GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer
Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Guilherme Araújo apresenta novidades para uma nova gestão com o PRB, muitas mudanças vão acontecer, vejam quais serão prioridades:


Transportes públicos: será criada secretaria de transportes e extinta a secretaria de transito, essa secretaria vai se transformar em uma diretoria dentro da secretaria de transportes. Essa diretoria tem a responsabilidade de refazer os itinerários e horários e será obrigatório ter no mínimo 01 (um) ônibus circulando nos horários de 00h00min a 05h00min.

Saúde: concursos públicos e contratação emergencial de médicos e profissionais da saúde, construção de 01 (um) hospital municipal de base, 01 (uma) policlínica especializada em pediatria, mulher e geriatria com atendimento 24horas;

Funerária: será criada uma funerária municipal e os munícipes terão os sepultamentos gratuitos desde que tenha o rendimento de 01 (um) salário mínimo vigente;

Funcionários públicos: plano de carreira e melhor salário, concursos em todas as áreas.

Educação: regularizar os salários dos profissionais da educação tendo como base os mesmo salários que são pago São Sebastião com, mas 5% em gratificação.

Monstruosidade maravilhosa


Uma carta-manifesto do cineasta Felipe Bragança por uma arte que recupere
medos e delírios do Rio de Janeiro, contra sua redução a centro de convenções

Acompanhando um encontro aéreo improvável entre o Capitão Nascimento e Blu, o pássaro azul do desenho animado “Rio”, o cineasta Felipe Bragança descobre um ângulo novo de um panorama que parece já bem mapeado. Em aparência opostos no modo como “desvendam” e passam a representar o Rio de Janeiro, em filmes de grande sucesso comercial, os personagens se aproximam numa rejeição comum aos problemas cariocas: Nascimento ao deixar a cidade corrupta e voar para Brasília, no final do filme de José Padilha, Blu em seu sobrevoo por um Rio idealizado e reduzido a cartão postal. Jovem diretor com dois filmes em cartaz no Rio (“A alegria” e “A fuga da mulher gorila”), Bragança defende nesta Logo que uma arte interessada na democratização da cidade precisa distinguir entre o desejo de paz legítimo e a ocultação dos conflitos, para evitar a redução da cidade a um “balneário de eventos”. (Miguel Conde)

Felipe Bragança

Arquitetos, urbanistas, escritores, cineastas — esta aqui é uma carta: há algo de muito relevante que precisa vir à tona nos questionamentos sobre as formas e os caminhos da cantada “revitalização” da cidade do Rio de Janeiro, e que está além da especulação imobiliária ou da ação policial nessa ou naquela área da cidade como forma de controle criminal. Trata-se aqui também da economia simbólica da cidade e do que está em jogo nela nesse momento histórico de “limpeza” e “ordem” em que, como contraponto ao “inferno da violência”, parece querer se erguer uma cidade calcada numa representação plástica de si mesma.

A pergunta que me faço é: a reordenação de uma cidade passa necessariamente pelo desaparecimento de seus monstros e fantasmas? É impossível pensar uma cidade menos cruel com seus habitantes sem que no conjunto social da crueldade se inclua também aquilo que há de positivo e afirmativo no imaginário violento e caótico do Rio, hoje? “Positivo e afirmativo?” Sim. É importante que na recomposição de signos que a cidade hoje passa, se coloque em xeque a ideia da violência como um dado meramente negativo, criminal, perigoso ao bem-estar da cidade. E se perceba que a pacificação policial da cidade não pode significar uma pacificação de seus signos, de seus mistérios, de seus delírios e sua imaginação.

Zerar as mazelas da cidade e substituí-la por um projeto asséptico e ordeiro de urbanidade é mesmo a única ação possível para uma ocupação mais complexa e democrática da cidade? Como pode sobreviver um organismo vivo — cidade, corpo — se seus medos e delírios forem varridos como erros, se seus ruídos forem banidos como “falhas no sistema”? Depois de duas décadas cercada pela dicotomia “paraíso tropical” x “inferno da violência”, a cidade respira hoje ares de sobrevoo sobre si mesma — como se fosse possível mover um corpo complexo da urbe por um grande processo de panorâmicas onde Capitão Nascimento e Blu (o papagaio azul de “Rio”) se encontram entre as nuvens numa síntese perigosa: a “cidade real” é um dado a ser negado porque desumano (o personagem foge para Brasília como paladino da justiça) e a cidade sonhada é algo a ser celebrado também porque desumano. Entre a negação absoluta de suas entranhas de
corrupção e a celebração de suas maravilhas simuladas, o Rio se insurge contra si mesmo e a favor de uma imitação de futuro.

Que esta é uma cidade de imitações, não é novidade: o Rio já quis ser Lisboa quando Lisboa já havia, já quis ser Paris quando Paris já havia, Miami quando Miami já havia… e agora quer, enfim (?), ser o Rio. É evidente que, como cidade de imitações, a cidade precise se espelhar em si mesma como imagem ícone/cartão-postal para se afirmar. Mas esse é o desafio simbólico: como lidar com uma cidade que quer se imitar? Que tenta cada vez mais ser parecida com aquilo que sonha de si — como numa plástica, num plágio?

