O Jornalista Dr. João Rabello Lima e Souza representou o Blog do Guilherme Araújo na posse da presidente Dilma Rousseff que usou o discurso em que recebeu o diploma para o seu segundo mandato para fazer um discurso em defesa da Petrobras, alvo da Operação Lava-Jato, que revelou um esquema de desvios bilionários na maior estatal do país e levou à prisão antigos executivos da empresa. Na cerimônia de diplomação, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dilma afirmou, em discurso de quase 17 minutos, que lutará de todas as formas contra a corrupção e prometeu implantar a “mais eficiente estrutura de governança e de controle que uma empresa estatal já teve”. A oposição reagiu, pondo em dúvida as medidas moralizadoras e cobrando ação da presidente.
Alguns funcionários da Petrobras, que tem sido e vai continuar sendo o nosso ícone de eficiência, brasilidade e superação, foram atingidos no processo de combate à corrupção. Estamos enfrentando essa situação com destemor e vamos converter a renovação da Petrobras em energia transformadora do nosso país, afirmou a presidente, completando: A Petrobras já vinha passando por um vigoroso processo de aprimoramento de sua gestão. A realidade atual só faz reforçar nossa determinação de implantar na Petrobras a mais eficiente estrutura de governança e controle que uma empresa estatal já teve no Brasil.
CARÁTER NACIONAL DA EMPRESA: Apesar de reconhecer a necessidade de se apurar com rigor os casos de corrupção para que eles não se repitam, Dilma defendeu o papel estratégico da estatal na economia brasileira.
O saudável empenho de justiça deve também nos permitir reconhecer que a Petrobras é a empresa mais estratégica para o Brasil e que mais contrata e investe no país. Temos que saber apurar e saber punir, sem enfraquecer a Petrobras, sem diminuir sua importância para o presente e para o futuro. Temos que continuar apostando na melhoria da governança da Petrobras, no modelo de partilha para o pré-sal e na vitoriosa política de conteúdo local, disse Dilma, que enfatizou:
Temos que punir as pessoas, não destruir as empresas. Temos que saber punir o crime, não prejudicar o país ou sua economia.
Dilma fez uma defesa enfática do caráter nacional da estatal.
Temos que continuar acreditando na mais brasileira das nossas empresas, porque ela só poderá continuar servindo bem ao país se for cada vez mais brasileira. A Petrobras e o Brasil são maiores do qualquer problema, do que quaisquer crises e, por isso, temos a capacidade de superá-las. E delas e deles, sair melhores e mais fortes.
A presidente conclamou sociedade e políticos a um pacto contra a corrupção.
Chegou a hora de firmarmos um grande pacto nacional contra a corrupção, envolvendo todos os setores da sociedade e todas as esferas de governo. Esse pacto vai desaguar na grande reforma política que o Brasil precisa promover a partir do próximo ano.
Dilma enfatizou que a corrupção não é exclusividade de partido, instituição ou de “quem compartilha momentaneamente do poder”.
A corrupção, como todos os pecados, está entranhada na alma humana. Não é exclusividade de um ou outro partido, de uma ou de outra instituição. Trata-se de um fenômeno muito mais complexo e resiliente. Estamos purgando, hoje, males que carregamos há séculos, afirmou.
Dilma mandou recado à oposição ao afirmar que uma disputa democrática não pode ser vista como uma guerra.
O povo escolhe quem ele quer que governe e quem ele quer que seja oposição. Cabe a quem foi escolhido para governar, governar bem. Mais importante do que saber perder é saber vencer porque quem vence com o voto da maioria e não governa para todos transforma a força majoritária num legado mesquinho.
Dilma afirmou que na sua posse, em 1º de janeiro, detalhará as medidas econômicas que serão tomadas pelo governo para garantir mais crescimento e desenvolvimento para o país. Ela garantiu que a economia irá se recuperar “mais rápido do que muitos imaginam”.
A presidente fez referência à Comissão da Verdade, que recentemente divulgou seu relatório final, dizendo que com o atual nível democrático que o país passa, não há mais espaço para temer a verdade.
Temos a felicidade de estarmos vivendo num país onde a verdade não tem mais medo de aparecer. Um país que não tem medo de discutir os crimes de arbítrio durante a ditadura também não tem medo de expor e punir as mazelas da corrupção.
Após o discurso de Dilma, o presidente do TSE, Dias Toffoli, fez uma crítica indireta ao PSDB, que após o resultado das urnas chegou a pedir a recontagem dos votos e que ontem entrou com ação pedindo a cassação do mandato da presidente por abuso de poder político e econômico.
As eleições de 2014 são uma página virada. Não haverá terceiro turno na Justiça Eleitoral. Que os especuladores se calem, não há espaço para terceiro turno que possa a vir a cassar os votos dos 54 milhões de eleitores, disse Toffoli.
OPOSIÇÃO COBRA MAIS AÇÃO: A oposição reagiu nesta quinta-feira ao discurso de Dilma. Segundo parlamentares ouvidos pelo BLOG DO GUILHERME ARAÚJO, a presidente não diz a verdade quando afirma que decidiu adotar medidas moralizadoras na Petrobras por iniciativa própria.
Essas declarações são de um cinismo difícil de medir. Ela vem a público dizer que está combatendo a corrupção? Quem pode acreditar nisso. Eu, que estou no Congresso, sei como foi difícil (investigar a Petrobras). As coisas só começaram a mudar depois da Operação Lava-Jato, afirmou o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy.
Segundo o deputado, o governo dificultou o quanto pode a apuração das primeiras denúncias sobre corrupção na Petrobras. O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), também criticou o discurso da presidente. Para ele, não bastam palavras. Dilma deveria adotar medidas concretas como, por exemplo, a demissão da diretora da Petrobras, inclusive da presidente da estatal Graça Foster.
Está caindo a ficha dela. Mas não basta só falar e reconhecer. É preciso agir, renovar toda a diretoria que foi destruída por aparelhamento politico. É preciso garantir a independência na gestão para restaurar a credibilidade, defendeu.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acompanhou a cerimônia de diplomação afirmou mais cedo, em evento no Ministério da Justiça, que a situação da presidente da Petrobras, Graça Foster, é um problema de Dilma. Perguntado se Graça deveria deixar a Petrobras, Lula respondeu:
Não acho nem desacho. Esse é um problema da Dilma, não é meu. A Petrobras tem muita força, gente, respondeu Lula, após discursar, cercado de seguranças do Ministério da Justiça.
O governo quer transformar a festa da posse de Dilma num grande ato de apoio popular e político à presidente reeleita. Para lotar a Esplanada em 1º de janeiro, o PT está convocando militantes e organizando caravanas de todo o país.