Inesperado: no começo da década de 1990, o filho de um renomado jurista (Hermes Marcelo Huck) com uma urbanista (Marta Dora Grostein) começou a dar sinais cada vez mais claros que seguiria uma carreira bastante diferente das de seus pais. O universo acadêmico não o atraía. Chegou a cursar duas faculdades (direito e jornalismo) – mas não, não se sentia pertencente àquele mundo. O rapaz era, antes e pela ordem: um showman nato, com um dom para cativar plateias; e um empreendedor instintivo, sempre à procura de algum investimento promissor. Luciano Huck iniciou então – estamos falando do final de 1991 – um estágio na W/Brasil, famosa agência de publicidade de Washington Olivetto. Simultaneamente, em conjunto com alguns amigos, abriu em São Paulo um bar, o Cabral, que se tornaria uma das casas de referência da noite local.
Sua parte no negócio acabou, nos anos seguintes, sendo vendida. Não é o único negócio do qual se desfez ao longo do tempo: “Minha vida se divide em ciclos”, conta Huck em entrevista à FORBES Brasil. “Quando eu vim para a Globo, há 14 anos, foi para fazer o que eu chamo de televisão de alta performance. Vendi tudo o que tinha, até mesmo uma pousada que havia erguido em Fernando de Noronha (PE). Toda minha atenção e toda minha capacidade passaram a ser dedicadas apenas à TV”.
Ao longo da conversa, Luciano relata o percurso que o conduziu a tal ponto da carreira. Enquanto ainda trabalhava com publicidade (o primeiro dos vários caminhos que tem trilhado ao longo da vida – além da W/Brasil, também estagiou nas agências DM9, de Nizan Guanaes, e Talent), o jovem (22 anos) Luciano Huck foi convidado por Fernão Lara Mesquita, diretor do paulistano Jornal da Tarde, a publicar uma coluna social no veículo. Ele topou; nascia assim a Circulando, que se caracterizava por retratar a noite local com uma descontração que destoava do tom mais sisudo que até então predominava nesse gênero jornalístico. Na mesma época, e paralelamente, Huck começou como locutor na rádio Jovem Pan.Chamou tanto a atenção que logo foi lembrado pelo apresentador Otávio Mesquita para estrear na televisão, no comando de um quadro próprio dentro do programa Perfil, de Mesquita.
Nesse momento, é claro, já estava óbvio que o rapaz não seguiria mesmo a profissão paterna, algo que foi aventado (e discretamente incentivado) durante sua adolescência. Ele não chegou a terminar a faculdade de direito na USP (onde, por sinal, seu pai é professor titular). Outra tradição familiar que, nele, não tem tanta presença é a religiosa: Luciano é judeu, mas admite que essa condição não é algo muito presente em sua vida, a não ser sob o aspecto dos valores. “O apego à família e ao trabalho, bem próprio do judaísmo, está bastante presente em mim. Talvez haja aí uma influência inconsciente de minha fé em meu estilo de vida”, observa.
Ao mesmo tempo em que construía a carreira de comunicador, ele prosseguia na de empresário. Com 24 anos inaugurou o bar Sirena, em Maresias, no litoral norte paulista. Na mesma época sua coluna no Jornal da Tarde gerou um filhote: o programa de televisão Circulando, na CNT Gazeta. Mas o pulo do gato de Huck viria na sequência. Em setembro de 1996, chamado pela TV Bandeirantes, Luciano Huck estreou um programa que batizou apenas como H. E foi no mesmo que despontou para a fama nacional – muito em virtude do apelo de duas de suas atrações, as dançarinas Suzana Alves (a Tiazinha) e Joana Prado (a Feiticeira). Logo, todo o país falava da atração comandada por ele, que acumulava tal trabalho com o de locutor de um programa de rádio, o Torpedo. Por essa época, parou de escrever sua coluna de jornal. Fez bem – em breve não teria (segundo seu próprio julgamento) tempo para dedicar-se a nada mais que não a televisão.
