Ricardo Lewandowski devolveu a esperança, a confiança e o sorriso à defesa dos réus do mensalão. A absolvição do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) fez seu advogado, o criminalista Alberto Zacharias Toron, deixar o Supremo Tribunal Federal no início da noite reverenciando "a densidade" do voto do ministro revisor e se declarando "muito feliz, muito feliz mesmo", enquanto era cumprimentado e beijado por colegas de beca. "Toron, você é dez, dez, dez", abraçou-o Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende o marqueteiro Duda Mendonça.
O voto de Lewandowski empolgou até quem não foi julgado ontem. Márcio Thomaz Bastos, o decano dos causídicos, viu na manifestação do revisor a brecha que esperava para retocar sua estratégia em favor do cliente, o executivo Roberto Salgado, do Banco Rural. "Provavelmente, apresentaremos novo memorial à luz das discussões de hoje (ontem). O contraditório (entre revisor e relator) é sempre melhor que o monólogo."
A defesa andava carrancuda, apreensiva até, sobretudo ao final da sessão de quarta-feira, quando o revisor se pôs a condenar implacavelmente - Henrique Pizzolato, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e dois peculatos; Marcos Valério e seus ex-sócios, Cristiano Paz e Ramón Hollerbach, por corrupção ativa e dois peculatos. Mas, ontem, o cenário mudou.
"Vamos ter agora dois pontos de apoio, o voto do relator e o do revisor, para que os outros ministros façam as suas opções, ou até apareça uma terceira posição", declarou Thomaz Bastos.
O fator Lewandowski o faz mirar lá na frente alguma medida que possa fazer esticar no tempo a solução final do julgamento.
Para Toron, Barbosa "não apenas ignorou as provas dos autos, como as que apresentou foram distorcidas". Indagado sobre o fato de o revisor ter condenado todos os outros réus desse bloco e absolvido o deputado, ele ponderou: "As imputações são diferentes. Mas ainda não há nada a ser comemorado, vamos aguardar a continuação do julgamento." Ao sair do plenário, ele deparou com foguetório dos grevistas no entorno da Corte e não resistiu: "É por causa do João Paulo?"