De acordo com um recente balanço da secretaria estadual de Saúde, produzido com base em dados da Fundação Seade, em 11 anos, o número de crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos grávidas no Estado de São Paulo caiu 37% na região do Vale do Paraíba.
De 1998 a 2009 (último dado consolidado), a queda vem sendo freqüente. Em 1998, foram registrados cerca de oito mil casos de gravidez em adolescentes nas 40 cidades do Departamento Regional de Saúde; 11 anos depois, esse número baixou para aproximadamente cinco mil.
Na região, apenas Caraguatatuba registrou um ligeiro aumento de nascidos vivos de mães adolescentes a partir de 2008, sendo a média, de acordo com o Sistema de Informação de Atenção Básica (Siab), de 100 adolescentes grávidas por ano, número que era menor de 2000 a 2007. De acordo com Sheila da Silveira Barbosa, diretora de Assistência a Saúde do município, foram 116 grávidas em 2008; 100 em 2009; e 99 em 2010. “Este ano, já temos 101 jovens grávidas, número que deve aumentar”, diz Sheila.
Segundo ela, antes de 2008, a faixa etária das gestantes adolescentes era de 15 a 19 anos. De lá para cá, a faixa etária tem diminuído consideravelmente. “Estão chegando gestantes cada vez mais novas, de 11 anos”, diz. Sheila aponta ainda que os principais problemas encontrados são a baixa renda das adolescentes grávidas, que moram em bairros mais periféricos; a diminuição crescente da faixa etária das jovens que engravidam; a marginalização; e outros fatores relacionados ao uso de drogas. “Uma pessoa drogada não se previne com camisinha, por exemplo”, comenta.
São Sebastião
Em São Sebastião, de acordo com a médica Helena Dora Glina, coordenadora da Saúde da Mulher, da Secretaria de Saúde (Sesau), ao longo dos últimos 8 a 10 anos, quando foi criado pelo Governo Federal o Sisprenatal – sistema onde a gestante paciente do SUS é cadastrada antes de 16 semanas de gestação, com o objetivo de melhorar a assistência pré-natal e reduzir a transmissão vertical (de mãe para filho) do HIV e Sífilis – passou a ser possível fazer um diagnóstico do número de gestantes grávidas por faixa etária. No município, a média é de 1.200 partos por ano no Hospital de Clínicas, incluindo pacientes SUS, particulares e convênio. “A nossa média de adolescentes grávidas, que inclui a faixa etária de 10 a 19 anos, subdivididas em faixas de 10 a 14 e 15 a 19 anos é de 1/4, às vezes aumentando para 1/3. Há períodos que reduz e períodos que aumenta, porém, sempre levamos em consideração ser a realidade de uma adolescente grávida de 14 ou 15 anos muito diferente de outra entre 18 e 19 anos de idade”, comenta Helena.
Segundo ela, houve uma diminuição proporcional com relação ao número de partos, tendo em vista o crescimento da população e o número de partos que, praticamente, se mantém. Ainda de acordo com Helena, muitas vezes a falta de estímulo por parte da família ou o constrangimento dos adolescentes em se consultarem, impede que sejam orientados em relação à prevenção das Doenças de Transmissão Sexual (DSTs)/AIDS e da gravidez precoce. “É como se a consulta fosse um aval para o início da relação sexual, porém, é a chance que se tem de orientá-los quanto ao conhecimento do próprio corpo, dos métodos contraceptivos e prevenção das DST, podendo conversar, inclusive, sobre projeto de vida”, diz a médica.
De acordo com Helena, existe na cidade o projeto do adolescente multiplicador na prevenção de doenças de transmissão sexual e gravidez precoce, que conta com a ajuda de psicopedagogas, assistentes sociais, psicólogos, enfermeiro e médicos que elaboram e executam projetos. A médica explica que a rede pública disponibiliza métodos contraceptivos reversíveis – como hormonais orais, injetáveis, Dispositivo Intrauterino (DIU) e preservativos feminino e masculino –, assim como os irreversíveis, sendo laqueadura e vasectomia. Helena ressalta, ainda, que o município, através das equipes do PSF e dos ginecologistas da rede pública, está preparado para o atendimento à população em geral, assim como pacientes adolescentes, que tem no código de ética do adolescente, documento oficial do Conselho Federal de Medicina, a garantia da privacidade e do sigilo da consulta realizada. “Isto significa que o adolescente pode ser consultado sozinho sem a obrigatoriedade da presença de um adulto, a não ser que ele permita”, diz.
