De olho em 2014, Eduardo Campos e Aécio Neves estudam cada gesto político desde já
A pouco mais de dois anos da próxima eleição presidencial, líderes
políticos já estão com os olhos voltados para 2014. Para eles, a longa
travessia até o Palácio do Planalto começa agora. Sabem os
presidenciáveis que, apesar do caráter local, o pleito de outubro irá
muito além da escolha de prefeitos e vereadores. A disputa de 2012 é
peça-chave na corrida pela Presidência da República – é a partir dela
que se forma a base política que se engajará na campanha eleitoral.
Além de escolher (e ser escolhido para) o papel principal, o
protagonista tem que merecer o posto. É preciso sabedoria para conduzir o
cenário político até 2014. E força para bancar um projeto de governo
que conquiste o eleitor, que levou, em 2010, a presidente Dilma Rousseff
ao Planalto após os oito anos de governo Lula.
A oposição admite que o papel é disputado e sabe que precisa trabalhar
duro para elaborar um projeto que concorra em pé de igualdade com o do
governo. “Estamos num processo de movimentação e mobilização do PSDB”,
diz o presidente nacional do partido, deputado Sérgio Guerra. “O partido
precisa retomar suas bases."
Os tucanos já escolheram o seu protagonista. Ao menos por enquanto,
escalaram o senador mineiro Aécio Neves para percorrer o país com o
objetivo de resgatar a militância e dar um novo gás ao partido. Aécio
deu início a um giro pelo país no segundo semestre do ano passado e já
esteve em mais de 15 estados, entre eles Paraná, Bahia, Ceará e Goiás.
Na semana passada, desembarcou em Rio Branco, no Acre, para uma palestra
sobre gestão pública para militantes do PSDB. Antes, porém, cumpriu
agenda de presidenciável e visitou o bairro do Taquari, atingido por
enchentes no início do ano.
Na pauta oficial, a discussão sobre os problemas brasileiros. Nos
bastidores, porém, a preocupação dos tucanos com dois pontos
específicos: a estruturação dos palanques e ampliação das alianças, não
só com os partidos de oposição, mas também - e principalmente - com os
da base do governo Dilma; e a formação de um novo discurso nacional do
PSDB, que unifique a legenda para chegar em 2014 como uma alternativa
viável à gestão do PT. Temas como saúde e segurança pública são tidos
como prioritários para os tucanos. "Temos que, de alguma forma,
emoldurar o discurso local com as propostas nacionais do PSDB para que
as pessoas tenham a percepção permanente de que partido tem um projeto
nacional", diz o senador.
Nos próximos dias, ele visitará Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. E
também se prepara para desembarcar, ainda neste semestre, no Nordeste,
onde Dilma teve 10,7 milhões de votos a mais que o tucano José Serra em
2010. A missão de Aécio é levar a popularidade de sua gestão em Minas
Gerias para o resto do país. Em 2010, o ex-governador mineiro foi eleito
senador com 7.565.377 votos (39,47%).
De olho nas grandes cidades - A preocupação do PSDB é
reorganizar e emoldurar a legenda para o pleito de outubro. Mas sempre
com um olho nas próximas eleições presidenciais, é claro. O objetivo é
sair das urnas este ano com ao menos mil prefeitos. Hoje, o partido
comanda 793 prefeituras. Assim como o PT e o PMDB, os tucanos também
estão focados nas 118 cidades do país com mais de 150 000 eleitores.
O comando do partido acredita que o fato de conseguir eleger oito
governadores em 2010 mudará a representação do PSDB no país. Hoje, o PT
comanda 33 desses grandes municípios – é o partido com maior presença
nessas cidades. O PMDB vem em segundo lugar, com vinte; o PDT com
dezesseis; PSDB, catorze; e PSB com nove.
Candidato óbvio - Aécio não foi escolhido à toa.
Apontado como “candidato óbvio” do PSDB à Presidência da República pelo
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, media forças com o
ex-governador José Serra, que não abria mão da disputa pelo Planalto em
2014.
A aproximação do afilhado político de Serra, o prefeito Gilberto
Kassab, com o PT e a possibilidade real de o PSDB perder o comando da
capital paulista para o partido do ex-presidente Lula ajudaram a
convencer Serra a concorrer no pleito municipal. O ex-governador afirmou
que o desejo de ocupar o Palácio do Planalto está “adormecido”, pelo
menos até 2016. E abriu espaço para Aécio Neves.
Na última quarta-feira, três dias depois de Serra ganhar as prévias do
PSDB para a prefeitura, Aécio deu seu grito de liberdade. Subiu à
tribuna do Senado com aquele que foi, em quinze meses de mandato, seu
discurso mais duro contra o governo Dilma. "Para onde quer que se olhe, o
cenário é desolador", afirmou. “A presidente estaria refém do seu
próprio governo. É como se não tivesse sido a autoridade central nos
oito anos da administração anterior. É como se ela não houvesse, de
próprio punho e com a sua consciência, colocado de pé o atual governo,
com as suas incoerências e incongruências irremediáveis”.
