O clima é o mesmo das produções hollywoodianas capa e espada, ao estilo dos filmes de Errol Flynn, com um pouco de Piratas do Caribe e porções de História do Brasil. A nova novela das 6, Novo Mundo, que estreia nesta quarta, 22, retoma o folhetim de época no horário, povoado por alguns personagens históricos, como D. Pedro e sua mulher, a arquiduquesa Leopoldina, e outros muitos fictícios. Todos eles embalados pelo espírito de aventura que se estabelece no Brasil, o tal novo mundo, em início do século XIX - mais precisamente entre 1817 e 1822, ano da independência do País.
Com direção artística de Vinícius Coimbra, Novo Mundo marca a estreia de Thereza Falcão e Alessandro Marson como autores titulares de uma novela, após muitos anos trabalhando como colaboradores de nomes como João Emanuel Carneiro, Duca Rachid e Thelma Guedes. Aliás, a emissora vem investindo numa renovação de seu banco de autores, sem claro, abrir mão de assinaturas já consagradas, como Gloria Perez, Walcyr Carrasco e tantos outros. Thereza e Alessandro concordam que haja essa renovação, em entrevista ao Estado, no Rio. “Acho que começa com a própria mudança de política da TV Globo”, comenta Thereza. E Alessandro emenda: “Precisa ter gente nova, novas formas de contar história, porque sempre, com as mesmas pessoas escrevendo, chega uma hora que fica muito parecido tudo. Ter uma pessoa nova escrevendo dá um brilho”.
A dupla conta que sempre trabalhou muito bem junto, desde que se encontrou num mesmo trabalho, em Sítio do Picapau Amarelo, no início dos anos 2000. E que coincidência: no Sítio, a atriz Isabelle Drummond, ainda criança, despontou como a espevitada boneca de pano Emília; e, agora, aos 22 anos, é uma das protagonistas de Novo Mundo. Isabelle interpreta a mocinha da trama, a professora de português Anna Milmann, que engata um romance com o ator Joaquim Martinho (Chay Suede). Não faz muito tempo, na 1.ª fase da novela A Lei do Amor, Isabelle e Chay já haviam feito par romântico. E, pelo que tudo indica, a parceria foi aprovada.
A austríaca Leopoldina (Letícia Colin) parte de navio rumo ao Brasil para se casar com o português D. Pedro (Caio Castro), por quem já é apaixonada antes mesmo de conhecê-lo. Já D. Pedro, que mais tarde seria conhecido como ‘o libertador’ (por proclamar a Independência do Brasil), já era um mulherengo convicto. Duas figuras tão conhecidas da nossa História se juntam a personagens fictícios na próxima novela das 6, Novo Mundo, que estreia nesta quarta, 22, dentro de uma trama que também não segue necessariamente os fatos reais e da maneira que aconteceram.
“Além de trabalhar com uma liberdade poética, a gente traz a Domitila (amante de D. Pedro, que será vivida por Agatha Moreira) algum tempo antes de quando ela, a princípio, entrou na vida de D. Pedro”, diz, ao Estado, Thereza Falcão, que divide a autoria da novela com Alessandro Marson. “Como se a gente tivesse contando os bastidores, o lado humano. Estamos trazendo D. Pedro na sua humanidade máxima. Ele compunha, tocava, ao mesmo tempo, era extremamente machista, galinha. A Leopoldina era realmente apaixonada por ele”, continua ela, que, assim como Marson, se aprofundou nesse período histórico do País.
Mesmo com essa liberdade anunciada, a dupla já sentiu a patrulha antes da estreia. “Já tem gente mandando mensagem para a gente, defendendo a Domitila; ou dizendo: espero que sejam fiéis à História. Como se as pessoas conhecessem a História. A História é versão. Resolvemos contar nossa versão”, defende Marson. E Thereza continua: “A gente está fazendo uma novela a partir de versões. Claro que existem coisas que são reais: o Dia do Fico, a Independência. Essas versões norteiam o andamento da história principal”. Ainda da realeza, estão na trama Dom João (Léo Jaime), Carlota Joaquina (Débora Olivieri), entre outros.
Já os protagonistas da novela, o ator Joaquim Martinho (Chay Suede) e a professora de português Anna Millman (Isabelle Drummond), se enquadram na categoria dos personagens criados pelos autores. Mas podem perfeitamente trazer características de pessoas reais que viveram naquela época. Como a própria Anna. “Havia a professora dos filhos da Leopoldina. Mas, na verdade, a gente descobriu depois que existia essa pessoa. Ela foi casada com um historiador inglês e, antes de chegar ao Brasil, ela tinha viajado o mundo inteiro. Foi para a Índia, África, falava várias línguas”, diz Alessandro Marson. “E a gente criou uma personagem assim: uma menina que pudesse lutar espada, que andasse a cavalo, só que, em vez de a gente fazer ela casada, fez como filha de um historiador.”
Adorável vilã. A parte cômica do folhetim caberá à vilã Elvira Matamouros (Ingrid Guimarães). Atriz da mesma companhia de teatro de Joaquim, Elvira “ficou para titia” e, aproveitando a bebedeira do colega, acaba se casando com ele, contra a vontade do rapaz. Elvira ainda o coloca numa confusão e ele entra escondido na mesma embarcação da comitiva de Leopoldina, onde ele conhece e se apaixona por Anna, que acompanha a princesa na viagem. “Elvira é a antagonista, mas é adorável. Chegando aqui acontece tudo de ruim com ela. E vai se virando, até que descobre que o marido está vivo”, antecipa Thereza.
Ela e Marson lembram que, a princípio, pensaram numa outra história para a estreia deles como autores principais. Aquela primeira ideia acabou não passando pelo crivo de Silvio de Abreu, diretor do departamento de dramaturgia diária da Globo. Começaram a focar, então, na faixa das 18h, na história que queriam contar nesse horário - e que não precisava ser necessariamente histórica. “A gente acabou chegando a essa época, porque é a construção do Brasil”, afirma Alessandro Marson. “Era uma época em que as mudanças eram muito grandes, os europeus chegando, tinha príncipe, princesa, e realmente aconteceu. Por que não mostrar isso?”