É evidente que nesse processo de imitação, de mímica, todo tipo de erro, de ruído, de forma menos polida, é contraproducente para o imitador — e a cidade hoje como um mímico parece se espelhar nos gestos mais facilmente identificáveis dessa cidade mitológica e paradisíaca à beira mar que um dia a Bossa Nova cantou como desejo e que hoje se transformou numa espécie de “obrigação moral”, como norma de conduta. Mas uma pacificação precisa mesmo ser confundida com uma apaziguamento das forças criadoras da cidade? A Lapa imitará apenas a Lapa, o samba o samba, Ipanema Ipanema, o Cristo o Cristo, o carnava o carnaval. Seremos uma cidade melhor se limitarmos de nosso imaginário os nossos erros, desvios e defeitos? Filha de seu caos original, essa cidade criada em torno de um porto, receptora e liquidificadora de signos, pelo mangue e pelo aperto entre o mar e a floresta — o Rio de Janeiro nunca foi encantador e potente por ser confortável e aconchegante, acolhedor. Desde sempre, sua sedução se construiu pelos mistérios de suas ruas, pelo sangue no asfalto, pela floresta de fantasmas, escravos fugidos, crimes, medos, sonhos, umidade, calor demais, desamparo. A potência estética e criativa do Rio sempre esteve ligada diretamente a seu lugar de desafio, de certo distanciamento sedutor que dava a ela mais vivacidade do que a de um balneário de eventos de corpo aberto para ser ocupado.

O que eu estou tentando dizer é que os signos da insegurança, da dúvida, das sombras, do incerto, sempre foram essenciais para o lugar da cidade como pólo de ebulição criativa, de uma cidade teimosamente incrustada num desconforto geográfico e fruto do embate. Criminalizar a violência cultural do Rio de Janeiro seria negar a gana fervente que deu origem a alguns de seus maiores patrimônios imaginários. Sempre foi da febre (não da saúde) que a cidade gerou seus gestos mais politicamente potentes, culturalmente impactantes e geradores de novas possibilidades de vida e representação. Junto da retomada dos espaços físicos pelo Estado diante de uma criminalidade que se apontava descontrolada, é preciso também uma retomada do próprio conceito de violência e medo e delírio e fantasmas nessa cidade densa, espirituosa, monstruosa. A cidade não pode se travestir de princesa e negar seus gestos sanguíneos, violentos, fortes. O risco e a perda simbólicas seriam incalculáveis. Num panorama politico de ações de limpeza, me parece ser papel
dos escritores, dos cineastas, dos artesãos do imaginário, uma dedicação diária a se trazer à tona nossos monstros, fantasias e fantasmas como antídoto dentro do panorama de deflação do espírito em que o novo planejamento da cidade nos tem levado. Uma cidade que possa retomar a si mesma não como baile de debutantes bem perfumado, como peeling negando o erro, mas como festa necessariamente inconclusa e porosa.

Diante do realismo pacifista ou belicoso dos telejornais e do discurso oficial, é necessária uma reação fantasiosa, delirante e mágica da cidade, lidando com gêneros, com sonhos e ilusões: através de filmes, livros, histórias, músicas, pulsos culturais capazes de manter viva a monstruosidade maravilhosa da cidade e seus enigmas. É um território de luta estética essencial hoje para as ações de nossos escribas, criadores de imagens, filósofos, músicos — manter viva a fantasmagoria das ruas, que nos proteja de uma cidade sem sombras, sem dúvidas e sem delirios. Uma economia imagética da fantasia, do mistério, da margem e do onírico — vistos não como fuga do “real incontornável” mas como uma necessária acumulação de camadas poéticas que venham na contramão combativa da raspagem cultural pela qual a cidade vem passando em seu intuito de cidade clara, ampla e limpa como um salão de eventos internacionais. É hora de convocar e atualizar os porões do centro da cidade, os vultos das ruas, os fantasmas de nossa memória de embates e rupturas e as máscaras que possam ampliar as expressões de nossos rostos para além do medo paralisante que nos tomou nas últimas décadas ou da bonança apaziguada que se vende agora como antídoto. É lugar do gesto da arte, nessa cidade que se quer nova, reunir a experimentação com a memória mágica (não a nostalgia de quem acha que a potência cultural da cidade parou nos anos 1960) de nossas festas e ruas e gerar alguma brecha desviante em direção a uma cidade que sonhe e delire e se desafie... E que não se aceite como uma cidade congelada (dopada?) em um menu de paisagens.

A sala de aula, desconectada

Não podemos ignorar, no processo de aprendizado escolar, as tecnologias de informação e comunicação