Inaugurou, assim, uma nova fase, na qual assume de vez o papel de
“candidato óbvio” do PSDB à Presidência da República. E agora sem
constrangimento, tampouco cerimônia. Sem reservas e adversários internos
– de novo, ao menos por enquanto – Aécio se colocou à disposição do
partido para ser o líder da oposição. Em público, no entanto,
ele prefere manter o discurso oficial, de que ainda não é o momento de
discutir 2014. “Venho fazendo isso como militante partidário”, diz.
Fase de teste - O parlamentar mineiro sabe que seu
comportamento está sendo observado. No início de fevereiro, dias antes
de elevar o mineiro a candidato a presidente, FHC publicou o artigo Crer e Preservar,
no qual perguntava: “Aécio Neves está em fase de teste: transmitirá uma
mensagem que salte os muros do Congresso e chegue às ruas? Encarnará a
mudança com a energia necessária e o desprendimento que é o motor da
ousadia, se arriscando a dizer verdades inconvenientes, e aparentemente
custosas eleitoralmente, para que o povo sinta que existe ‘outro lado’ e
confie nele para abrir perspectivas melhores?”.
As respostas a FHC começaram a ser rascunhadas pelo PSDB, que quer
apresentar o senador ao Brasil. “Aécio precisa ganhar dimensão
nacional”, admite Guerra. “Nosso objetivo é fortalecer a presença dele
nos estados e tornar seu nome conhecido”.
O senador sabe que precisa mostrar a que veio. “Aécio é ainda uma
liderança estadual, mas pode ter nessas eleições um teste de
popularidade”, afirma o historiador Marco Antônio Villa. “Ele vai poder
medir a força política que tem para encarar sua pretensão nacional”.
Eduardo Campos - Com o sonho de seu maior adversário
adormecido, Aécio terá que enfrentar, além da máquina do governo, as
ambições do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB,
Eduardo Campos, que ainda não decidiu se quer alçar voo solo ou ser vice
de Dilma em 2014. “Eduardo Campos é uma figura jovem e bem sucedida que
não pode deixar que as articulações dessa campanha comprometam a
atividade no estado que ainda está governando”, diz o cientista político
Rui Tavares Maluf, coordenador da área de pesquisa de Opinião Pública e
Inteligência de Mercado da Fundação Escola de Sociologia e Política de
São Paulo.
Campos sabe muito bem disso. Tanto que avisou o ex-presidente Lula que
não tomará qualquer decisão sobre uma possível aliança em torno da
candidatura de Fernando Haddad, pré-candidato do PT à prefeitura de São
Paulo, antes de junho. O governador pernambucano quer ganhar tempo. Não
só para cacifar ainda mais o PSB, como também para esperar a decisão da
Justiça Eleitoral sobre o tempo de TV e o fundo partidário do PSD do
prefeito Gilberto Kassab.
Campos foi um dos principais parceiros de Kassab na formação do PSD,
legenda com a qual o prefeito de São Paulo pretende acumular conquistas
que vão além do território paulistano. Kassab aposta que o governador
pernambucano será o grande destaque da eleição de 2014. E, por isso,
pode ajudar a alavancar seu projeto nacional.
Mesmo assim, o comando do PT ainda aposta que dificilmente o governador
dirá não a um apelo pessoal de Lula. Campos foi ministro no primeiro
mandato do ex-presidente e considera o petista seu fiel aliado e
padrinho político. "Ele vai levar em conta [o pedido de apoio em São
Paulo] porque sabe qual é a importância da eleição de Fernando Haddad",
disse o presidente do PT, deputado Rui Falcão, há uma semana, depois de
participar de um encontro entre o governador e o ex-presidente.
Os petistas acreditam também que as aspirações nacionais de Campos para
2014 pesarão na decisão. O PT quer o PSB na aliança para a reeleição de
Dilma Rousseff e está disposto a colocar o pernambucano como candidato a
vice. "Temos um projeto nacional que se iniciou com o Lula e queremos
mantê-lo”, diz Falcão. “O importante é que, independentemente de
disputas locais, queremos manter este projeto".
Mas Campos está acompanhando de perto as alianças municipais para
fechar seu mapa de coligações. Não quer correr o risco de ver os planos
para o Palácio do Planalto prejudicados. Não por acaso, a aliança em São
Paulo será decidida no último momento. É ela que pode abalar de maneira
mais significativa sua proximidade com o ex-presidente Lula e Dilma
Rousseff.