Mulher afirma que durante uma das internações foi levada para uma churrascaria por uma enfermeira do Hospital Santa Branca, mesmo com os pontos abertos.
O Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) decretou, na tarde desta quarta-feira, o bloqueio de R$ 198 mil dos bens do médico Bolivar Guerrero Silva, de 63 anos, preso por manter uma paciente em cárcere privado, e do Hospital Santa Branca. Segundo a decisão, o valor será usado para pagar a transferência da paciente Daiana Cavalcanti, de 36 anos, para um outro hospital particular. Segundo a conclusão do inquérito da Polícia Civil, a vítima está "apodrecendo na unidade".
A paciente realizou uma abdominoplastia no início de março e precisou voltar em junho para se submeter a mais três intervenções. No retorno, contudo, o procedimento apresentou problemas e ela teve complicações com um dos pontos da barriga necrosado.
"Há indícios claros de que a vítima está apodrecendo naquele hospital, vide as imagens em anexo, podendo já estar inclusive com infecção generalizada e à beira da morte, mas sendo mantida lá para ocultar a atividade criminosa do médico", diz a Polícia Civil em documento enviado à Justiça.
Em vídeos divulgados pelo 'G1', a paciente implorou por ajuda e afirmou que não está recebendo atendimento das enfermeiras. Segundo ela, estaria havendo uma retaliação depois que o médico foi denunciado e preso.
"Eu preciso de um cirurgião plástico com urgência e rezar pra eu não pegar nenhum tipo de bactéria. E aí embaixo deixar para resolver depois. Mas o mais importante é fechar o que está aberto agora, entendeu? Eu só queria que me tirassem daqui, para outro médico me acompanhar, porque eu já não aguento mais, já não aguento mais o que esse homem fez comigo. O meu peito está todo necrosado, está doendo tanto", disse ela.
Ainda segundo o inquérito, Bolívar fez chantagem com Daiana para que ela não saísse do hospital. "Bolívar impede que a vítima seja transferida para qualquer outro hospital, possivelmente para tentar se safar da Justiça, corroborando haver cárcere privado da vítima, que vem sendo mantida isolada seja por chantagem do médico, que diz não usará mais a máquina de vácuo para drenagem da secreção expelida pelo corpo da vítima, talvez o que ainda a esteja mantendo viva", diz outro trecho do documento.
Paciente foi levada para churrascaria durante período de internação
Daiana contou à polícia que foi levada pela técnica de enfermagem Kellen Cristina Queiroz, ainda com os pontos da cirurgia abertos, a uma churrascaria. A paciente acredita que o convite para o almoço foi uma estratégia para prejudicar a sua saúde.
"Ela me levou na churrascaria, me fez comer carne... No horário de trabalho, ela tomando cerveja. Eu assim, na maior inocência, eu fui com ela, sabe? Eu não imaginava que, de repente, era até pra "mim" pegar alguma infecção e morrer, porque a minha barriga estava aberta ainda", explicou a vítima.
O que diz a defesa do médico
O médico ainda nega todas as acusações. Segundo a equipe de Bolívar, a paciente se negou a assinar um termo que a responsabiliza pela alta e que por isso não foi liberada. "Ele não estava mantendo paciente nenhuma em cárcere privado, ela estava fazendo curativo e sendo assistida no hospital dele por ele, porém ela queria ser liberada sem ter terminado o tratamento e ele como médico seria imprudente de liberá-la. Ele disse que poderio liberá-la se ela assinasse a alta à revelia (documento ao qual a paciente se responsabiliza por qualquer coisa que acontecer após sua liberação) e ela não quis assinar, ele disse que liberaria somente se ela o assinasse, como ela não assinou ele não liberou, pois o intuito dele é prestar toda assistência a paciente ate ela está recuperada", informou.
A equipe reforçou ainda que a alta não poderia ser realizada porque a paciente estava com um curativo especial para acelerar a cicatrização, que só pode ser manipulado por pessoas capacitadas como técnicos em enfermagem ou enfermeiros.
O que diz o Hospital Santa Branca
O Hospital Santa Branca também alegou que as acusações de cárcere privado nas dependências da unidade são infundadas e explicou que o médico Bolivar Guerrero não pertence ao quadro societário da empresa. Além disso, deu detalhes sobre a internação da paciente.
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