TRINTA ANOS depois do primeiro PC, só 7% dos coordenadores pedagógicos das escolas brasileiras acreditam que seus professores sabem preparar uma apresentação em PowerPoint. Há 15 anos na era das redes, só 20% dos professores dizem estar na web, a partir da escola, quase todos os dias.
Tal estado de coisas só não é mais preocupante porque 69% dos professores com menos de 30 anos revelam estar na rede a partir de casa, todo dia ou quase, realizando atividades associadas ao seu papel na escola.
Os dados são da pesquisa sobre as TICs (tecnologias da informação e comunicação) nas escolas, empresas e domicílios, publicada pelo CGI.br (Comitê Gestor da Internet brasileira) -ver o link bit.ly/ra829Z.
Você poderia dizer que o papel dos professores, na escola, é "dar aulas". Mas não, não é. O principal papel dos professores, em todos os níveis, é conduzir processos de criação de oportunidades de aprendizado. E isso pode ser feito de muitas formas, entre as quais a aula.
Mas a aula à qual estamos acostumados -normalmente a explanação de um texto conhecido, quando não a repetição pura e simples, na escola, do material que os alunos poderiam ter lido em casa para discutir em sala- já deveria ter sido proibida há décadas.
Talvez "proibida" seja muito forte neste contexto. Mas você já imaginou a quantidade de tempo e de gente que se perde, mundo afora, ouvindo o professor recitar, e muitas vezes mal, um texto que poderia ser lido antes da aula, especialmente pelos maiores, para um debate em sala?
Será que o processo de aprendizado mudaria significativamente se todos os professores soubessem preparar e realizar uma apresentação em PowerPoint, talvez resultado de terem mais acesso à internet na escola? Não necessariamente, até porque o domínio da tecnologia para expressar o conteúdo não significa domínio do conteúdo.
E estamos cansados de saber que um dos maiores problemas dos professores dos primeiros níveis de ensino é sua formação, em cursos de pedagogia que, se têm pouco a ver com as necessidades reais das escolas, estão quase sempre abaixo da crítica no que tange à qualidade de seu próprio processo educacional.
Ainda por cima, de que adiantaria preparar uma apresentação computacional, gráfica e interativa, se apenas 4% das salas de aula têm um PC para apresentá-la?
Ocorre que as tecnologias de informação e comunicação não podem mais ser ignoradas no processo de aprendizado, até porque são parte da linguagem dos aprendizes.
Internet, redes sociais, jogos digitais, smartphones não são uma raridade exótica na realidade dos alunos. Mais de 85% das residências têm celular, 35% têm computador, 31% estão ligadas à internet.
A sala de aula, coitada, está desconectada. Entre os 44% dos brasileiros que usam computadores com alguma frequência, 50% sabem usar uma planilha e manipular som e imagem e, surpreendentemente, 18% têm alguma competência em programação. Aí é que a escola, os professores e a sala de aula ficaram, em termos de competências em TICs, muito atrás da média da população.
O que quer dizer, também e auspiciosamente, que as oportunidades de aprendizado pularam o muro da escola e foram para a rua, onde estão situadas, do ponto de vista das TICs, mais competências do que no sistema educacional.
Isso é bom, porque indica que pessoas e empresas não estão dependendo só da escola e de sua dinâmica para aprender, o que realmente deveria ser o caso em uma sociedade "em rede", de informação e conhecimento.
Mas quer dizer também que a escola é quase irrelevante para o aprendizado de um vasto conjunto de fundamentos e de técnicas que são essenciais no trabalho e na vida de qualquer um, hoje e no futuro, qualquer futuro.
O estudo do CGI.br aponta problemas antigos, crônicos e diagnosticados há anos, que já poderiam ter sido tratados de múltiplas formas, se o sistema educacional tivesse a prioridade que deveria ter em um país que, se no passado era "do futuro", quer, no presente, estar "no futuro".

Milagre em Caraguatatuba

A camara municipal de Caraguatatauba esta cheia de parentes de vereadores doando todo o seu tempo diario para trabalhar na Camara. 
O mais intrigante disso tudo é que como eles conseguem sobreviver já que não recebem nenhum tipo de auxilio dos seus parlamentares? 
Alguem pode me explicar essa magica? 
O promotor da cidadania de Caraguatatuba bem que podia da uma olhadinha nessa situação e conferir mas esse milagre que acontece em Caragua.
Ai vai um dica...
Vereador Baduca Filho, como vc consegue fazer esse milagre?

Três letras e uma armadilha

A reação contrária dos analistas de mercado ao polêmico corte dos juros básicos, na reunião do Copom da semana passada, mesmo muito mais forte do que o usual, não chegou a surpreender. Acostumados a um Banco Central disposto a apertar o gatilho de alta na taxa Selic ao primeiro sinal de escape dos preços a uma trajetória de convergência para o centro da meta de inflação, os analistas já andavam desconfiados com o comportamento do BC da presidente Dilma Rousseff. Com a decisão do fim de agosto, as desconfianças em relação à perda de autonomia e ao abandono do regime de metas elevaram-se ao nível das certezas.

Se bem que a redução de 0,5 ponto porcentual na taxa básica tenha sido apoiada por representantes de setores da chamada economia real - o que surpreende menos ainda -, não é bom que a credibilidade do BC seja posta em xeque por um amplo segmento de formadores de expectativas de preços, como é o caso do setor financeiro.

O pior de tudo é que tanta celeuma acaba confinada a uma estreita faixa de manobra. Por mais que a economia mundial desabe e o novo mix da política macroeconômica brasileira - combinação de expansão monetária e contração fiscal - faça sentido, seu alcance, no quadro atual, tende a ser muito restrito.

Desde que o Plano Real recuperou a capacidade de o BC promover políticas monetárias ativas, o que foi reforçado pelo sistema de metas de inflação, a economia brasileira jamais deixou de figurar entre as campeãs dos juros altos. Toneladas de papel, litros de tinta e milhares de horas de seminários e workshops foram gastos na tentativa de encontrar as causas do "mistério dos juros altos".

Muitas explicações circulam na praça. Além do descontrole e da má qualidade dos gastos públicos, há quem atribua o "mistério" ao caráter dos brasileiros, viventes avessos à poupança e ao longo prazo, por uma deformação produzida por décadas de hiperinflação e/ou por um generoso sistema de proteção social. Outros localizam o centro do problema na rigidez e amplitude do crédito direcionado e, mais recentemente, na ampliação e concentração de linhas subsidiadas operadas por bancos públicos.

