Enquanto lojas e lanchonetes de Madureira encerram o expediente do dia, um outro tipo de comércio mais quente e animado começa a receber seus primeiros clientes. As dezenas de casas de prostituição que funcionam no bairro são fáceis de se encontrar. Mas a rotina de uma delas foi atropelada pelo progresso.
As obras da Transcarioca, corredor de ônibus BRT que ligará a Barra até o Aeroporto Tom Jobim, botaram abaixo um dos mais tradicionais prostíbulos de Madureira. Até março, a casa de mais de 10 anos funcionava em cima de um terreiro de macumba na Av. Ministro Edgar Romero, perto da Conselheiro Galvão. Mas a seca durou pouco. Semanas depois, o lugar reabriu e hoje bate ponto a menos de 1km do antigo endereço.
— A casa funcionava há dez anos e tínhamos sempre os mesmo fregueses. Mas no lugar novo é mais complicado porque estamos bem em frente a um ponto de ônibus. Eu perdi algumas garotas que saíram daqui e foram para outras casas por causa disso — explica X., de 32 anos, a "gerente" da casa de vuco-vuco, que confessa: ainda atende alguns clientes fiéis, mas o maridão não sabe.
Os homens que chegam à casa pagam apenas o que "consomem", literalmente. O programa varia entre R$ 20 e R$ 80 e em dias de mais movimento, o lugar cobra entre R$ 3 e R$ 5 de entrada.
— Tive queda de 70% do movimento. Está difícil encher o salão. Não ganhamos nada na desapropriação porque o sobrado não era nosso — diz a gerente.
Ao som do proibidão do funk, as meninas dançam para os caras apenas de lingerie. Elas sentam em seus colos, trocam conversas ao pé de ouvido e o resto, bom... o resto vocês já sabem.
Enquanto isso, a gerente não para quieta. Ela vai de um lado pro outro chamando o restante das garotas que ficam no andar de cima. Elas se arrumam para descer, seduzem os caras e sobem de volta, mas agora acompanhadas. Num caderninho, X. anota todos os programas com o tempo de início e fim. Ela ainda precisa controlar o nervosismo de alguns clientes, que se queixam da falta de meninas no salão. "Cadê elas?". X. pede calma e responde:
— Hoje tem carne nova.
Madureira se valorizou após a Transcarioca
Apesar do caos no trânsito, os bons frutos da Transcarioca já estão sendo colhidos pelos moradores de Madureira. A perspectiva de melhora no trânsito da região, por conta do fim das obras, já pode ser vista na valorização dos imóveis. É o que diz o subprefeito da Zona Norte, André Luiz dos Santos.
— Uma casa que valia R$ 50 mil hoje você não compra por menos de R$ 100 mil. Quem tem loja também vai se dar bem com a valorização — explicou André Luiz.
Mas se os proprietários estão com os bolsos cheios, quem está no balcão sofre com o nó no trânsito. Oswaldo Araújo, que há 23 anos trabalha na Padaria Estrela Popular, que fica perto do shopping Tem Tudo, disse que caiu o número de pessoas que param no estabelecimento:
— Está todo mundo reclamando do trânsito. E por causa do nó que fica aqui, eles agora passam por outro lugar, desviam o caminho. Quem passa já vem atrasado, não para beber uma cerveja, bater um papo.
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