O presidente francês, Emmanuel Macron, decidiu adiar o discurso, previsto para esses dias, no qual ele deveria anunciar medidas de seu governo após as várias semanas do Grande Debate Nacional. No lugar disso, ele preferiu se concentrar somente no incêndio da Notre-Dame de Paris em sua fala ao vivo nesta terça-feira (16). O chefe de Estado elogiou o trabalho dos bombeiros, pediu aos franceses calma e união após a tragédia e prometeu uma reconstrução da catedral “ainda mais bonita” dentro de cinco anos.
A previsão de uma reconstrução da Notre-Dame em cinco anos foi o grande destaque da curta fala de Emmanuel Macron, que durou apenas 6 minutos. O presidente francês afirmou que esse não era o momento de fazer o anúncio das medidas governamentais que estavam previstas, ressaltando o luto pelo monumento.
“Após esse desafio, virá a reflexão e a ação. Não podemos misturar essas etapas. Não podemos cair na tentação da pressa”, disse Macron. “Eu conheço todas as pressões, a impaciência de querer agir a todo instante, fazer os anúncios que estavam previstos. Como se estar no comando de um país não passasse de mera administração de algumas coisas e não significasse também ser consciente de nossa história, do tempo, dos homens e mulheres.”
O chefe de Estado lembrou que a França teve vários outros monumentos queimados ao longo da história, que foram reconstruídos, e pediu a ajuda de todos para enfrentar a tragédia. “Os parisienses se confortaram, os estrangeiros choraram, os jornalistas escreveram, os escritores sonharam, os fotógrafos mostraram ao mundo essa imagem terrível. Todos fizeram o que puderam, cada um desempenhando seu papel”, afirmou Macron, descrevendo o drama da segunda-feira (15).
“Esse é o momento de nos tornarmos melhor do que nós somos. É preciso reencontrar a linha de nosso projeto nacional, que nos uniu. Franceses e estrangeiros que amam a França e Paris, eu compartilho sua dor e também sua esperança”, concluiu o chefe de Estado.
Resposta aos "coletes amarelos"
Apesar do adiamento do discurso oficial, algumas partes do suposto texto com as medidas de Emmanuel Macron vazaram nesta terça-feira. Segundo a agência de notícia AFP, um dos projetos do presidente é reduzir os impostos da classe média. A medida seria financiada eliminando alguns incentivos fiscais.
No provável discurso, Macron também se compromete a estudar novamente o Imposto Sobre Fortunas (ISF), cuja eliminação foi muito criticada. De acordo com o chefe de Estado, a justiça fiscal foi um dos principais temas do Grande Debate Nacional organizado como resposta aos protestos do movimento dos "coletes amarelos".
Outra promessa de Macron: evitar o fechamento de escolas e hospitais até o fim de seu mandato. Levando em conta que “muitos dos cidadãos têm o sentimento que o território está abandonado”, o chefe de Estado espera “assegurar a presença dos serviços públicos” e investir na “descentralização”, com mais funcionários espalhados fora de Paris.
Para responder a exigências precisas dos “coletes amarelos”, Macron também se disse “favorável” em seu texto à ideia de referendos de iniciativa cidadã, os chamados “RIC”. Ele prevê que uma convenção de “300 cidadãos sorteados” será criada a partir de maio para se ocupar da transição ecológica.
Por fim, o chefe de Estado também concordou em acabar com a Escola Nacional de Administração (ENA), prestigioso estabelecimento de ensino onde ele mesmo estudou e se formou em 2004. A decisão também seria uma resposta às críticas dos “coletes amarelos” ao que eles consideram um símbolo do “elitismo francês”.
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