Construímos uma vida juntos. Decidimos morar sob o mesmo teto, após um ano de namoro. Assinamos uma certidão de união estável, que assegura todos os direitos de um casal casado. Primeiro fomos para um apezinho apertado. Depois, arrumamos uma bela casa com quintal, árvore, cachorro. Parecia um albergue, onde abrigávamos amigos e familiares. Continuamos a andar com a mesma galera, sempre unida. Sentia-me realizada, ao seu lado. Pudemos realizar alguns dos nossos fetiches. Anos mais tarde, mudamos de cidade, os dois juntos, atrás de novas perspectivas profissionais. A gente nem imaginava viver qualquer outra relação. Esse pacto de amor funcionava bem entre a gente.
Franklin Veaux adverte que existe o mito de que poliamor é um tipo de relação amorosa mais evoluída. Na verdade, a forma de relacionamento preferencial nada tem a ver com conhecimento ou evolução mental. De fato, com a quebra de instituições da sociedade moderna, como família e igreja, mais pessoas têm experimentado novas concepções de envolvimentos afetivos. As mudanças sociais observadas com esse movimento estão sendo chamadas de Nova Revolução Sexual.
É preciso evitar certos males do nosso tempo. O teórico da pós-modernidade Zygmunt Bauman cunhou o conceito de amor líquido para denominar um dos sintomas da sociedade pós-moderna. É um amor “até segundo aviso”, que segue o padrão dos bens de consumo: dura apenas enquanto trouxer satisfação. Enquanto vivemos em ansiedade permanente, tendemos a substituir qualidade por quantidade. As nossas próprias angústias reforçam a liquidez dos relacionamentos e se tornam ameaças à perenidade das relações humanas.
No nosso caso, não foi ninguém nem nenhum tipo de egoísmo material que nos separou. Nenhuma crise de ciúmes nunca foi tão séria a ponto de ameaçar a continuidade do nosso amor. Mas o destino nos proporcionou surpresa difíceis de lidar. E relacionamentos afetivos são sistemas complexos, há muitas variáveis envolvidas. Enquanto que poligamia não era um problema para nós – apenas mais um aspecto divertido da nossa relação –, certas adversidades da vida deram conta do nosso fim.
Narrei um tipo de casamento liberal, que vivi no decorrer de cinco anos. Depois disso, tive ainda outro namoro poligâmico, esse mais curto – durou apenas um ano. Ambas as relações se estabeleceram de forma diferente e tinham regras distintas. Não há moldes predefinidos aos relacionamentos. Sinto-me mais confortável em envolvimentos sem grandes limites, você pode ser diferente. Já viveu um relacionamento aberto? Em que ele se parecia com o meu?