Ilhabela
Em Ilhabela, segundo dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – o Datasus, que armazena os dados do Siab, o índice de adolescentes grávidas com idade entre 10 e 19 anos diminuiu aproximadamente 12% em relação ao período de 1999 a 2009. Em 1999 foram registrados 97 partos de mães adolescentes. Já em 2009, o número caiu para 86.
Apesar de não possuir a Casa do Adolescente, Ilhabela conta com grupos de orientação oferecidos pela Secretaria de Assistência Social. As adolescentes também são incluídas em programas sociais como “Ação Jovem” e “Renda Cidadã”.
Ubatuba
De acordo com a superintendente de Atenção Especializada da secretaria de Saúde, Josiane Brunacio Grunvald, o Litoral Norte tem uma tendência a ter um menor número de gestantes adolescentes. Na cidade, a média de grávidas adolescentes nos últimos anos é de 23% do total de gestantes por ano. “Teve uma tendência a diminuir, porém está se mantendo dentro da média”, afirma.
“Este ano centralizamos o cuidado com a gestante adolescente no Centro de Referência da Mulher”, conta. O trabalho consiste em consultas médicas de rotina, grupos de orientação envolvendo a equipe da saúde da mulher, psicóloga, nutricionista, fonoaudióloga e assistência social. A iniciativa é voltada a informar”, diz. “A prevenção deve ser otimizada, embora saibamos que as informações não mudam comportamentos, o que pode ser melhor trabalhado é o projeto de vida dessas adolescentes”, analisa. Segundo ela, todas as mulheres têm acesso a métodos contraceptivos que são disponibilizados na Atenção Básica ou referenciados na Saúde da Mulher. Além de palestras em escolas – principalmente executadas pela equipe de prevenção à Aids e demais ações voltadas principalmente para os adolescentes – a gravidez não planejada ainda continua ocorrendo nesta faixa etária.
Grávida aos 16
Janaína Custódio de Almeida, 16 anos, está grávida de sete meses e teve que interromper seus estudos. Vai ter um menino. “Estou ansiosa, lendo sobre o assunto”, conta a moradora de Caraguatatuba. O jovem de 17 anos que ela namorava havia apenas quatro meses assumiu a paternidade e já está trabalhando para poder ajudar com a criança que está por vir. Quando soube da gravidez, confessa que sentiu medo. “Meu pai ficou bravo no começo, mas agora ele e minha mãe estão me apoiando”, diz a jovem que será mãe graças a um descuido. “Não usamos camisinha”.
Mãe de quatro
Mislaine de Lima Marques tem apenas 26 anos e já é mãe de quatro. Sua primeira filha, Letícia, teve aos 14 anos. Ela conta que foi uma surpresa quando soube da gravidez. “Quando a gente tem filho cedo tem que largar a escola, não tem mais liberdade”, desabafa. “Eu graças a Deus tenho o apoio dos meus pais, mas sofri muito preconceito na escola. Na época ainda não havia tantas meninas engravidando cedo como hoje em dia”, diz. Dois anos depois, ainda muito jovem, teve seu segundo filho, Josué, com o mesmo namorado. “Depois disso, tentei operar para não ter mais filhos, mas na rede pública não deixaram”, conta.
Em seguida, aos 18 anos, Mislaine teve o terceiro filho, Alex; aos 21, veio Alice. Cada um de um pai diferente. “A partir do momento em que a gente comete um erro tem que assumir isso e não deixar responsabilidade nas costas dos outros. Vejo meninas deixarem seus filhos com outras pessoas e irem embora. Graças a Deus todos moram comigo”, comenta.
Depois de Alice, Mislaine finalmente conseguiu fazer uma laqueadura, ou ligadura das trompas, para não ter mais filhos. Após muito esforço, conseguiu terminar seus estudos, mas não fez faculdade. Também moradora de Caraguá, Mislaine trabalha na creche e é auxiliar de serviços gerais. Sua mãe também a gerou muito jovem, aos 15 anos de idade.
