Dona Dilma Roussef herdou o lulismo, mas tem um estilo bem diferente do Lula.
Esse jeito de demitir em cinco minutos o Nelson Jobim, “que se achava”. Jobim, o todo poderoso Ministro da Guerra, ex-ministro do Supremo, ex-deputado, ex-presidente do TSE. Em cinco minutos, após um telefonema, sem discurso, sem choro nem vela, Jobim estava no olho da rua.
A sobriedade da Dilma de não dar declarações lacrimosas e falsas sobre “este grande companheiro sempre ombro a ombro nas lutas da classe operária, etc, etc” mostra um respeito pela opinião publica que o Lula nunca teve.
Há uma diferença de formação. Lula, vindo do setor de viúvas e pensionistas do sindicato fortalecido pela ditadura militar em detrimento da tropa de choque das portas de fábrica, especializou-se na conversa mole, tapinha nas costas e lembrar o nome de todos.
Já a Dilma, estudante riquinha que sonhava, um dia, pegar em armas e fazer a revolução em nome dos operários que não queriam fazê-la, desenvolveu um jeito mais reservado, cortante, econômico de palavras e gestos teatrais. Foi a vida clandestina, mais a tortura quando a pegaram, mas alguns anos de cana no presídio Tiradentes.
Dilma vai bem, mesmo com essa quedinha no Ibope que reflete a situação internacional de crise.
Dilma está agradando à classe média, mesmo a que não votou nela. A classe média é a que paga impostos, e gosta quando se dá vassouradas na ladroagem.
Dilma caiu num antro
O palácio do Planalto é uma colcha de retalhos. O Esquema lá é a troca: nós deixamos você governar, mas em troca queremos favores políticos e monetários.
Não é agradável, principalmente para mim, que lutei contra a ditadura, mas temos de dizer a verdade: este esquema de toma lá – dá cá foi inaugurado junto com a redemocratização do país, em 1985. Porque antes, no regime duro, as coisas feias também aconteciam, mas os paisanos tinham medo dos milicos. Estes também faziam das suas com as empreiteiras, e não poucas nem pequenas, mas a farda cobria tudo. Havia contenção, e o dinheiro não era muito. As pessoas mesmo eram menos consumistas e havia menos “objetos de desejo”. As garagens do Senado estavam menos cheias de carros de funcionários que custam 200 mil reais.
Faltou aos políticos de após Tancredo em 1985 a dignidade da função e o sentimento de que eram provisórios delegados do povo por tempo limitado. Transformaram-se em classe por si e para si, e para a família que vivia e se reproduzia em Brasília.
Vocês sabem como é: a filha cresce, casa, engravida, temos um genro desempregado, vamos arrumar alguma coisinha para ele no gabinete. Ou, se for esperto e tiver um diploma, numa estatal, num Ministério, Fundação, Diretoria. Lugar não falta, se faltar a gente cria. É preciso cavar, reservar e depois inserir na lista de pedidos que o deputado vai colocar ao seu líder, que por sua vez vai propor à presidente, em troca do voto.
Todos os governos que vieram depois da ditadura militar serviram-se do modelo. A democracia não foi entendida como cortês e civilizado choque de opiniões e sim como troca de favores, toma lá dá cá de feira livre.
Brasília é uma cidade de pendurados ou candidatos a um cabide de privilégios.
OS DESAFIOS DE DILMA
Na letra fria da constituição, Dilma Roussef é presidente da República. Na prática, é apenas inquilina de um Planalto aparelhado, rigidamente controlado por centenas de funcionários que conhecem a máquina muito melhor do que ela e sempre estão a serviço de algum político. É um sistema viciado como o jogo de dados num cassino.
Novidade na política, senhora de um perfil técnico, Dilma está tirando os cupins e passando cera. Faz cara de quem não gosta, e creio sinceramente que ela não gosta. Bem ou mal foi o sistema que ela ajudou a criar, mas tem limites.
Em oito meses, Dilma assistiu seis ministérios se converterem em escândalo; está sendo rigorosa, mas o que acontecerá quando o bisturi chegar mais fundo, às carnes necrosadas do PMDB e do PT?
Veremos, torcemos por esta valente senhora.