A empresa Delta
Construções S/A, citada em diversas gravações da Operação Monte Castelo
(caso Cachoeira), recebeu R$ 4 bilhões do governo federal desde 2001, em
valores correntes. Naquele ano, a construtora recebeu R$ 41,4 milhões
da União. Em 2011, o valor chegou a R$ 884,5 milhões. Se considerarmos,
os contratos da instituição com a administração federal direta
(excluídas as empresas estatais) desde 1996 os valores cresceram em 193
vezes.
O grande salto ocorreu
com a criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em 2007.
De lá pra cá, a construtora de propriedade de Fernando Cavendish só não
ocupou o primeiro lugar entre as empreiteiras do PAC em 2008, quando
recebeu R$ 324,2 milhões, cerca de R$ 2,3 milhões a menos que a
Construtora Queiroz Galvão. Em 2009, embolsou R$ 675
milhões, atingindo o valor recorde do ano passado, o maior desembolsado
para uma empreiteira na história do PAC. Este ano, a construtora já
recebeu R$ 156,9 milhões.
Tomando em conta as
empreiteiras do PAC, o principal “cliente” da Delta dentro do governo
federal é o Ministério dos Transportes. Em 2011, por exemplo, dos R$
884,5 milhões recebidos pela construtora, R$ 796,8 milhões foram pagos
pela Pasta. No exercício anterior a relação não foi diferente. Do total
de R$ 769,1 milhões embolsados, cerca de R$ 674,4 milhões foram dos
Transportes.
Criada em 1961, a empresa
conta com mais de 22 mil funcionários em todo o país e atua em
segmentos diversificados como rodovias, saneamento, engenharia
ambiental, energia e montagem industrial. De acordo com o portal da
instituição, o grupo Delta possui quatro empresas: Delta Construção,
Delta Energia, Delta Incorporação e Delta Montagem Industrial.
Ao
longo dos últimos anos, a construtora atuou em empreendimentos
importantes, como os que deram estrutura aos Jogos Panamericanos de
2007. A construção do Estádio Olímpico João Havelange e do Parque
Aquático Maria Lenk, foram realizadas pela empresa em parceria com
outras empreiteiras.
Além disso, a Delta foi
responsável pela construção da nova pista do Aeroporto Internacional de
Cabo Frio, em 2006, e por obras de reurbanização no Complexo do Alemão
em 2008. Atualmente, além de cuidar da limpeza pública do Distrito
Federal e de Anápolis-GO, a empresa também é uma das construtoras que
estão reformando o Estádio Maracanã.
Ao todo, a Delta possui
300 contratos em 23 Estados e no Distrito Federal. Só em Brasília, R$
88,9 milhões foram pagos em 2011 à empresa pelo Serviço de Limpeza
Urbana (SLU) do governo distrital. O estado do Rio de Janeiro foi
responsável por contratos que repassaram cerca de R$ 55 milhões à Delta
no mesmo ano, em obras de urbanização e de implantação do Parque
Madureira. Ao todo, o volume de contratos do estado com a empresa desde
2002 já chega à cifra de R$ 450 milhões.
O governo de São Paulo
também chegou a celebrar contratos com a Delta no ano passado, quando R$
12,9 milhões foram liquidados para pagar serviços que vão de
conservação de estradas às execuções de obras e instalações.
Segundo matéria do
jornalista Hugo Marques no final de 2009, a Controladoria Geral da União
(CGU) enumerou irregularidades em 14 obras da empresa de Cavendish no
PAC, em contratos que somavam R$ 200 milhões com o DNIT. Na lista da CGU
estavam pagamentos por serviços não executados, alteração contratual
com acréscimos financeiros não previstos em lei e serviços duplicados
realizados no mesmo trecho.
Com tantos contratos, a
Delta tem se envolvido em assuntos no mínimo polêmicos por todo o país.
Em Minas Gerais, por exemplo, a construtora foi investigada por usar
documentos com informações falsas para participar da licitação da via
Linha Verde, que liga o aeroporto de Confins à cidade de Belo Horizonte.
Outras denúncias ligadas
às licitações foram feitas no Ceará e no Paraná. No estado do sul, a
Delta foi uma das empresas caçadas pela Operação Empreitada, que
identificou envolvimento de construtoras em fraudes. Cavendish negou as
acusações. No Rio de Janeiro, por sua vez, foram encontrados indícios de
irregularidades na obra do Arco Metropolitano.
Por outro lado, segundo
levantamento realizado pelo Contas Abertas, do total de recursos pagos à
Delta em 2011 (R$ 884,5 milhões), R$ 824,3 milhões foram decorrentes de
contratações na modalidade de licitação “concorrência”. Com dispensa de
licitação, foram contratados R$ 53,9 milhões.
A Delta também é
responsável por doações eleitorais no valor de R$ 2,3 milhões à direção
nacional do PT e PMDB, referentes às últimas eleições de 2010. Os
repasses foram de R$ 1,15 milhão a cada partido, com datas de 17 e 21 de
setembro e 27 de outubro de 2010 – segundo dados do TSE. Nas eleições
anteriores, em 2008, a empresa desembolsou R$ 100 mil para auxílio ao
“comitê financeiro municipal para prefeito” do PMDB, em Ji-Paraná, RO.