Antes de passar a palavra ao promotor Henry Vasconcellos, a juíza Marixa Rodrigues paralisa o interrogatório para que os jurados possam ir ao banheiro. O depoimento de Durval Ângelo já dura três horas. Há alguns minutos Bola escreveu algo em um papel branco e o entregou a um de seus advogados. Ele demonstra cansaço, algumas vezes levando as mãos ao rosto. O réu também fez um lanche na sala do júri, a exemplo de ontem.
17h35 - Durval afirma que um tenente também disse a parentes das vítimas que havia sido proibido de entrar nas dependências do GRE por ordem deste policial de apelido Paulista. "Ele falou para três familiares isso. Para nós ele negou que tivesse sido impedido. Negou também na Polícia Civil".
Depois que o crime passou ser noticiado pela imprensa mineira, falando da atuação de um grupo de extermínio no GRE, e com o decorrer das investigações, segundo Durval, chegaram ao nome de Marcos Aparecido. "Chegamos a acompanhar alguns depoimentos porque as testemunhas estavam intimidadas. Chegamos a ter testemunhas no serviço nacional de proteção a testemunhas".
17h25 -
"Três dias depois do desaparecimento desses jovens, fomos procurar pela esposa de um desaparecido e irmã de outro. Eu mesmo liguei pessoalmente para a delegada de desaparecidos, Dra Cristina Celi, que recebeu a família fora do horário. Não contente com isso, a família passou a investigar por conta própria. A família gravou telefones, entrou em contato com o Corpo de Bombeiros, pedindo para procurar dentro do GRE", disse Durval.
Segundo o deputado, testemunhas afirmaram que os jovens foram perseguidos por uma viatura do GRE, e cita três policiais envolvidos nesse caso, Anderson, Vanderlei e Gilson, e uma moto amarela da marca Twister conduzida por um policial, depois identificado como Paulista - um dos apelidos de Marcos Aparecido.
17h20 -
O deputado contou que Júlio César deu detalhes do crime.
Disse que eles foram "barbaramente torturados e atiçaram cães ferozes neles. Tiveram mordidas no corpo todo dilacerado. Depois disso fizeram microondas com eles. Foram colocados dentro de pneus e atearam fogo. Então eles ficaram queimando até virarem cinzas, exceto as nádegas de um deles", disse Durval. Ele contou que, ainda conforme relato do Júlio César, as nádegas teriam sido jogadas em um lixão. Durval diz, respondendo a Quaresma, que Júlio César não citou o nome de Bola.
17h01 - Depois, segundo o deputado, vieram denúncias de pagamento de diárias fraudadas envolvendo o inspetor Júlio César Monteiro de Castro, seguidas por denúncias que cursos dados por membros do GRE eram cobrados de policiais e agentes. "E finalmente, em maio de 2009, foi o desaparecimento de duas pessoas nas imediações do GRE, tendo como vítimas Paulo César e Marivaldo".
Segundo ele, todas as denúncias foram levadas aos órgãos competentes e se transformaram em processo. Quaresma pergunta o que Durval sabia sobre Júlio César. "Parecia que ele era o chefe do GRE, e ele também era irmão do chefe de polícia. Encaminhamos fitas gravadas dele cobrando diárias". O outro episódio, segundo ele, o Júlio César foi até a Comissão pedindo sigilo levando informações a respeito desse assassinato das duas pessoas. "Depois ele mesmo foi a uma tv e deu uma declaração pública, aí eu encaminhei as informacões que tinha à Corregedoria", disse Durval.
16h45 - Quaresma pergunta se a Comissão de Direitos Humanos já teve ações em relação ao Grupo de Resposta Especial (GRE) da Polícia Civil mineira, uma tropa de elite criada em 2005 que foi extinta por causa de uma série de denúncias de irregularidades. "Fiz umas três ou quatro audiências públicas", disse Durval.
O deputado respondeu que, no fim de 2008, começaram a surgir denúncias ligadas a abuso de autoridade e arbítrio. Depois, sobre o envolvimento de membros do GRE em golpes financeiros com veículos. "Policiais estariam comprando carros com documentos falsos, pagavam uma ou duas prestações e depois vendiam".
16h30 - Durval responde a perguntas sobre a entrevista que fez com Macarrão na penitenciária Nelson Hungria. "Inicialmente, eu perguntei se poderia gravar e filmar, porque é assim que estabelece a legislação, a lei de execução penal. Ele autorizou que tudo dele fosse gravado."
"Perguntei se ele teria algo para dizer fora das câmeras, e ele disse que sim, e não me pediu segredo. Disse que estava sendo motivo de chacota na penitenciária, que ele estava em uma cela com presos de orientação homossexual, e pedia a mudança de pavilhão. Eu assumi o compromisso de falar com o secretário de Defesa Social e a direção do presídio. Ele pediu para voltar para onde estava Bruno, "o amigo dele, o irmão dele".
16h20 - Durval disse que o advogado de Macarrão Wasley César o procurou para pedir proteção a seu cliente, que temia ser morto na penitenciária. O advogado dizia que o seu cliente estava sendo violado em seus direitos, e que havia um plano para que Macarrão assumisse toda a culpa sozinho pelo crime. "Eu, então, fui à penitenciária e gravei uma entrevista com ele". Quaresma perguntou se seu nome havia sido citado pelo advogado, e o deputado disse que não.
