Especialistas afirmam que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demorou ao detectar e divulgar o erro dos dados, embora a ação tenha mostrado integridade por parte dos pesquisadores. No entanto, também reservam críticas à metodologia.
O professor Marcos Fernandes, do curso de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), disse que o Ipea é uma instituição renomada, mas que está perdendo credibilidade. "É uma fato grave que deveria ser um pouco mais investigado e estudado." Ele criticou a metodologia adotada na pesquisa. "As perguntas têm de ser muito bem feitas, senão, você enviesa a resposta."
Para o professor, o resultado já havia ficado comprometido antes de a inversão dos números vir à tona. "O problema desse trabalho é que ele parece mais guiado por ideologia do que pela ciência. E é muito perigoso quando um instituto de pesquisa permite ser mais guiados por interesses políticos e ideológicos do que pela pura pesquisa para identificar características básicas de como a sociedade brasileira se organiza, de como os brasileiros pensam, sobre suas crenças, e assim por diante", explicou o professor.
Fernandes destacou a repercussão que o dado incorreto causou. O resultado de que 65% acreditam que mulheres com roupas curtas merecem ser atacadas, para o economista, "gerou crenças no âmbito da ciência, da política e da psicologia social, além de debates e programas de televisão, tendo uma visão enviesada do brasileiro e da brasileira".
A professora de Matemática e Estatística da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Cileda de Queiroz e Silva Coutinho considerou, antes de tudo, que o instituto teve "decência e honradez" ao reconhecer o erro.
"Toda análise de dados pode ter problemas. O cadastramento de variáveis é feito por humanos, que estão sujeito a erros. Foi importante que o Ipea recuasse, ao contrário do que muita gente faz", afirmou a professora, que citou pesquisas eleitorais como exemplo de grande incidência de erros.
Por outro lado, segundo Cileda, não é justificável a falta de checagem nem a demora em divulgar a incorreção. "Antes de publicar, tem de fazer uma verificação e, para evitar erros, você faz mais de um tratamento com os dados. O instituto falhou em não fazer todas as checagens."