Mesmo a caçulinha ainda tendo três anos e após ter feito a cirurgia, a mãe de quatro ainda afirma que gostaria de ter mais um filho. “Meus filhos são tudo na minha vida, nasci para ser mãe”.
De 1998 a 2009 (último dado consolidado), a queda vem sendo freqüente. Em 1998, foram registrados cerca de oito mil casos de gravidez em adolescentes nas 40 cidades do Departamento Regional de Saúde; 11 anos depois, esse número baixou para aproximadamente cinco mil.
Na região, apenas Caraguatatuba registrou um ligeiro aumento de nascidos vivos de mães adolescentes a partir de 2008, sendo a média, de acordo com o Sistema de Informação de Atenção Básica (Siab), de 100 adolescentes grávidas por ano, número que era menor de 2000 a 2007. De acordo com Sheila da Silveira Barbosa, diretora de Assistência a Saúde do município, foram 116 grávidas em 2008; 100 em 2009; e 99 em 2010. “Este ano, já temos 101 jovens grávidas, número que deve aumentar”, diz Sheila.
Segundo ela, antes de 2008, a faixa etária das gestantes adolescentes era de 15 a 19 anos. De lá para cá, a faixa etária tem diminuído consideravelmente. “Estão chegando gestantes cada vez mais novas, de 11 anos”, diz. Sheila aponta ainda que os principais problemas encontrados são a baixa renda das adolescentes grávidas, que moram em bairros mais periféricos; a diminuição crescente da faixa etária das jovens que engravidam; a marginalização; e outros fatores relacionados ao uso de drogas. “Uma pessoa drogada não se previne com camisinha, por exemplo”, comenta.
São Sebastião
Em São Sebastião, de acordo com a médica Helena Dora Glina, coordenadora da Saúde da Mulher, da Secretaria de Saúde (Sesau), ao longo dos últimos 8 a 10 anos, quando foi criado pelo Governo Federal o Sisprenatal – sistema onde a gestante paciente do SUS é cadastrada antes de 16 semanas de gestação, com o objetivo de melhorar a assistência pré-natal e reduzir a transmissão vertical (de mãe para filho) do HIV e Sífilis – passou a ser possível fazer um diagnóstico do número de gestantes grávidas por faixa etária. No município, a média é de 1.200 partos por ano no Hospital de Clínicas, incluindo pacientes SUS, particulares e convênio. “A nossa média de adolescentes grávidas, que inclui a faixa etária de 10 a 19 anos, subdivididas em faixas de 10 a 14 e 15 a 19 anos é de 1/4, às vezes aumentando para 1/3. Há períodos que reduz e períodos que aumenta, porém, sempre levamos em consideração ser a realidade de uma adolescente grávida de 14 ou 15 anos muito diferente de outra entre 18 e 19 anos de idade”, comenta Helena.
Segundo ela, houve uma diminuição proporcional com relação ao número de partos, tendo em vista o crescimento da população e o número de partos que, praticamente, se mantém. Ainda de acordo com Helena, muitas vezes a falta de estímulo por parte da família ou o constrangimento dos adolescentes em se consultarem, impede que sejam orientados em relação à prevenção das Doenças de Transmissão Sexual (DSTs)/AIDS e da gravidez precoce. “É como se a consulta fosse um aval para o início da relação sexual, porém, é a chance que se tem de orientá-los quanto ao conhecimento do próprio corpo, dos métodos contraceptivos e prevenção das DST, podendo conversar, inclusive, sobre projeto de vida”, diz a médica.
De acordo com Helena, existe na cidade o projeto do adolescente multiplicador na prevenção de doenças de transmissão sexual e gravidez precoce, que conta com a ajuda de psicopedagogas, assistentes sociais, psicólogos, enfermeiro e médicos que elaboram e executam projetos. A médica explica que a rede pública disponibiliza métodos contraceptivos reversíveis – como hormonais orais, injetáveis, Dispositivo Intrauterino (DIU) e preservativos feminino e masculino –, assim como os irreversíveis, sendo laqueadura e vasectomia. Helena ressalta, ainda, que o município, através das equipes do PSF e dos ginecologistas da rede pública, está preparado para o atendimento à população em geral, assim como pacientes adolescentes, que tem no código de ética do adolescente, documento oficial do Conselho Federal de Medicina, a garantia da privacidade e do sigilo da consulta realizada. “Isto significa que o adolescente pode ser consultado sozinho sem a obrigatoriedade da presença de um adulto, a não ser que ele permita”, diz.
