Em janeiro o Facebook convocou a imprensa para apresentar a sua então última novidade: a Busca Social. Mark Zuckerberg prometia revolucionar um ponto que, desde a concepção do Facebook, sempre foi deixado em segundo plano pela empresa. Semana passada tivemos acesso ao recurso e pudemos experimentar e dar um veredito. É tudo isso mesmo?
Um dos grandes problemas do Facebook é a efemeridade do conteúdo publicado ali. É muito difícil encontrar um atualização publicada há dois meses ou mais. O conteúdo é soterrado por novidades e, nessa, redescobrir alguma coisa torna-se uma tarefa muito, muito difícil. A busca, que seria o atalho mais simples para tudo o que já foi publicado no Facebook, nunca cumpriu seu papel. Ela funciona bem para encontrar pessoas, graças às relações que você já tem lá e alguns filtros básicos — e, nessa, o Facebook mostra que só é bom mesmo em conectar gente. Para outros fins? Um desastre.
Não conte com ela enquanto não tiver a Busca Social. A Busca Social é incrível. E ainda assim não resolve esse problema de garimpo de informações. Não é para isso, não é como a busca de um blog, ou como o Google. A Busca Social se destina a vasculhar as conexões existentes dentro da rede com uma profundidade sem igual na indústria. Não é pouca coisa: estamos falando de um trilhão de conexões realizadas por um bilhão de pessoas. Números superlativos. Pela primeira vez esse poder chega às mãos dos usuários comuns e é, além de algo extremamente poderoso, bastante divertido.
Como é a Busca Social?
Quando seu perfil recebe a Busca Social, um pequeno tutorial é exibido no primeiro acesso. Ele desnecessariamente mostra o cabeçalho modificado e, com alguns balões, explica o que você pode fazer ali.
O cabeçalho muda radicalmente. O nome “Facebook” transforma-se no ícone, aquele característico quadradinho com o um “F” dentro. Ao lado dele, o campo de busca diz “Escreva para pesquisar por pessoas, lugares e coisas”. A marca está consolidada, logo não é preciso informar didaticamente que você está no Facebook. As pequisas geram mais sinais para que o Facebook refine os relacionamentos que existem ali dentro. Faz sentido inverter as prioridades e ressaltar o campo de busca naquele espaço.
As notificações vão para o outro lado; no início, é difícil de se acostumar com isso. Anos condicionado a levar o mouse para o lado esquerdo da tela precisam ser esquecidos; o novo local para saber quem adicionou você, para ler mensagens e para saber das últimas agora fica do outro lado, na direita. Clicando no campo de busca, o “F” vira uma lupa e um menu se expande para baixo. Com ícones coloridos e sentenças básicas oferecidas como exemplos, ou pontos de partida, ele já dá uma boa ideia do que pode ser feito com aquilo ali.
A pesquisa é flexível e natural. Há diversos parâmetros disponíveis e eles podem ser combinados para gerar resultados mais precisos. Dá para pesquisar por pessoas, amigos, amigos de amigos; por resultados em fotos, curtidas e check-ins; filtrá-los por data ou locais. Uma infinidade de combinações que mostram uma parte do quanto o Facebook sabe de nós.
As relações e intersecções entre duas ou mais pessoas também são bem apetitosas. Sua alma gêmea pode estar ali e, se você é desses que refuta a ideia de que os opostos se atraem, pesquisas como “filmes/músicas/livros/lugares que fulana e eu curtimos” funcionam perfeitamente. Verificar o (mau) gosto da pretendente com “amigas solteiras que gostam de Crepúsculo” também pode ser uma boa. Jackson Gariety usou a Busca Social e um pouco de programação para filtrar mulheres que estudaram na mesma escola que ele e que tinham potencial para algo mais. E funcionou. “As informações que colhi sem o uso de uma API são só a ponta do iceberg”.