16h18 - Segundo o deputado Durval Ângelo, Bruno havia lhe dito que o delegado Edson Moreira teria pedido R$ 2 milhões para livrá-lo da acusação e que teria ameaçado até sua família caso ele não pagasse. Durval disse ter encaminhado a denúncia para a corregedoria, que não viu fundamento na história. Respondeu também que o goleiro não reclamou de nenhum abuso nas investigações.
16h15 - Começou o interrogatório do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de Minas Gerais, deputado Durval Ângelo, a segunda testemunha a ser ouvida hoje. Neste momento, o advogado Ércio Quaresma pergunta sobre o teor dos encontros que teve com Bruno. Segundo Durval, em um desses encontros, Bruno disse que não havia matado a modelo e que não tinha participação no crime, jurando sobre a Bíblia. "O Bruno negou de forma peremptória que tinha matado. Disse que ela teria tomado destino ignorado."
Durval também relatou ter ouvido de Ingrid, atual mulher do goleiro, que havia um plano de uma juíza de Esmeraldas para libertá-lo, e que a magistrada receberia R$ 1 milhão durante um plantão para soltar o goleiro.
16h - No retorno dos trabalhos após o intervalo para almoço, o advogado Ércio Quaresma pediu a palavra para solicitar a responsabilização criminal da testemunha Jailson por falso testemunho. Jailson depôs por quatro horas. Segundo Quaresma, ele teria mentido ao responder que era inocente dos crimes pelos quais foi condenado. Em seu depoimento, Jailson respondeu: "De alguns, sim". Porém, segundo Quaresma, em carta enviada ao então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, em 2012, Jailson teria dito que estava preso há 16 anos e era inocente dos crimes.
O promotor Henry Wagner Vasconcellos imediatamente solicitou o indeferimento do pedido, dizendo que "a ninguém é exigível autorrecriminar-se". "A testemunha em princípio contradisse-se estritamente no que diz respeito a questões que atingem seu status jurídico perante a Justiça penal, sem o apontamento pela defesa de qualquer nódoa em suas declarações relativamente aos fatos em julgamento", afirmou. Depois de alguns minutos, a juíza indeferiu o pedido acatando os argumentos do promotor.
14h16 -
"Acredito que o diabo está orando, pedindo a Deus para ele (Marcos Aparecido) não tomar o lugar dele", disse Jailson, que segue sob interrogatório do advogado de defesa Ércio Quaresma, após um pequeno intervalo.
Jailson contou que teria ouvido as confissões de Bola nos pavilhões da penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, durante o período em que o réu ficou preso ali também. O depoente afirmou, inclusive, que Bola admitiu ter dado "bobeira" ao deixar a foto onde duas pessoas que foram assassinadas aparecem com um x no rosto.
Ele afirmou que o acusado de executar Eliza Samudio assistia o noticiário sobre o caso com frequência na sala de Jailson. O interrogado reafirmou a denúncia de um suposto plano para matar a juíza Marixa Rodrigues. O assassino seria o "Nem da Rocinha".
12h22 - Neste momento, o advogado de Bola, Ércio Quaresma, faz perguntas à testemunha. Primeiro ele tentou desqualificar Jailson, listando os crimes que teria cometido, como um latrocínio.
O advogado também perguntou se o preso já havia "dedurado" outras pessoas. Jailson respondeu que sim, sempre em casos envolvendo policiais e agentes penitenciários. Um deles foi um tenente coronel que "vendia" fugas. Quaresma foi repreendido pela juíza e motivou protestos do promotor ao chamar Jailson de "delinquente contumaz".
12h10
- Nas perguntas que fez a Jailson, o promotor Henry Wagner conseguiu que ele reafirmasse sua versão de que ouviu do próprio Bola que Eliza foi queimada em pneus, e as cinzas, jogadas em uma lagoa. O depoente também chamou o advogado do ex-policial, Ércio Quaresma, de "noiado". Ele disse isso ao identificá-lo em uma foto mostrada pelo promotor. "Neste dia da foto, o Bola ficou me ameaçando dizendo que eu era peixinho pequeno para ele", afirmou.
10h07 - Começa o segundo dia de julgamento de Bola, ex-policial acusado de ser o executor de Eliza Samudio, a mando do goleiro Bruno Fernandes, que era amante da modelo. Para
o promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcellos, responsável pela acusação do réu, a
estratégia da defesa de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, de prolongar ao máximo os interrogatórios das testemunhas é um tiro no pé, na medida em que cansa os jurados e provoca neles uma antipatia em relação ao acusado.
Na segunda-feira, primeiro dia do júri, o depoimento da delegada Ana Maria Santos durou 6 horas e 40 minutos, das quais cinco horas foram usadas pelos advogados de Bola. Um deles, Fernando Magalhães, já afirmou que pretende prolongar o julgamento para até dez dias. "Só para o delegado Edson Moreira temos perguntas para 24 horas de interrogatório", afirmou o defensor.
Nesta terça-feira, 23, segundo dia do julgamento do acusado de matar Eliza Samudio, a mando do goleiro Bruno, os trabalhos começam com o depoimento da testemunha Jailson Alves de Oliveira, preso na mesma penitenciária que o réu, no município de São Joaquim de Bicas. Jailson denunciou ter ouvido várias vezes Bola confessar que matou Eliza e ter jogado suas cinzas na água. O julgamento está sendo realizado no Fórum de Contagem, onde o goleiro Bruno foi condenado a 22,3 anos de prisão em março. Seu braço direito, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, foi condenado a 15 anos em novembro de 2012.