O reino dos que buscam a ressocialização de traficantes no Rio está dividido. Até pouco tempo unidos na tarefa de salvar e converter as almas de perigosos bandidos, o coordenador do AfroReggae, José Júnior, apartou-se do pastor Marcos Pereira, líder da Assembleia de Deus dos Últimos Dias. Surpreendeu a todos ao acusá-lo de ser a “mente do mal” do estado. Uma acusação tão polêmica quanto o próprio alvo das duras palavras. Marcos Pereira nunca foi unanimidade nos presídios do Rio.
Em 2003, o pastor foi proibido de entrar nas penitenciárias do Rio de Janeiro pelo então secretário de Estado de Administração Penitenciária (Seap), Astério Pereira. Era a interrupção de um trabalho com presidiários iniciado lá em 1991. Astério — que é procurador do Ministério Público — não fala mais do assunto, tampouco as motivações da proibição. Entretanto, uma fonte influente daquele governo garante que não se tratava apenas de birra.
— O problema é que o pastor Marcos Pereira só fazia o seu trabalho entre presidiários de uma facção, a mesma do bandido Marcinho VP. E o pastor andava sempre acompanhado das duas irmãs de Marcinho. Isso passou a ser visto com maus olhos pela direção da Seap — diz a fonte.
A partir daí, tanto agentes da Seap como outros da Polícia Civil passaram a acompanhar os passos do pastor Marcos Pereira. Em agosto de 2004, o traficante Derico — ex-chefe do tráfico em Acari — foi preso pela polícia num apartamento de um pastor da igreja em Maringá, no Paraná. Foi o estopim para a extinta Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DER) investigar o religioso —a pedido do ex-chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins.
— Na época, não encontramos nada contra o pastor — diz a então chefe de investigações da DER, a ex-deputada federal Marina Maggessi.
Calmante
Marina lembra que, mesmo com a proibição de o pastor entrar em presídios, ela autorizava a entrada de Marcos Pereira nas carceragens da Polinter, quando comandava a especializada.
—Ele ia às sextas-feiras e ficava horas com os presos. Isso os acalmava no fim de semana, que normalmente é o período mais complicado — diz Marina Maggessi, que se surpreendeu com a denúncia de José Júnior.
Apesar de tanta polêmica, em meio a cenas de catarse em que bandidos desmaiam e se convertem ante a presença do religioso, a “palavra” do pastor Marcos Pereira parece ter o dom de atrair vozes influentes.
Em 2004, já proibido de entrar nos presídios, Marcos Pereira foi chamado para acabar com uma rebelião na Casa de Custódia de Benfica, ocasião em que morreram 31 pessoas. Chegou de helicóptero no final da tarde, depois de ter sido chamado por autoridades do governo Rosinha Garotinho.
Na época, durante uma reunião com o staff do governo, o secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, e o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira, votaram pela invasão da carceragem. Entretanto, uma autoridade influente foi contra. Chorando, alegando a possibilidade de uma tragédia ainda maior, sugeriu a convocação de Marcos Pereira. Segundo uma fonte, alguns anos depois, essa mesma autoridade — que também era próximo das investigações da polícia sobre o pastor — acabou indo a cultos comandados por Marcos Pereira.
— Não lembro se houve isso, mas confirmo que fui a favor da invasão — diz Itagiba.
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