O governo, no entanto, prefere outro diagnóstico. Cresce, na Fazenda, a convicção de que uma parcela crítica da histórica resistência dos juros na economia brasileira deriva do peso das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) na composição da dívida pública. Um programa de redução do peso das LFTs está em gestação em Brasília.

As LFTs, criadas em 1987, na saída do Plano Cruzado 2, pelos futuros pais do Plano Real, são atreladas à taxa Selic e conectam o mercado monetário com o mercado da dívida pública - essa conexão é um caso único no mundo. O título, que nasceu em ambiente de hiperinflação, resiste bravamente à estabilização monetária, já tendo chegado a representar dois terços do total da dívida mobiliária, na passagem do segundo governo FHC para o primeiro mandato de Lula. Ainda hoje responde por um alentado terço da composição da dívida pública.

Agora, o governo sonha em restringir a participação das LFTs na dívida pública a uns 5% do total até 2014 - meta tida como excessivamente ambiciosa, pelas resistências dos detentores dos papéis e os consequentes custos para o Tesouro de uma troca maciça de títulos com rendimento diário e sem risco por papéis pré-fixados, sobretudo em ambiente de inflação relativamente elevada. Não é difícil entender, apesar da complexidade do tema, qual é, na visão do governo, o problema provocado por mais essa das nossas jabuticabas econômicas. Num resumo da história, argumenta-se que a mesma taxa com a qual o BC procura calibrar a inflação, de acordo com a meta, é a que o Tesouro é obrigado a usar para rolar uma parcela significativa da dívida pública.

Se o diagnóstico do governo estiver correto, o protagonismo das LFTs na composição da dívida pública expõe uma armadilha que produz distorções de grande monta na economia e reduz a eficácia da política econômica. Para começo de conversa, a função de rolar a dívida impõe resistência a cortes mais acentuados da taxa básica de juros. Além disso, por estimular a preferência dos aplicadores pelo curto prazo, inviabiliza a formação de linhas de financiamento privado de longo prazo. Não há quem discorde de que é preciso reduzir o peso das LFTs na dívida pública. Como fazê-lo, porém, é motivo de infindáveis polêmicas. Se o governo acha que, para reduzir os juros, é necessário tirar as LFTs de cena, seus críticos alegam que só reduzindo os juros será possível se livrar delas.

Uma nova independência

Como um simples tropeiro, sujo e com dor de barriga, foi assim que D. Pedro proclamou a Independência do Brasil, segundo Laurentino Gomes. Se os fatos daquele 7 de setembro de 1822 correspondem a esta versão, ou à imagem épica do brado retumbante às margens do Ipiranga, não vem ao caso aqui; o importante é que o Brasil ainda é uma república inacabada.

Se antes éramos colônia de Portugal, hoje somos súditos de Brasília. O Executivo governa com "medidas provisórias" de dar inveja aos decretos da ditadura. A carga tributária já chega a quase 40% do PIB. Há excesso de leis e regulações. O cidadão é tratado como um incapaz que necessita da tutela do Estado. Até quando vamos tolerar isso?

Amanhã celebraremos 189 anos de Independência. Peço ao leitor que, antes de abrir a merecida cerveja no feriado, dedique alguns minutos à reflexão acerca de nosso país. Vivemos em tempos de acelerada decadência moral e completa desmoralização da política. "Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito", alertava o cardeal de Retz.

O brasileiro trabalha até maio apenas para sustentar uma máquina estatal ineficiente e corrupta. Em contrapartida, não tem segurança, educação, saúde ou infraestrutura decentes. O Estado falha em suas funções precípuas, enquanto estende seus tentáculos a inúmeras áreas que não deveria. Em nome da "justiça social", o Leviatã estatal se transformou numa gigantesca máquina de transferência de riqueza, cobrando enorme pedágio por isso. Não satisfeito, ainda quer ressuscitar a CPMF!

Recentemente, o Congresso desferiu mais um duro golpe nos brasileiros honestos, com a votação secreta que absolveu Jaqueline Roriz. Ela foi pega em vídeo recebendo propina, mas se alegou que o episódio ocorrera antes de sua eleição. Eis o escárnio total com que os deputados tratam seus eleitores: roubar pode, desde que não seja pego até as eleições. Tanto absurdo deveria parar o país, só que muitos estão perdendo a capacidade de indignação. Um rumo deveras perigoso.

Mas o espetáculo precisa continuar. Seguem batendo o bumbo da "faxina" contra a corrupção, ignorando detalhes importantes: as atitudes da presidente Dilma foram sempre reativas; ela veio do mesmo governo Lula que a antecedeu; Erenice Guerra, acusada de corrupção, estava ao lado de Dilma no dia da posse; e a própria presidente já sinalizou que a "faxina" acabou. É esta a "faxineira" que desperta tanta esperança na classe média?

A presidente alterou o discurso sobre austeridade fiscal. Aquilo que antes era considerado "rudimentar" agora é defendido como necessário para reduzir a inflação. Mas, novamente, vemos que o espetáculo é mais importante que o resultado. O governo pretende ampliar em R$10 bilhões o superávit primário, sendo que os gastos públicos chegam a R$1 trilhão. Algo análogo a uma família endividada que gasta R$10.000 anunciar uma redução de R$100 nas despesas, para "arrumar" as finanças.

