Escolas particulares de São Paulo têm cancelado as aulas na sexta-feira (28) após a adesão de professores ao chamado de greve geral. O ato foi convocado por sindicatos e outros movimentos sociais contra as reformas da Previdência e das leis trabalhistas promovidas pelo governo Michel Temer.
Alguns colégios tradicionais da capital paulista já divulgaram comunicados às famílias sobre a paralisação. As coordenadorias das escolas têm ressaltado que as aulas serão repostas.
O colégio Santa Cruz, da zona oeste, por exemplo, informou em comunicado que os professores decidiram pela adesão, mas pontuou não concordar com a medida. "Apesar de não apoiarmos a decisão, resguardamos o direito constitucional à greve", diz a nota.
Colégios como o Equipe, Palmares, Lourenço Castanho, Stance Dual, Escola Viva e Santi já anunciaram que não haverá aulas. O Sinpro-SP decidiu parar em assembleia no último dia 8, contra três reformas do governo Temer: terceirização, reforma trabalhista e a previdenciária.
No Lourenço Castanho, zona sul, 70% dos 230 professores decidiram aderir à paralisação, o que motivou a direção da escola, que tem 1.300 alunos, a cancelar as atividades.
"Ontem à noite [segunda-feira, 24] passamos comunicado aos pais. Embora a escola não apoie, não temos outra alternativa a não ser suspender a aula e marcar reposição dessas atividades", disse Silvia Gouvea, sócia da escola. Segundo Gouvea, mais de 15 famílias mandaram mensagens questionando o comunicado.
Nas redes sociais, pais se dividiam em relação à atitude das escolas que decidiram fechar nesta sexta. Alguns consideravam absurdo privar os alunos das aulas, enquanto outros defendiam o protesto.
Nessas escolas, a decisão de engrossar a paralisações contra a reforma da Previdência foi debatida entre os professores nos últimos dias. Além de cancelar as aulas, o colégio Equipe vai promover uma aula pública no Largo Santa Cecília a partir das 11h da sexta.
Segundo Rodrigo Travitzki, professor do Equipe há 15 anos, as conversas entre os professores começaram no fim do mês passado. "Começou com os professores mais jovens e, apesar de a direção inicialmente ser contra, o diálogo foi muito bom", disse. "O esforço nosso foi pensarmos enquanto categoria e enquanto sociedade".
Em nota, o Palmares, zona oeste, informou que optou por suspender suas atividades para garantir segurança dos alunos e da equipe escolar. "Não temos como ter certeza que a movimentação pela cidade se dará de forma segura. Além das categorias que já anunciaram a adesão à greve geral, há confirmação de manifestação no Largo da Batata". A manifestação dos professores no local está prevista para as 15h.
Em 31 de março, docentes de várias escolas particulares deram aulas vestidos de preto, com números colados às suas roupas, indicando a idade com que poderiam se aposentar caso a reforma seja aprovada.
Desde então, o governo desistiu de incluir professores na regra geral para aposentadoria, mantendo o direito de conseguirem o benefício mais cedo do que é exigido dos demais trabalhadores.
CONTRA
A Associação Brasileira de Escolas Particulares divulgou nota afirmando que a adesão dos professores representa "quebra nas relações contratuais". "Importante assegurar que o direito legítimo à manifestação pública não se faça em detrimento do direito de outros cidadãos em garantir a seus filhos a possibilidade de frequentar a escola nos dias letivos previamente marcados."
O Sieeesp (sindicato das escolas particulares) afirmou em nota que "não é favorável, não autoriza e nem apoia a propalada greve dos professores de escolas particulares". "O movimento é apenas uma manifestação da CUT [Central Única dos Trabalhadores] e seus sindicatos afiliados em defesa de seus interesses e causas políticas", diz a nota.
A entidade ainda ressalta que os professores da rede particular que se posicionarem a favor do movimento "poderão ter seu dia de trabalho descontado da folha de pagamento", mas que qualquer atitude contrária fica a cargo das escolas.
O Sinpro-SP não é filiada a nenhuma central sindical. Embora a origem do movimento desta sexta (28) esteja muito identificado com a CUT, o professor José Salvador Faro, do departamento de comunicação do sindicato, diz que no momento já há uma frente sindical de várias centrais. "O Temer conseguiu um milagre com essas reformas: unir as centrais sindicais", comenta.
Segundo ele, os professores têm se mobilizado desde primeira manifestação contra as reformas, no dia 15 de março. O professor diz que o sindicato decidiu usar o termo "greve" em vez de "paralisação", porque o impacto político é maior.
Segundo Faro, o comunicado do Sieesp tem sido usado para intimidar os professores nas escolas. "Muitas colocaram o papel ao lado do livro de ponto, mas não colocaram o comunicado do Sinpro. Parece uma forma de intimidação."
Por causa do grande aumento de consultas de professores, o sindicato criou um serviço telefônico apenas para tirar dúvidas trabalhistas ou administrativas sobre a greve do dia 28. Segundo Faro, há preocupação sobre o que pode ser descontado do salário e se há algum tipo de sanção caso o professor falte nesse dia.
Outro motivo para a linha especial, diz ele, é distribuir o material produzido para esta sexta: panfletos, camisetas e broches.
Em paralelo com o sindicato, um grupo de professores que afirma ter "organização horizontal" (sem liderança nem hierarquia formal) organiza a paralisação do docentes por meio de redes sociais. Reunindo desde 2014, os professores organizaram assembleias em separado dentro de cada uma das escolas em que trabalham, para reforçar a adesão e tentar convencer os estabelecimentos a fechar as portas nesse dia em apoio ao movimento.
Algumas unidades, como o colégio Anália Franco, na zona leste, e Stockler, zona sul, informaram que vão manter as atividades, mas usar o dia para debates sobre as reformas.
Professores da rede pública também anunciaram adesão à paralisação do dia 28.