BELO HORIZONTE - A professora aposentada Rosemary de Morais, de 55 anos, que pleiteia na Justiça ser reconhecida como filha do ex-vice-presidente da República José Alencar, disse nesta quinta-feira ter ficado muito chateada por não ter tido a chance de resolver a questão da paternidade com ele ainda em vida. De Caratinga, no interior de Minas Gerais, ela assistiu pela televisão a cobertura do velório e da cremação do suposto pai.
- Não fui a Belo Horizonte porque não ia ser bem aceita lá. Queria ter conversado com ele em vida, para mostrar quem eu sou, a filha que ele tem, todo pai gosta de conhecer a pessoa que ele colocou no mundo. Agora, não adianta mais - disse a professora.
Perguntada se temia não conseguir mais obter material genético para exame de DNA do suposto pai, por causa da cremação do corpo, ela disse não saber o impacto disso no processo.
- Não entendo os detalhes, a única coisa que eu sei é que esta história não vai parar - disse a professora, demonstrando interesse em continuar brigando por ter o sobrenome da família Alencar.
O caso ainda está em curso no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a quem os advogados de Alencar recorreram depois do juiz de Caratinga José Antônio Cordeiro autorizar a professora a ser registrada com o sobrenome do ex-vice-presidente. Alencar sempre se recusou a fazer o exame de DNA. Para o advogado da professora, Geraldo Jordan de Souza, cabe à família do político contestar a alegação de paternidade, uma vez que já existe uma decisão favorável à sua cliente na Justiça.
Rosemary tinha 43 anos quando a mãe lhe mostrou a foto do filho de Alencar no jornal, Josué Gomes da Silva, dizendo-lhe que ele era seu irmão. Durante a campanha de Alencar ao Senado, em 1998, conseguiu se aproximar do suposto pai e dizer que era sua filha. Um assessor anotou seus telefones, mas ela nunca mais conseguiu fazer novos contatos.
Segundo Rosemary, sua mãe, a enfermeira Francisca Nicolina de Morais teria ficado grávida de Alencar na época em que ele ficou noivo, por isso os dois não se encontraram novamente. Anos depois, questionado sobre o motivo de não ter aceitado fazer o exame de paternidade, Alencar insinuou que Francisca era prostituta, dizendo que "são milhões de casos de pessoas que foram à zona".
- Ele era considerado um homem íntegro e justo por todos. Mas, comigo, faltaram estes detalhes muito importantes. Nada justifica um pai não reconhecer um filho - disse a professora.