Como o governo não reduz seus gastos, não desarma a bolha de crédito do BNDES e não aprova uma única reforma estrutural, resta derrubar os juros na marra. Foi justamente o que vimos semana passada, numa decisão inesperada do Copom, mesmo com inflação acima da meta. Trata-se de mais uma independência necessária: a do Banco Central. Quando este deixa de ser o guardião da moeda e passa a ser cúmplice do governo gastador, abrem-se as comportas da inflação galopante.

Não obstante, o brasileiro esclarecido parece acovardado, sem esperanças ou forças para lutar. Mas a apatia não nos levará a lugar algum além de mais abuso de poder. O derrotismo das pessoas de bem é grande aliado dos corruptos. O dirigismo estatal e a impunidade andam de mãos dadas com a corrupção. É preciso ter coragem para se erguer contra isso. É preciso ter visão de longo prazo, lutar contra a miopia daqueles que trocam a liberdade por migalhas, ainda que de ouro. Todos querem "direitos", mas ninguém quer responsabilidades. As mudanças dependem de nós.

Por isso, caro leitor, peço a você que use algum tempo ocioso neste feriado para pensar no que fazer de concreto para melhorar as coisas. Precisamos conquistar uma nova independência, desta vez dos abusos de Brasília. Se cada um colaborar à sua maneira, em vez de apenas se resignar ou esbravejar num bar com os amigos, quem sabe teremos alguma chance?

Aproveito e o convido a conhecer o trabalho do Instituto Millenium (www.imil.org.br), que luta pela democracia, a economia de mercado, o estado de direito e a liberdade, tão em falta neste país.

O custo da corrupção - GIL CASTELO BRANCO

Dizem que a primeira grande oportunidade para a corrupção prosperar surgiu na criação do mundo. Com o diabo à espreita e a inexistência de tribunais de contas, a "obra" foi realizada em seis dias, sem licitação. Ao que se saiba, não foi instalada qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e nenhuma suspeita foi levantada quanto à idoneidade do Criador...

De lá para cá, os desvios se avolumaram pelos quatro cantos do mundo. O Banco Mundial estima que US$1 trilhão por ano sejam tragados pelos corruptos. O valor corresponde a 1,6% do PIB mundial em 2010 (US$63 trilhões), superando em 43% o gasto dos Estados Unidos com armamentos (US$698 bilhões). Paradoxalmente, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) considera que US$30 bilhões por ano são suficientes para acabar com a fome de quase um bilhão de pessoas no planeta. Assim, tal como no Brasil, "faxina mundial" em favor da moralidade poderia eliminar a miséria. Pura utopia.

Na realidade, a quantificação dos malfeitos é difícil, pela óbvia ausência de recibos e notas fiscais. No entanto, recentemente, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou estudo sobre o impacto da roubalheira em nosso país, concluindo que os desvios giram entre R$50,8 bilhões e R$84,5 bilhões por ano, algo em torno de 1,4% a 2,3% do PIB brasileiro em 2010.

Na hipótese otimista, tomando-se o extremo inferior do intervalo, o montante de R$50,8 bilhões é equivalente às ações concluídas entre 2007 e 2010 no setor de logística do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em outras palavras, em cenário fictício de um ano sem corrupção, o país teria recursos para duplicar as obras realizadas nos últimos quatro anos em rodovias, ferrovias, marinha mercante, aeroportos, portos e hidrovias.

Na área social, com R$50,8 bilhões poderiam ser construídas 918 mil casas populares do programa Minha Casa, Minha Vida ou 57.600 escolas para as séries iniciais do ensino fundamental. É evidente, portanto, a imensa participação da desonestidade no chamado Custo Brasil.

Os cálculos realizados pela Fiesp derivam da pesquisa sobre o Índice de Percepção da Corrupção, realizada pela ONG Transparência Internacional. Desde 1995, a entidade atribui notas de 0 a 10 aos países mais ou menos corruptos, respectivamente. Ao longo desses 16 anos, a nota média do Brasil foi 3,65. Em 2009 e 2010, a nota 3,70 aproximou-se do valor médio, demonstrando que nas últimas décadas a situação é estável. Em resumo, há anos estamos sendo reprovados nessa matéria.

No domingo passado, o jornal "Folha de S.Paulo" divulgou interessante estudo do economista da Fundação Getúlio Vargas Marcos Fernandes da Silva, contabilizando os desvios de recursos federais descobertos no período 2002 a 2008. A soma de R$40 bilhões, apurada pelos órgãos de controle, obviamente não inclui o que permaneceu desconhecido, além das falcatruas nos estados e municípios. Assim, é apenas a ponta do iceberg.

O diagnóstico sobre as causas da corrupção brasileira é quase unânime. A colonização de 300 anos é o componente histórico. Outros pontos fundamentais são a imunidade parlamentar, o sigilo bancário excessivo, a falta de transparência das contas públicas, a elevada quantidade de funções comissionadas, os critérios para nomeação de juízes e ministros de tribunais superiores, o foro privilegiado para autoridades, os financiamentos de campanhas eleitorais, as emendas parlamentares e a morosidade da Justiça. Esses aspectos, em conjunto ou individualmente, levam à impunidade.

Apesar do consenso quanto aos focos que realimentam as fraudes, cerca de 70 projetos de lei estão engavetados no Congresso Nacional. Versam sobre a responsabilização criminal das empresas corruptoras, criação de obrigações para as instituições financeiras, sanções aplicáveis aos servidores no caso de enriquecimento ilícito, dentre outros temas relevantes. Enquanto isso foi votada a absolvição da deputada Jaqueline Roriz.