Em setembro de 1999, Luciano assinou contrato com a Rede Globo para apresentar o programa Caldeirão do Huck, que passou a ser exibido aos sábados para todo o território do país e 115 outras nações via Globo Internacional. Hoje, 20 milhões de pessoas assistem ao Caldeirão do Huck semanalmente. A atração é líder de audiência em sua faixa de horário – a qual, no passado, foi ocupada por ninguém menos que Chacrinha. Foi quando ele se desfez de todos os empreendimentos que até então levava adiante. Sua dedicação foi reconhecida pela nova casa: Huck foi o primeiro apresentador a ter direito a uma sala só sua na Globo.
Com o tempo, sentindo-se seguro no comando do Caldeirão, ele voltou ao mundo empresarial. “Em 2011 montei um fundo, o Joá Investimentos, para colocar recursos em empresas iniciantes, as chamadas startups”, conta Huck. “Mas, ao contrário do que as pessoas podem pensar, minhas ações enquanto empresário hoje em dia não têm como objetivo ganhar dinheiro”, garante ele. “O que quero é estar conectado com o mundo, é estar cercado de gente interessante.” Bem, se o objetivo é esse, ele conseguiu: basta considerar que a Joá é dona de uma participação no humorístico Porta dos Fundos, a maior sensação da internet brasileira em muitos anos. Huck também possui, por meio do fundo, parte de vários outros negócios, notadamente nos setores de internet, moda e mobilidade urbana.
Por exemplo: a plataforma de crowdsourcing e tecnologia móvel Pinion recebeu um aporte de R$ 1,2 milhão da Joá e outros investidores em maio de 2013. Algumas startups que já ganharam recursos de Huck foram, no setor da moda, a grife Reserva e, no campo da mobilidade urbana, o software do sistema de compartilhamento de bicicletas em operação no Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo, Recife e outras capitais. O exemplo acabou seguido por sua esposa, a também apresentadora Angélica, que em 2011 adquiriu 5% da Baby.com.br, companhia que vende produtos para bebês e crianças na internet.
Angélica, sua companheira com quem é casado desde outubro de 2004, lhe deu três filhos: Joaquim, Benício e Eva. Questionado se tira férias, Huck responde: “Sim, isso é algo vital para mim. Geralmente eu e minha esposa optamos por descansar fora do país, em alguma grande cidade no exterior”. Por qual motivo? “Devido às crianças”, responde ele. “A ideia é que, pelo menos de vez em quando, elas possam viver como pessoas normais, sem o assédio que é gerado no Brasil por serem filhos de quem são. Queremos que elas tenham experiências corriqueiras, como ir ao supermercado ou ao restaurante conosco. No Brasil, muitas vezes isso é difícil de ser feito.”
O futuro, no caso de Luciano, parece continuar em aberto. Inquirido se planeja entrar para a política, limita-se a observar: “Acho que já faço política, e bastante. Entro no dia a dia das pessoas via TV, entro em suas casas, falo com elas. Isso é uma atitude com um forte componente político de minha parte”. E ele frisa: “Gosto, acima de tudo, de fazer ideias virarem realidade, e a televisão é uma excelente ferramenta para isso”. Além de seu programa, Huck também pode ser visto nas telas em comerciais de cinco empresas com as quais tem contrato: Itaú, Procter & Gamble, Coca-Cola, TIM e Pfizer. “Estou com essas companhias há alguns anos, e minha imagem está hoje ligada a elas de forma sólida”, pontua.
Quais dicas Huck costuma dar aos jovens empreendedores que o procuram atrás de conselhos? “Prepare-se bem antes de começar. E acredite em seu projeto, e no país. Penso que, mesmo que o Brasil não esteja hoje surfando águas muito favoráveis, as oportunidades por aqui permanecem imensas para quem tem boas ideias e vontade de trabalhar.” E ele finaliza a entrevista à FORBES Brasil com uma previsão: “Os dois elementos que vão mudar este país para melhor são a educação e o empreendedorismo. O futuro vai mostrar o quanto isso está certo”.