em reportagens do G1 após a eleição dela para a prefeitura de Campos.
Sylvia Jane Crivella, 56 anos - Nascida no Rio de Janeiro, está casada há 34 anos com o candidato pelo
PRB,
Marcelo Crivella. Ainda adolescentes, os dois começaram a namorar quando frequentavam a mesma igreja. Ela conta que ele foi o primeiro namorado dela. Do casamento, nasceram Deborah, 32 anos, Marcelo, 29 anos, e Rachel, 26 anos. É avó de Daniel, 11, e Davi, 6 anos.
Professora de inglês por formação, profissão que escolheu porque é filha e neta de britânicos, também escreveu três livros com temas sobre o universo feminino, como gravidez na adolescência, menopausa e como criar filhos. "Eu tenho uma ONG, 'Mulher que faz', há sete anos. Fazemos um trabalho com meninas grávidas carentes. Nos livros, eu falo sobre essas experiências como mãe e educadora".
Eu não estou andando com ele na rua, mas estou trabalhando em paralelo. Tenho um mapa e saio de porta em porta pedindo votos e falando com todo mundo"
Sylvia Jane Crivella
Sylvia revela que se abalou quando o marido entrou para a política. "Eu senti que meu chão se abriu. Meu Deus, o que vou fazer lá, me sentia um peixe fora d'água. O primeiro ano no Senado foi muito difícil, foi uma novidade mas vencemos.
Ela diz que não se vê atuando como primeira-dama. "Não é meu perfil parecer apenas uma coisa figurativa. Eu me vejo como uma primeira servidora. Eu quero arregaçar as mangas. Eu não tenho medo de entrar em comunidades. Não pensei em cargos, mas já pensei em muitas coisas para fazer, coisas viáveis", conta.
Na atual campanha, Sylvia diz que costuma fazer trabalho de apoio pedindo votos na vizinhança. "Eu não estou andando com ele na rua, mas estou trabalhando em paralelo. Tenho um mapa e saio de porta em porta pedindo votos e falando com todo mundo", diz, acrescentando que o marido costuma solicitar apoio nos discursos. "Ele escreve e sempre pede para eu dar uma lida, uma corrigida, uma dica". Segundo ela, acontece a mesma coisa quando está escrevendo os livros. "Mostro sempre para ele primeiro, costumo dizer que tudo passa pelo crivo do Crivela". Mesmo com a correria da campanha, eles costumam reservar um período do dia para ficar junto. "De manhã, o momento é sagrado. Quando ele chega, também costumamos acompanhar um seriado na televisão".
Maria Antonia Goulart, 39 anos - Casada há 19 anos com o candidato do PT, Lindberg Farias. Gaúcha, radicada no Rio de Janeiro, formada em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela conta que os dois se conheceram na faculdade, mas que o namoro, para valer, começou numa passeata. "Foi na passeata dos anões do orçamento. Eu estava com a minha mãe e ele se aproximou. Demorou um ano para o namoro começar e um ano depois... Casados". Maria Antonia é mãe de três filhos, Luís, 18 anos, Beatriz, 4 anos, e Marina, 2 anos.
Atualmente, divide o tempo entre a família e o comando do site Movimento Down, que criou após o nascimento de Beatriz, que tem síndrome de down. "Quando ela nasceu eu fiquei sabendo como é difícil obter informações básicas sobre deficiência no Brasil. Quando percebi que ao que eu tinha acesso nem todo mundo tinha, fiquei angustiada. Com duas amigas que conheci na internet veio a ideia de distribuir nossas conquistas". Dez pessoas trabalham no site fazendo atualizações das informações para as famílias e profissionais. A página no Facebook tem 150 mil fãs e 100 mil acessos por mês.
O apelido dele de infância é 'Nano'. Todo mundo trata assim na família. Eu nunca usei Lindberg. Até publicamente eu chamo Nano mesmo"
Maria Antonia Goulart
Maria Antonia diz que nesta campanha está sem tempo para passar o dia com o marido em carreatas. "Eu tenho trabalhado muito na campanha na internet. Na medida do possível, eu acompanho e ele sempre me solicita, me envolve e eu participo muito das coisas". Ela foi primeira-dama do município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense (2004-2008) e diz que o cargo tem muito a ver com o momento histórico: "Eu não consigo olhar para essa relação como a esposa que faz figuração ao lado do marido. Isso para mim é algo inconcebível. Para mim, o papel da primeira-dama vem junto com o de companheira, de construção, junto com o marido, de um projeto".
Ela explica como administra o tempo que sobra durante a maratona eleitoral. "É o que dá. As meninas já sabem que papai trabalha muito. A gente tem que aprender a lidar com a vida como ela é." Maria Antonia revela que não trata o marido pelo nome como ele é conhecido na política. "O apelido dele de infância é 'Nano'. Todo mundo trata assim na família. Eu nunca usei Lindberg. Até publicamente eu o chamo Nano mesmo".
Gabriela Cordeiro Buscácio, 39 anos - A professora de História da rede pública, nascida no Rio de Janeiro, é casada há 19 anos com o candidato do PSOL, Tarcísio Motta. É mãe de Vicente, 12 anos, e dos gêmeos Tomás e Ana Flor, de 7. O casal se conheceu na faculdade de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Seis meses depois, se casaram. O gosto pela música também ajudou na aproximação. "Nós somos muito festeiros. Temos um bloco de carnaval, o Bagunça meu Coreto, há 10 anos, na Praça São Salvador, em Laranjeiras. Fizemos uma ocupaçao cultural da praça com ele".
Na tese de doutorado que termina ano que vem, Gabriela escolheu como tema a música. "É sobre o papel do rock e da MPB na política. Como Gonzaguinha e Cazuza cantando o processo de redemocratização política no Brasil na década de 80", explica. Sobre esta primeira disputa do marido a um cargo na administração pública, Gabriela contou que foi uma decisão dos dois: "A gente parou e conversou muito".
Preparamos as crianças. Ele consegue estar com eles em momentos-chave da rotina da casa, pelo menos uma refeição a gente consegue fazer junto."
Gabriela Cordeiro Buscácio
Gabriela já pensou o que faria como primeira-dama do estado. "Nao é um cargo público, não é uma função pública. A ideia da primeira-dama clássica, que sai na foto, vai visitar instituição de caridade, não é o meu perfil. O meu papel é o de pensar na minha contribuição de vida, da minha trajetória de pensar educação, de pensar História e o historiador".
Como exemplo deste perfil oposto ao de uma primeira-dama clássica, ela citou Nair de Teffé, mulher do ex-presidente Hermes da Fonseca. "Ela abre o palácio para os saraus, para o maxixe de Chiquinha Gonzaga e vira um escândalo nacional. Ela está pensando e introduzindo a cultura marginalizada da época. Isso é interessante", conclui.
Gabriela diz que a vida ficou corrida com a campanha, mas que tenta conciliar: "Preparamos as crianças. Ele consegue estar com eles em momentos-chave da rotina da casa, pelo menos uma refeição a gente consegue fazer junto. As oportunidades são aproveitadas pelos dois quando é possível". De longe, ela acompanha a agenda e está sempre em contato. "É mensagem e telefone o tempo todo. Interrompo quando é necessário, eu sempre estou com a agenda dele comigo e ele também sabe a minha", contou.