RIO - Dia 5 de abril de 2009. Trazido do Qatar sob olhares desconfiados de torcedores, Emerson estreava pelo Flamengo entrando no decorrer de um Fla-Flu e, nos acréscimos, fazia o gol da vitória. No jogo seguinte, marcaria novamente. A arrancada parecia significar que o clube acertara em sua aposta. Lutador em campo, conquistou a simpatia da torcida. Mas, ao mesmo tempo que tinha atuações convincentes, tornava-se uma constante dor de cabeça nos bastidores. Logo, não faltariam na Gávea dirigentes questionando se, por trás do recorrente discurso de amor à camisa do Flamengo, havia um comportamento instável demais para quem jogava somente por amor.
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Ao chegar ao rubro-negro, Emerson era, de fato, idolatrado no Mundo Árabe. No entanto, dirigentes do Flamengo na época contam que, periodicamente, Emerson usava tal fama para se mostrar balançado por propostas tentadoras.
— Ele ama o Flamengo. Aí na segunda, quarta e sexta diz que quer ficar aqui para sempre. Terça, quinta e sábado, ele chora e diz que, por causa da família, tem que aceitar uma proposta do Mundo Árabe. No domingo, ele fica pensando — ironizou um dirigente da época.
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Amor muito caro
O desfecho foi que, apesar do amor declarado em todas as entrevistas, Emerson teve passagem relâmpago pela Gávea. Ficou pouco mais de quatro meses e voltou ao Mundo Árabe. Curiosamente, eram quase diários os relatos de jogadores de que, pela internet, o atacante dizia sofrer com a distância do clube de coração. A todo instante, procurava pessoas do clube pedindo para voltar ao rubro-negro.
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A chance até que apareceu. E veio novo episódio que irritou o Flamengo. Emerson abriu negociação com o clube durante a parada no calendário para a Copa do Mundo de 2010. Após algumas conversas, Zico, então diretor executivo do clube, fez um comentário sintomático ao explicar por que, apesar de o jogador declarar sua vontade de voltar, Emerson não seria mais contratado. Segundo o dirigente, o amor de Emerson custava muito caro.
Às vésperas de disputar o Fla-Flu com a camisa do Fluminense, Emerson manteve uma de suas características: a habilidade no discurso. Driblou com categoria perguntas que pudessem lhe criar uma situação desconfortável ao comentar o reencontro com a torcida do Flamengo que, antes de sua saída do clube, em 2009, lhe pedia para ficar.
— Independentemente de ter jogado no Flamengo ou não, é um clássico, um jogo de muita rivalidade e só vai faltar o Maracanã. É sempre bom jogar uma partida dessa, mas vou encarar o jogo como qualquer outro — disse o hoje atacante tricolor.
Pelo Flamengo, entre abril e agosto de 2009, Emerson disputou 26 jogos e marcou 11 gols. O atacante participou da conquista do tricampeonato estadual.