O material foi distribuído nas 91 escolas para que os cerca de 4 mil professores trabalhem com os 56 mil alunos matriculados na rede municipal de ensino. E, provavelmente, nas quase duzentas creches conveniadas, mantidas com recursos da Prefeitura, que atendem mais de 14 mil crianças. Um público potencial de cerca de 70 mil famílias. O pretexto utilizado foi o aniversário da cidade, a comemoração dos 240 anos de Porto Alegre. A publicação se intitula “Um dia na família Porto” e se trata da mais descarada propaganda que um governo se atreveria fazer.
Elaborado como um gibi, em cores, a estória começa numa sexta-feira e retrata um dia na vida de uma família da capital. A mulher acorda indisposta e o marido recomenda que ela vá ao posto de saúde próximo. Lá chegando, sem precisar de agendamento prévio e ficha ela e o seu bebê tem um atendimento exemplar. Em seguida, na volta do posto junto com o marido e os filhos que estudam, aguardam o ônibus que chega rapidamente os transporta para os destinos desejados. Ora, a imprensa noticia diariamente os problemas dos postos e demais serviços de saúde: superlotação, médicos descumprindo horários, filas para obter uma ficha de atendimento após horas de espera. As reclamações sobre o transporte coletivo começam pela tarifa, uma das mais caras do país e que dobrou de preço desde o início do Plano Real, além do péssimo serviço.
Chegando à escola as crianças estão protegidas pela “faixa segura”, a famosa campanha da “mãozinha”. Campanha meritória, é claro, infelizmente muito mal feita: não mudaram os hábitos dos motoristas que, em expressivo número, desrespeitam os sinais de trânsito e a faixa dos pedestres.
Os alunos da rede municipal –informa o gibi -têm computadores à disposição, turno reverso que proporciona atividades complementares – esportes, recreação – para todos. Uma verdadeira maravilha! Uma pena que não seja verdade: sabe-se, ao contrário, do que a propaganda oficial afirma, que o turno inverso não existe na maioria das escolas e que a mais importante iniciativa para ampliá-lo, o convênio com o Instituto Ronaldinho Gaúcho, está sendo investigado pelo Ministério Público por indícios de desvios e superfaturamento.
O gibi informa o “grande orgulho da cidade” que no ano de seu 240º aniversário está “alegre e feliz” por ser sede dos jogos da Copa. As obras para o grande evento têm ritmo acelerado e o melhor, geram um grande número de empregos. Ledo engano: as grandes obras viárias da Copa e a ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho registram um grande atraso, estão em fase de projeto e apenas algumas – poucas – estão começando.
O gibi do Fortunati esqueceu de dizer que o seu governo prometeu investir no ano passado em obras na cidade 668 milhões e efetivamente aplicou menos de metade, apenas 290 milhões. Nos projetos viários da Secretaria de Obras (SMOV), foi previsto destinar 162 milhões e foram efetivamente investidos 16 milhões, ou seja, apenas 10%. Certamente um desempenho que não pode ser motivo de orgulho ou de exaltação.
A coleta de lixo, domiciliar e seletiva é, no gibi-propaganda de Fortunati, um primor. Mais uma irrealidade: 2011 foi, certamente, o pior ano de coleta da cidade nos últimos vinte anos. A empresa responsável pela coleta faliu e foi substituída às pressas por uma nova empresa, sem licitação. O gibi esqueceu, também, de falar no déficit do DMLU que este ano deve ultrapassar os 100 milhões de reais.
O governo municipal é um primor, a cidade quase um paraíso, mas há um problema a ser duramente combatido: o vandalismo. Maus cidadãos destroem orelhões, quebram lâmpadas, destroem as paradas de ônibus, impedindo que o portoalegrense seja totalmente feliz. O gibi esquece que poder público tem por função fiscalizar e é totalmente omisso.
E, para finalizar a estória, a esposa complementa sua renda auxiliando na escrita de uma das bancas do camelódromo, outra “grande iniciativa” do governo Fo-Fo. Decerto numa das bancas que ainda continua aberta. A imprensa tem amplamente noticiado que o elevado preço cobrado pela empresa privada que explora aquele equipamento público está, paulatinamente, reduzindo o número de bancas em atividade.
É claro que a estorinha tem final feliz. O marido se despede da mulher e vai para uma das reuniões do OP. O Gibi-propaganda se esqueceu de dizer que Fogaça destruiu o OP e que tardiamente Fortunati- com escasso sucesso – está tentando reanimar o falecido. Infelizmente numa ótica aparelhista, antidemocrática..
Não há qualquer dúvida: com a publicação e veiculação deste material escandalosamente propagandístico, e pago com dinheiro público, Fortunati começa antecipadamente a campanha eleitoral de 2012.
Tema para denúncias futuras que deverão ser apuradas pelo Tribunal de Contas e pelo TRE/RS.