Um aspecto que curti muito da Busca Social é o poder de lidar com fotos. É fácil filtrar fotos onde apareçam algumas pessoas e tiradas em datas e/ou locais específicos. Com a ajuda do atributo temporal (“antes de 2012″, “em abril de 2011″), a pesquisa proporciona pequenas viagens no tempo, traz de volta fotos que você nem se lembrava de ter visto e outras que, devido à curadoria automática que o Facebook faz no seu feed de notícias, não tinha visto mesmo. Pena que as fotos de memes e flyers de festas com “pessoas” marcadas poluam essa área tão bacana. Se você marca pessoas em fotos onde essas pessoas não estão, apenas pare. É sério.
Tudo isso surge na sua frente de forma quase espontânea — e com uma velocidade assombrosa. Não é preciso aprender uma sintaxe para extrair todo o poder da Busca Social, você escreve naturalmente e a caixa de busca “ajusta” o termo na primeira linha de sugestões — que é promovida automaticamente ao campo principal com um simples Tab seguido do Enter.
Não é raro pular de busca em busca usando pequenas variações, umas vindas da sua imaginação, outras sugeridas pelo próprio Facebook. Na lista da caixa de busca, no final da página de resultados, em vários locais mais e mais sugestões aparecem. Do lado direito, um formulário com vários parâmetros para refinar ou estender os resultados.
É tudo muito fácil e intuitivo. Interessante demais. E é, também, meio assustador. Porque tudo que antes ficava relegado à coluna lateral do seu perfil ou, se muito, era só mais uma entre tantas atualizações efêmeras que povoam o feed de notícias de alguns dos seus contatos, agora fica escancarado, para sempre. “Amigos que estudaram no completo” e “amigos homens casados que se interessam por homens” retornaram resultados que, claramente, foram frutos do preenchimento ingênuo ou acidental de campos do perfil. Por essas e outras ninguém vai te recriminar se você quiser blindar sua conta contra a Busca Social, ou mesmo sair do Facebook. Por outro lado, quanto mais gente entrar na brincadeira, mais bacana é a experiência. Só não se esqueça de dar uma revisada no seu perfil antes que esse negócio esteja disponível para qualquer um.
Boa, mas ainda há o que melhorar
O poder da Busca Social depende do quão ativo o usuário é ali dentro, ou do quão seus contatos são. Boa parte da graça está no que as pessoas curtem: bandas, filmes, séries, sites, marcas; todas as consultas que evocam um verbo (“curte”, “ouve”, “joga”, “lê”) dependem de curtidas. Check-ins também são bem importantes. Fecha o círculo as relações entre elas — amizades, namoros, casamentos.
Apesar de já estar usável e de trazer resultados para praticamente todas as consultas, a Busca Social ainda está em formação e tende a melhorar com o uso. Ela não entende negativas, logo, pesquisas como “amigos que gostam de samba mas não de pagode” dão erro. Quando se coloca no termo condições de relacionamentos (“amigas solteiras que curtem o Gizmodo Brasil”), o site avisa, no final, que pesquisas baseadas nisso ainda estão em fase de construção. “Você talvez veja mais resultados aqui no futuro”, alerta.
Não sei precisar o impacto que a Busca Social pode ter em mecanismos de pesquisa mais convencionais, como o Google. O Facebook se apresenta como algo mais pessoal, calcado nos seus amigos e no que eles fazem. Para isso, é legal descobrir restaurantes que quem conhecemos gostam, ou os filmes e jogos e músicas que eles endossam. Essa é uma parcela do que um site de busca completo é capaz de fazer. Uma parcela importante, porém — tanto que, para ter algo nesse nível, o Google inventou o Google+.
A Busca Social do Facebook continua sendo distribuída a conta-gotas e mexe com o uso do site. Mata curiosidades, permite refinar seus contatos a níveis que, até então, somente programadores com acesso à API tinham acesso. Entre redesigns e novos apps para smartphones, a Busca Social parece ser a novidade mais significativa do Facebook em anos. Ela atinge o raro equilíbrio entre poder e facilidade, além de ser útil. Muita gente vai reclamar, mas é como dizem por aí: se está na chuva, é para se molhar.