Colunista compreende que é de conotação racista a cobertura da mídia no que envolve os ‘banheiros de luxo’ de Joaquim Barbosa. “O ministro tem a minha solidariedade contra o racismo, base da suposta denúncia dos banheiros de luxo”, afirma
Depois que o dr. Joaquim Barbosa foi sagrado ministro do STF, não escrevi sobre ele. Reconheço seus méritos intelectuais, conquistados com sacrifícios impensáveis. No concernente à moralidade e à ética, ele não deveria estar lá. Os motivos, relatarei abaixo.
Na aventada imoralidade dos banheiros de luxo (“STF gasta R$ 90 mil em reforma para Joaquim Barbosa”, Andreza Matais e Rubens Valente, FSP, 20.4.2012), vou defendê-lo. Entendo que a base do achincalhamento é de cunho racista. A mensagem subliminar é que é interditado a uma pessoa negra atender às suas necessidades fisiológicas em banheiros decentes – negros não devem sair do tempo do penico de latão (para a aristocracia, era de porcelana) -, já que dizem que “negro, quando não caga na entrada, caga na saída”. Dispensa banheiro.
O governo federal mantém habitações funcionais. Posso discordar da regalia, mas ela é legal. Cuidar, com dinheiro público, para que não se deteriorem, é dever do governo. Quando a ministra Ellen Grace instalou uma hidromassagem, a mídia tentou dar faniquitos. Ela, tranquilamente, disse: “É claro que vou colocar uma banheira lá. E tem de ser paga com dinheiro público porque ela vai estar num apartamento público”. Assunto encerrado. Era 2005, e a reforma do apartamento custou R$ 133 mil.
O estopim curto do ministro JB, sobre reforma similar e mais barata, sete anos depois, explodiu ao ser perguntado, por Felipe Recondo, do Estadão. Perdendo a compostura, o chamou de “palhaço” e mandou que fosse chafurdar no lixo. O Estadão silenciou, mas a FSP, em 20.4.2013, estampou: “STF gasta R$ 90 mil em reforma para Joaquim Barbosa”.
Para JB? Ora, me compre um bode! O assunto caiu na web, e muita gente insuspeita caiu na armadilha racista. Contraditoriamente, os dois jornais elevaram JB à posição de Deus no julgamento do mensalão, mas ele ter direito de usar banheiros de luxo é inaceitável!
Na indicação de JB ao STF, eu e umas três feministas negras fomos contra nas “listas raciais”. Primeiro, ele bateu na esposa, à época, funcionária do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, inclusive com registro de BO no DF. Lula soube e manteve o nome, argumentando que a ex-esposa enviara carta inocentando-o, com o mesmo teor dito à imprensa, que “apanhou de meia”: “Na verdade, houve uma agressão mútua. Isso aconteceu num dia de ânimos acirrados. Somos amigos até hoje” (Enfim, um negro chega lá, Veja, 14.4.2003).
Lula foi cúmplice, corroborando o dito pelo saudoso poeta negro Arnaldo Xavier: “O único espaço de cumplicidade efetiva existente entre o homem negro e o homem branco é o machismo”. Exigíamos que JB declarasse arrependimento. Ele e Lula não deram a menor pelota pras ziquiziras das feministas!
O segundo motivo: sou testemunha dos ânimos violentos do ministro. Em Santiago do Chile, na Preparatória Latino-americana de Durban (2000), JB, por motivo fútil, partiu pra cima do hoje jurista e ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo Hédio Silva Jr.
Quem foi pro sopapo foi JB, o outro se defendeu. Imaginem como fiquei tentando separá-los! Um espetáculo deprimente visto por várias negras brasileiras. Ali, soube que JB havia batido em sua mulher. Ali, selei a opinião do destempero dele, portanto, achei a sua indicação para o STF inadequada.
Não tenho motivos para louvá-lo, pois compactuar com violência de gênero e índole violenta fere meus princípios, mas ele tem a minha solidariedade contra o racismo, base da suposta denúncia dos banheiros de luxo.