Ilhabela
Em Ilhabela, segundo dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – o Datasus, que armazena os dados do Siab, o índice de adolescentes grávidas com idade entre 10 e 19 anos diminuiu aproximadamente 12% em relação ao período de 1999 a 2009. Em 1999 foram registrados 97 partos de mães adolescentes. Já em 2009, o número caiu para 86.
Apesar de não possuir a Casa do Adolescente, Ilhabela conta com grupos de orientação oferecidos pela Secretaria de Assistência Social. As adolescentes também são incluídas em programas sociais como “Ação Jovem” e “Renda Cidadã”.
Ubatuba
De acordo com a superintendente de Atenção Especializada da secretaria de Saúde, Josiane Brunacio Grunvald, o Litoral Norte tem uma tendência a ter um menor número de gestantes adolescentes. Na cidade, a média de grávidas adolescentes nos últimos anos é de 23% do total de gestantes por ano. “Teve uma tendência a diminuir, porém está se mantendo dentro da média”, afirma.
“Este ano centralizamos o cuidado com a gestante adolescente no Centro de Referência da Mulher”, conta. O trabalho consiste em consultas médicas de rotina, grupos de orientação envolvendo a equipe da saúde da mulher, psicóloga, nutricionista, fonoaudióloga e assistência social. A iniciativa é voltada a informar”, diz. “A prevenção deve ser otimizada, embora saibamos que as informações não mudam comportamentos, o que pode ser melhor trabalhado é o projeto de vida dessas adolescentes”, analisa. Segundo ela, todas as mulheres têm acesso a métodos contraceptivos que são disponibilizados na Atenção Básica ou referenciados na Saúde da Mulher. Além de palestras em escolas – principalmente executadas pela equipe de prevenção à Aids e demais ações voltadas principalmente para os adolescentes – a gravidez não planejada ainda continua ocorrendo nesta faixa etária.
Grávida aos 16
Janaína Custódio de Almeida, 16 anos, está grávida de sete meses e teve que interromper seus estudos. Vai ter um menino. “Estou ansiosa, lendo sobre o assunto”, conta a moradora de Caraguatatuba. O jovem de 17 anos que ela namorava havia apenas quatro meses assumiu a paternidade e já está trabalhando para poder ajudar com a criança que está por vir. Quando soube da gravidez, confessa que sentiu medo. “Meu pai ficou bravo no começo, mas agora ele e minha mãe estão me apoiando”, diz a jovem que será mãe graças a um descuido. “Não usamos camisinha”.
Mãe de quatro
Mislaine de Lima Marques tem apenas 26 anos e já é mãe de quatro. Sua primeira filha, Letícia, teve aos 14 anos. Ela conta que foi uma surpresa quando soube da gravidez. “Quando a gente tem filho cedo tem que largar a escola, não tem mais liberdade”, desabafa. “Eu graças a Deus tenho o apoio dos meus pais, mas sofri muito preconceito na escola. Na época ainda não havia tantas meninas engravidando cedo como hoje em dia”, diz. Dois anos depois, ainda muito jovem, teve seu segundo filho, Josué, com o mesmo namorado. “Depois disso, tentei operar para não ter mais filhos, mas na rede pública não deixaram”, conta.
Em seguida, aos 18 anos, Mislaine teve o terceiro filho, Alex; aos 21, veio Alice. Cada um de um pai diferente. “A partir do momento em que a gente comete um erro tem que assumir isso e não deixar responsabilidade nas costas dos outros. Vejo meninas deixarem seus filhos com outras pessoas e irem embora. Graças a Deus todos moram comigo”, comenta.
Depois de Alice, Mislaine finalmente conseguiu fazer uma laqueadura, ou ligadura das trompas, para não ter mais filhos. Após muito esforço, conseguiu terminar seus estudos, mas não fez faculdade. Também moradora de Caraguá, Mislaine trabalha na creche e é auxiliar de serviços gerais. Sua mãe também a gerou muito jovem, aos 15 anos de idade.
Mesmo a caçulinha ainda tendo três anos e após ter feito a cirurgia, a mãe de quatro ainda afirma que gostaria de ter mais um filho. “Meus filhos são tudo na minha vida, nasci para ser mãe”.