No Brasil, a oportunidade faz o ladrão. Com a proximidade da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, a bola da vez são as obras nos estádios e de mobilidade urbana, além dos cursos de capacitação. Somente para a Copa já estão previstos investimentos de R$23,9 bilhões, valor que vai crescer. A possibilidade de a corrupção aumentar nos próximos anos é enorme. Afinal, em nosso país, realizar obra de grande porte sem risco de desvio de recursos é missão quase impossível. É tarefa para o Criador.

Tenho saudade de mim

Estava a ler o texto de Adauto Novaes (nosso filósofo sem torre de marfim) sobre a preguiça - tema de seu seminário/livro atual. Na realidade, são estudos sobre a lentidão, neste mundo cada vez mais veloz. E, aí, tive saudades da calma, do princípio, meio e fim, tive saudade das "geladeiras brancas e dos telefones pretos", das manhãs, tardes e noites, separadas pela luz que se coloria do rosa ao negro e se apagava aos poucos, tive saudade das mortiças casas de família, até da infelicidade de antigamente - de novela de rádio -, de lágrimas furtivas, dos casais com olhos sem luz, depois de casamentos esperançosos com buquês arrojados para um futuro que ia morrendo aos poucos.

Estou com saudades de tudo. De mim, inclusive. "Saudades" ou "saudade"? Tenho saudade (s) de meu velho professor de português, magrinho, irritadiço e doce, Luis Vianna Filho, que me bradava: "O senhor não tem acento circunflexo!", apontando meu nome que meu avô árabe registrara "Jabôr". E continuava: "Jabor é o certo. A única palavra dissílaba da língua terminada em "or" que tem circunflexo é "redôr", para diferenciar de "redor, em volta de", pois redôr é o pobre-diabo que fica puxando o sal nas salinas, com um rodo".

Lembrei-me dos miseráveis "redôres" de Cabo Frio, lembrei de minha juventude quando achei, por acaso, uma velha fotografia de jornal, em preto e branco, da passeata dos Cem Mil em 1968 na Cinelândia. No meio da multidão da foto, vi emocionado um pequeno rosto granulado - eu mesmo, ali, sentado no chão, ouvindo os discursos de Vladimir Palmeira e (talvez) de Dirceu -, bonito, cabelo longo, hippie guerreiro.

Tive uma nostalgia do passado até com a recente "reprise" de José Dirceu na mídia como poderoso chefão dos soviéticos que, aliás, aproveitaram os últimos escândalos para reciclar o lixo bolchevista de "controlar a Imprensa". (Eles não desistem). Fiquei nostálgico porque Dirceu era também uma sobrevivência do passado em minha vida. E tive uma bruta saudade da utopia. Sempre critiquei o Dirceu porque ele, do passado em preto e branco, tinha querido invadir o presente com uma subversão regressista, que poderia nos jogar de volta a um tempo morto. Muito mais do que os milhões desviados do "mensalão", critiquei-o ideologicamente, porque ele liderava uma tendência, viva ainda hoje, de se "tomar o Estado", "desapropriando" o dinheiro público pelo "bem do povo". Dirceu caiu por uma tentativa que mais uma vez falhou, em nossa esquerda de trapalhões, como foi em 63 ou em 68, no Congresso de Ibiúna.

Mas, mesmo assim, fiquei com saudade de mim mesmo. Tenho saudade de mim ali, com o rosto cheio de esperança na passeata, achando que mudava a história e que o mundo era fácil de mexer.

Como eu gostaria de explicar aos jovens de hoje o que era a infalível "certeza" daquela época remota, o que era a delícia de viver sentindo-se no "bom caminho", na "linha justa", salvando o futuro. Hoje, ninguém sabe o que era o sentimento de harmonia, de totalidade, em um mundo fragmentado e frio. Hoje, os meninos vivem em galáxias de informações, quando não há mais lugar para "A Verdade". Os jovens que nascem no grande deserto virtual não sabem que vivíamos num rio que corria para o futuro, em direção a uma felicidade completa, com lógica, com Sentido. Tenho saudade do futuro que hoje se espraia como uma grande enchente suja, sem foz, um deserto sem ponto final. Hoje sabemos que não há mais futuro nem chegada - só caminho.

Tenho saudade do amor da juventude, da minha namorada comunista - nós dois no sofá-cama do "aparelho" clandestino do PCB em Copacabana, o sofá-cama rasgado, com a mola aparecendo, onde nos amávamos antes da reunião da "base" com medo que chegasse o supervisor, um "camarada" com um doce nariz de couve-flor rosado e tristes sapatos pretos com meias brancas, que nos falava, melancólico, do imperialismo norte-americano. Tenho saudades dela, linda, corajosa, no apartamentinho com o cartaz dos girassóis do Van Gogh e uns livros da Academia Soviética, numa prateleira sobre dois tijolos.

Para nós, comunas, até a morte era pequena, como nos ensinava o camarada de nariz rosado: "O marxismo supera a morte, pois uma vez dissolvido no social, o indivíduo perde a ilusão de existir como pessoa. Ele só existe como espécie. E não morre!" E eu, marxista feliz, sonhava com a vida eterna...

