A presidente Dilma Rousseff decidiu pôr um fim à disputa política entre PT e PMDB pelo controle da Caixa Econômica Federal. Informada ontem de que a estatal vive um clima de conflagração, Dilma Rousseff decidiu autorizar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente da Caixa, Jorge Hereda, a demitirem o vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da instituição, Flávio Cleto, apadrinhado de líderes peemedebistas.
Dilma, no entanto, fez uma ressalva, visando a preservar as boas relações com o PMDB: a demissão será revertida se Cleto desistir de alimentar as brigas internas entre os diretores da Caixa.
Hoje ele é o representante da estatal no Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), cujo mandato termina dia 17. O vice-presidente quer ser reconduzido ao conselho, mas não tem recebido sinais de que isso ocorrerá.
Flávio Cleto entrou na Caixa pelas mãos do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um aliado de conveniência do Planalto: se está satisfeito, briga como nunca por todos os projetos de interesse do governo; se está contrariado, faz de tudo para atrapalhar qualquer votação.
Nesse momento está contrariado. Tanto é que, conforme informações que correm na própria Caixa e que já são do conhecimento da presidente, tem orientado seu protegido a criar casos nas decisões da diretoria.
Polêmica. De acordo com informações do Palácio do Planalto, a presidente decidiu comprar a briga com Eduardo Cunha. Já avisou à bancada do PT que vai vetar a parte do texto da Medida Provisória 540 que autoriza o uso de cerca de R$ 5 bilhões do FGTS para ser aplicado, por exemplo, em obras como aeroportos, metrô, reforma urbanística e até construção de hotéis. De acordo com a MP, os recursos só não poderão ser usados na construção de estádios e arenas esportivas.
Como o PMDB de Eduardo Cunha defende o uso do dinheiro do FGTS nas obras de infraestrutura e mobilidade da Copa, Flávio Cleto tem agido dentro da Caixa para ajudar o partido. Aliado do PT, o vice-presidente de Gestão de Ativos de Terceiros da Caixa, Marcos Vasconcelos, fez um parecer de quatro páginas contrário ao uso dos recursos nessas obras de apoio à Copa. Encaminhou-o a Cleto.
Este, no entanto, fez um outro parecer, agora favorável à decisão tomada pelo Congresso no dia 22 de novembro.
Cleto argumentou que se alguém deveria fazer um parecer, esse alguém seria ele, porque FGTS é assunto ligado à sua vice-presidência. Além do mais, pelo menos até o dia 17, é ele o representante da Caixa no Conselho Curador do FGTS.
Os dois pareceres foram entregues ao presidente da instituição, Jorge Hereda, filiado ao PT, e também contrário ao uso dos recursos do FGTS em obras de infraestrutura da Copa.
Silêncio. Nenhum dos diretores da Caixa quiseram se pronunciar a respeito das brigas internas. A informação fornecida pela Caixa foi de que eles não vão falar sobre estas questões.
Os diretores passaram todo o dia de ontem envolvidos em reuniões, na tentativa de encontrar uma saída para as brigas políticas internas.
Nos contatos que teve com Jorge Hereda, a presidente Dilma Rousseff deixou claro que ficará ao lado dele. Disse que, apesar de dar-lhe broncas de vez em quando, pessoalmente ou por telefone, gosta muito do presidente da Caixa e o preservará.
Jorge Hereda tem ligações históricas com o PT. De 1993 a 2002 foi secretário de Habitação e de Desenvolvimento Urbano da prefeitura de Diadema, de Desenvolvimento Sustentável de Ribeirão Pires e presidente da Companhia de Habitação de São Paulo (Cohab).
Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2002, Hereda mudou-se para Brasília, onde ocupou a Secretaria de Habitação do Ministério das Cidades até 2005, na gestão de Olívio Dutra.
Em seguida, foi para a vice-presidência de Governo da Caixa, onde ficou até março deste ano, quando saiu para substituir Maria Fernanda Coelho na presidência da instituição.
Bastidores. Informações que já chegaram à presidente Dilma Rousseff dão conta de que a conflagração na diretoria da Caixa Econômica Federal envolvendo Fábio Cleto e os diretores ligados ao PT surgiram desde que começou a aumentar as especulações de que o vice-presidente não seria reconduzido ao cargo de representante da estatal no Conselho Curador do FGTS.