Força-tarefa procura donos de dez mil indenizações contra o consórcio Goodway, de veículos, que fez sucesso nos anos 1980 e deixou muita gente na mão em 1995
Uma busca implacável aos donos de 10.370 indenizações do consórcio Goodway, que faliu em 1995. Na 4ª Vara Empresarial, a massa falida tem à disposição R$ 45 milhões para pagar a quem comprou veículos em 50 meses, com lances a partir do 25º mês, na década de 80, mas não recebeu por causa da falência judicial. O patrimônio da empresa vai aumentar em no mínimo R$ 2,5 milhões, quando o último imóvel — um apartamento no Atlântico Sul, na Barra — for leiloado dia 25 de agosto. Mas parte da grana pode retornar aos herdeiros de Francisco Mário de Barros e Espólio de Ascendino Barros Sobrinho, sócios do consórcio, se os beneficiários não forem localizados.
Para quem pode estar no grupo, capaz de abocanhar valores que variam de R$ 70 a R$ 27 mil em plena crise, a Justiça, o Ministério Público e os administradores da massa falida, do escritório MVB Consultores Associados, montaram call-center com os números com o DDD 21 97639-4929 (Claro); 98530-7237 (Nextel); 96529-2096 (TIM) e 96785-3658 (Vivo) para atender os beneficiários, de segunda-feira a sexta-feira, das 9h30 às 12h30 e das 13h30 às 18h. Há ainda a opção de acesso ao site www.mvbgoodway.com.br e a página do Facebook, ‘Consórcio massa falida Goodway’.
“As pessoas precisam comprovar com documentos que compraram o consórcio”, afirmou o juiz Paulo Assed Estefan, da 4ª Vara Empresarial. Para ajudar a localizar os donos dos créditos, o Banco Central foi notificado para enviar toda a documentação da época. Mas, por enquanto, o banco só enviou a lista de nomes sem os CPFs. “O que dificulta muito em função dos homônimos. Voltamos a pedir tudo que o BC tem a respeito de quem fez o consórcio”, explicou o promotor Leonardo Marques. A lista de nomes entregue à Justiça consta no processo sob o número 0001449-64.1995.8.19.0001.
Promotor Leonardo Marques procura atualizar a lista dos credores a partir dos dados enviados pelo Banco Central. Mas a instituição não informou CPFs, “o que dificulta muito em função dos homônimos”. Foto: Márcio Mercante / Agência O DIA
O Banco Central interveio no consórcio em 1986 ao identificar que havia má gestão. Em 31 de julho de 1995, a pedido dos sócios, o juiz José Carlos de Figueiredo, da 8ª Vara de Falências e Concordatas da Comarca da Capital, decretou a falência. Hoje, o caso está na 4ª Vara Empresarial. Isso porque foi identificado que a Barros e Barros Administradora de Consórcio Ltda, dona da Goodway, tinha um rombo de R$ 19,2 milhões. “Vários credores, como os trabalhistas, já receberam. O esforço é para encontrar os outros”, afirmou Carlos Alexandre Machado Neuman, um dos administradores da massa falida.
Credores fazem queixa de valor defasado
“Nunca esqueci esse consórcio. Guardei toda a documentação e acompanho o processo. Minha filha tem 25 anos e nem sequer sabia”, revelou a aposentada Suzanna Brasileiro de Mello, de 54 anos, que viu na década de 80 ruir o sonho de comprar o primeiro carro, um Fiat Uno.
Ela entrou no consórcio quando a moeda era Cruzeiro. De lá pra cá, passou pelo Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro novamente, Cruzeiro Real, até o Real de hoje e tem a receber R$ 6.627,73. “Não dá para nem pensar em comprar carro”, reclamou.
Segundo José Vianna, um dos administradores da massa falida da Goodway, o Call-Center recebeu 100 telefonemas, e 24 pessoas se habilitaram para receber suas indenizações. No fim do mês, a lista será encaminhada à 4ª Vara Empresarial, e os pagamentos começarão a ser feitos após o recesso do Judiciário em função da Olimpíada, no fim de agosto. A baixa indenização aborrece Miquelina Pereira Ferreira de Matos, 69, que tem direito a R$3.800,13. “Não compro nem bicicleta”, protestou.
Quantia a receber ainda pode dobrar
Os valores que serão pagos aos credores são baixos porque foram corrigidos até 1995, quando foi decretada a falência, como determina a lei. Na primeira rodada de pagamentos, cada beneficiário recebe 50% do que teria direito. “Eles podem receber mais 50% à medida que forem feitas novas rodadas de rateio”, explicou José Vianna.
Paulo Estefan, juiz da 4ª Vara Empresarial, que, junto com o Ministério Público e o escritório MVB, administra o pagamento das indenizações, alerta para que se junte toda a documentação possível. Foto: Márcio Mercante / Agência O DIA
A massa falida mantendo a capacidade de pagamento, credores que apareceram podem ter os valores corrigidos até hoje. “Tentamos achar todos. Mas se eles não aparecerem, novos rateios são feitos com quem se habilitou. E o que sobrar volta para os herdeiros dos sócios”, esclareceu. A Goodway operou no Rio, São Paulo e Minas Gerais. Anúncios sobre pagamentos foram publicados em jornais.