Tenho saudade das madrugadas cheias de esperança, as madrugadas políticas, a boemia de esquerda, soldados de uma guerra imaginária. Meu Deus, como eu era importante, como me senti útil quando ajudei um pouco a luta armada, quando levei no meu fusca um casal de feridos sangrando no banco de trás, até um "aparelho", quando o líder da célula pegou o volante e eu fui ao lado, de olhos fechados para não saber onde estávamos - se bem que espreitei pela fresta das pálpebras e vi o casal mancando em direção a um prédio. Tenho saudades dessa trágica solidariedade, mas tremi nesse dia, pois comecei a entender que não havia apenas um deserto à nossa frente, mas uma avalanche de obstáculos imensos e que íamos acordar de um sonho para um pesadelo. Entendi que éramos fracos demais para moldar a realidade e que a vontade não bastava, pois as coisas comandavam os homens e a vida tem um curso próprio e misterioso. Entendi que ser político e lutar pelo futuro exige vagar e respeito pela insânia do mundo e que a tragédia é parte essencial da vida e que tentar saneá-la pode levar-nos a massacres piores. Entendi que luta política se faz com humildade e que só a democracia é revolucionária no Brasil. Fora isso, é o desastre. Mas, tenho saudade da mistura de poesia com revolução que era nossa vida, tenho saudade desse narcisismo onipotente e inocente, tenho saudade da esperança e da ilusão.

Em setembro - MIRIAM LEITÃO

No governo se temia o mês de setembro, mais do que agosto, que tem fama de período difícil. Por um motivo: os diretores das grandes instituições financeiras internacionais, administradores dos fundos de investimentos e hedge funds retornam das férias e reformulam suas carteiras diante dos novos eventos. A frase que ouvi em Brasília: "Em setembro, as bruxas voltam."

Ontem, nessa retomada do mercado financeiro internacional depois das férias de agosto, o que houve foi queda geral das bolsas e mais uma rodada de boatos, desta vez sobre a Itália estar para ser rebaixada, enquanto o país começava a debater o pacote de austeridade. Há fatos que deixam o mundo com a respiração presa, como os que vão acontecer na Alemanha. Amanhã, dia 7, a Corte alemã votará a legalidade do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) e, no fim do mês, o Parlamento alemão votará a ampliação do poder desse Fundo. Qualquer um dos dois fatos, mas principalmente o de amanhã, pode detonar uma crise de confiança em relação ao euro.

É exatamente esse cenário de incerteza que o Banco Central mostrou que temia ao tomar a decisão de baixar os juros. A convicção demonstrada é a de que esses tremores no mundo derrubariam a atividade e, portanto, a inflação no Brasil. A atividade está de fato cada vez mais fraca, mas não a inflação, como se pode ver no gráfico abaixo, que mostra a evolução das previsões das 100 instituições financeiras e consultorias pesquisadas semanalmente pelo Banco Central sobre o ano de 2011.

Na primeira pesquisa divulgada pelo Banco Central no mês de setembro o que se vê é a mesma divergência desagradável: a inflação está com tendência de alta neste ano e no próximo; e o crescimento, com tendência de queda. É só uma pesquisa feita pelo BC e as expectativas podem mudar, mas por enquanto o resultado é exatamente aquela mistura que ninguém quer, de menor crescimento e mais alta de preços.

O que está subindo neste momento é a expectativa de inflação ao fim do ano, porque a inflação, em si, vai cair no acumulado de 12 meses dos 7% atuais para um nível menor. Por enquanto, o mercado ainda prevê que fique dentro do espaço de flutuação do sistema de metas: 6,38% no final do ano. Isso, porque o último trimestre de 2011 tem chance de ser melhor do que o final de 2010. Mas um relatório da MB Associados mostra que a lista de alta de alguns produtos assusta: açúcar está com 35% de alta nos últimos 12 meses; álcool anidro, 43,6%; hidratado, 49%; café arábica, 60%; milho, 39%. Alguns desses produtos estão com problemas temporários, outros enfrentaram quebras de safra, como o álcool e o milho. As lavouras americanas de milho e soja estão com problemas ou por excesso de chuvas ou pela seca. Isso eleva também o preço da ração, que afeta o custo de produção da carne, segundo Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria.

Outra lista de preços feita pelo economista Sérgio Vale, no Comentário de Conjuntura da MB, é a que mostra como o problema dos serviços está grave. Aluguel, cinema, estacionamento, médico estão com altas acima de 10% nos últimos 12 meses. Serviço bancário, 12%; hotel, 13,2%; mudança, 16% de alta, no mesmo período.

Apesar dessa alta de preços, a previsão de crescimento está em queda a cada nova pesquisa do Banco Central. Hoje, a expectativa é de menos de 4% para 2011 e 2012. Mesmo assim, a projeção é de juros em queda, porque a convicção geral é de que o BC vai continuar o movimento que começou na semana passada.

Uma análise feita pelo economista João Pedro Resende, do Itaú BBA, mostrou que dos países da região com o regime de metas de inflação - Chile, México, Colômbia e Peru - o Brasil está com a maior taxa. Peru está acima do teto da meta, mas é porque lá é de 2% e eles estão com 3,4%. O México está com inflação de 3,55%, a Colômbia está com 3,4%. O Chile tem meta de 3% e está com 2,9%. Por outro lado, todos eles têm taxas de juros bem mais baixas do que o Brasil: México e Colômbia, 4,5%; Chile, 5,25%; e Peru, 4,25%. O Brasil com seus 12% realmente parece um ponto fora da curva. Tudo o que resta é torcer para que o mês não seja tão conturbado quanto começou.

Caetano Veloso - Auto-Tune

O poder de interferir digitalmente na imagem (e no som) mudou o sentido do retoque

Auto-Tune é um processador, um plug-in, que você usa para afinar uma voz ou um instrumento numa gravação. É um manipulador de pitch, altura (não no sentido popular de “volume” mas no propriamente musical de subida ou descida entre sons graves e agudos). Uma vez comparei o uso do Auto-Tune ao do Photoshop, e Fernando Salem não gostou da comparação. Eu estava tentando explicar o mal-estar que tendemos a sentir quando percebemos que uma voz afinadíssima num CD foi tratada com essa ferramenta e, além de notar falsidade na lisura da nota e mudança no timbre da voz, ficar triste por não poder mais estar seguro a respeito de um cantor novo quanto a sua capacidade musical. (Meu filho Zeca me mostrou no You- Tube uma cantora pop americana que soava afinadíssima no clipe da gravação de estúdio e muito desafinada numa apresentação ao vivo.)

O Photoshop não nos deixa seguros quanto à situação real da pele ou dos músculos de uma pessoa fotografada — para dizer o mínimo. Houve um caso em que a “Economist” retirou alguém de perto de Obama numa foto de capa (era uma dessas capas simbólicas que a “Time” popularizou, e não uma informação jornalística, mas deu discussão). Nos perguntamos que uso Stalin faria da manipulação de fotos com tamanha precisão e poder de convencimento.

Salem relembra os retoques e as adições de cor tão populares em retratos de família feitos para pôr na parede das casas. Eu completaria lembrando que as imagens das estrelas nas capas e páginas das revistas que líamos em nossa infância não estavam isentas de intervenções. Os retoques eram mais perceptíveis à primeira vista — esta é a única diferença entre os tratamentos de imagem de uma “Fatos e Fotos” e do perfeito sumiço das celulites em retratos de supermodels em revistas atuais. O poder de interferir digitalmente  na imagem (e no som) mudou o sentido do retoque.

O Auto-Tune (como o Melodine e outros congêneres) também tem seus antepassados. A edição de trechos (mesmo sílabas) mais afinados, criando uma performance toda correta a partir de muitos pedaços de outras cheias de defeitos é apenas um exemplo. Mas quero ir mais longe aqui. A ideia é considerar o advento do Auto-Tune como algo semelhante ao advento do microfone elétrico. Não só Cher e T-Pain — mais Kanye West e tantos seguidores — mostram que pode haver um “cantar bem” que já conta com esse tipo de plug-in: ouvindo o jovem James Blake utilizar ferramentas de manipulação de pitch em números ao vivo (sim, mesmo entre cantores convencionais já faz tempo que se usa também ao vivo corretores de afinação, com resultados variados), percebemos que um uso artístico, propriamente musical, pode ser atingido nas relações entre o modo de cantar e o manuseio dos efeitos que essas ferramentas oferecem. Os critérios de julgamento da capacidade de cantar mudam com as novas tecnologias. Como mudaram quando microfones sensíveis deixaram para trás a necessidade de potência vocal. Quando eu era menino — e apesar da existência de Mário Reis — ainda era valor estético exigível que o cantor tivesse uma voz grande. Eu disse valor estético. Não era uma mera medição de potência vocal. Cantar bem significava poder e saber projetar intensamente a voz.

As gravações de Noel Rosa, de Cole Porter ou de Ary Barroso cantando eram acolhidas como documentos, não como performances que valessem por si mesmas. Mário Reis foi o primeiro a levar às últimas consequências o uso do microfone elétrico entre nós. Talvez seja um pioneiro mundial. Mesmo Chet Baker foi considerado um mau cantor por seus pares americanos. João Gilberto criou um estilo intrincado e tão rico a partir do uso mínimo da voz que praticamente encerrou o assunto. Mesmo assim, encontrou muita resistência entre críticos, colegas e, sobretudo, divulgadores de gravadoras.

Eu não conhecia James Blake. A bem dizer, ainda não conheço. Mas meu amigo Duda me mandou um link para uma apresentação dele no festival do Pitchfork, e eu fui olhar mais dois exemplos no YouTube. Ele usa manipuladores de altura em combinação com as intenções da emissão vocal de um modo tão sofisticado que parece ter dado um passo interessante nessa discussão.

É sabido que alguns cantores americanos fizeram questão de explicitar na contracapa de seus discos que não havia uso de nenhum artifício para afinar seus gorgeios. Outros o superexpõem. A sensação de que o uso pode ter resultados opostos ao pretendido, ou seja, fazer parecer que alguém canta bem, a gente pode ter ouvindo algumas gravações brasileiras em que o truque é usado mas o material inicial não é congenial a ele. Há uma canção que escrevi para Gal cantar que trata de modo oblíquo desse assunto, no novo disco. Passamos por todas as etapas sobre as quais falei acima durante a pós-produção da faixa. Resolvemos por deixar a voz dela sem o retoque, enquanto canta exatamente a respeito do assunto, e usamos o artifício — de modo ostensivo — apenas quando ela cantarola improvisadamente, sem palavras. E nesse uso, deixamos aparecer tanto a graça que pode advir de processos como esse quanto a relativa inadequação que pode haver entre certos estilos e sua utilização.

Estou no Colorado, num festival de cinema. O lugar é lindo. Tenho tarefas aqui. Devo ter escrito de modo mais confuso do que o habitual. Hoje apresento “Deus e o Diabo” para gente exigente. Penso no disco de Gal e no destino do Brasil. O mundo se vira.

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