O Blog do Guilherme Araújo é um canal de jornalismo especializado em politicas publicas e sociais, negócios, turismo e empreendedorismo, educação, cultura. Guilherme Araújo, CEO jornalismo investigativo - (MTB nº 79157/SP), ativista politico, palestrante, consultor de negócios e politicas publicas, mediador de conflitos de médio e alto risco, membro titular da ABI - Associação Brasileira de Imprensa.
domingo, 28 de agosto de 2011
Rio/Santos, o perigo pode estar escondido nas curvas
Quem utiliza as rodovias do Litoral Norte pode ter sensações que passam da euforia, do vislumbre, para o medo. Isso porque ao mesmo tempo em que se tem uma das mais belas vistas do litoral paulista, e porque não dizer brasileiro, a mesma estrada que proporciona este visual, é a mesma que mata. E muito e justamente naqueles locais que permitem, literalmente ‘viajar’ pelas paisagens compostas do mar e da vegetação da Mata Atlântica.
São quase 200 quilômetros da rodovia Rio-Santos (SP-55 e BR-101) ligando São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba, e claro, o único acesso por terra para Ilhabela. E embora essa pareça uma reportagem de turismo, o que retrataremos hoje são as condições dessa estrada que é a única ligação do Litoral Norte com o Vale do Paraíba e Baixada Santista.
Ao mesmo tempo a Rio-Santos é uma rodovia e uma avenida quando se confunde com os trechos urbanos das cidades – Boiçucanga, Maresias e do Centro ao bairro São Francisco, em São Sebastião – cortando ainda Caraguá e Ubatuba.
Uma das principais características dessa rodovia são as curvas acentuadas, em especial na Costa Sul de São Sebastião, na Praia das Cigarras, também em São Sebastião, no trecho que vai da Casa Branca ao Jetuba, em Caraguá, e em praticamente todo o trecho de Ubatuba.
Constantemente a Editoria de Polícia do Imprensa Livre publica relatos de acidentes ocorridos na SP-55. Foi em função desses sinistros que um engenheiro chamou a atenção para o que ele considera um perigo na pista: as curvas.
“Acompanho as reportagens do jornal e percebi que a maioria dos acidentes foi registrada nos trechos de curvas. Como também faço muita viagem entre Juquehy e o Centro de São Sebastião, observei vários carros, motos e ônibus envolvidos em colisões, e batidas. Sem contar a quantidade de defensas e muretas de concreto instalados nesses locais e que estão constantemente quebrados”, alerta o engenheiro civil Emílio Iarussi.
Um dos detalhes que teria chamado a atenção de Iarussi seria a falta da sobrelevação nas curvas. Isso significa que o lado de fora da curva tem que ser um pouco mais alto que o lado de dentro, ou seja, ela tem que ser inclinada. “Com isso, é possível aumentar a força centrípeta (que puxa para o centro) na curva enquanto o veículo está trafegando mesmo com velocidade elevada. Assim reduz a possibilidade do veículo perder a aderência ao fazer a curva”, exemplifica.
Entre as causas dos acidentes, conforme relatado por especialistas, estão imprudência de muitos condutores e problemas com a conservação das vias, isso porque quando é feito o reparo da pista, em alguns casos, não seria obedecida a topografia original, o que faria alguns trechos perderem as inclinações necessárias. Mas erros técnicos no projeto de estradas podem agravar ainda mais a questão.
Em suas explicações, Iarussi destaca que a Lei da Inércia obriga o veículo a sair pela tangente à curva. No caso de uma motocicleta, ao ingressar em uma curva o piloto, por instinto, inclina seu corpo com a moto e assim controla essa lei que o obriga a manter a trajetória retilínea e que não o sujeita à força centrífuga. “Ao corrigi-la, o motociclista cria uma força centrípeta, evitando o acidente”.
No caso de um veiculo de quatro rodas, segundo o engenheiro, a única maneira de vencer a Lei da Inércia é sobrelevar a guia do lado externo da curva - se ela é para a direita a sobrelevação é da guia esquerda. Outro fator determinante para realizar a curva com segurança é a velocidade e ela depende do raio da curva. Mas, conforme o engenheiro Iarussi, as placas nas estradas são muito incoerentes, por isso nem sempre são levadas a sério pelos motoristas.
“A sinalização deve respeitar a diferença que existe entre veículos leves e pesados e em geral a velocidade estabelecida acaba sendo baixa demais para automóveis e alta para caminhões, sendo que o caso mais grave acontece nas curvas em descida, nas serras ou alças de pontes e viadutos, em que a velocidade máxima indicada vale para os carros, mas quase sempre é alta para os caminhões. O resultado é que somos recordistas em tombamentos de caminhões”.
Emílio Iarussi cita o trabalho do professor e engenheiro da Escola Politécnica da USP, o já falecido Adervan Machado, que teria passado boa parte da sua vida cobrando das autoridades a correção dessas curvas (sem sobrelevação ou com sobrelevação negativa) que jogam os veículos para fora da pista. “Ele as chamava de ‘curvas assassinas’ e conseguiu que umas 50 fossem reformadas”, relembra.
Derrapagens
A reportagem do Imprensa Livre percorreu alguns trechos da rodovia Rio-Santos com o engenheiro Emílio Iarussi onde ele mostrou os locais mais comuns onde ocorrem os acidentes no trecho de São Sebastião. Um caso de falta de sobrelevação é apontado no Km 187, em Bora-Bora, na Costa Sul, sentido Boracéia. Ali, conforme a velocidade que entra na pista – o limite ali é de 80 Km/h, o motorista tende a sair da sua faixa, sentido pista contrária. O resultado são as constantes colisões ocorridas na defensa instalada na pista sentido Centro.
Uma das vistas mais bonitas desse trecho da Costa Sul fica na Praia Preta e é lá também que está um dos trechos considerados mais perigosos, segundo engenheiro. Além do problema da curva, há ainda trechos que acumulam água em períodos de chuva, o que leva o risco de aquaplanagem.
Na famosa serrinha de Boiçucanga/Maresias, a situação é considerada mais crítica. A pista é estreita e as curvas são fechadas. No ano passado, pai e filho que estavam em um caminhão morreram após saírem da pista. No local, duas cruzes lembram as vidas perdidas.
Em dezembro do ano passado, outro registro grave, desta vez no Km 137,600, na serrinha de Guaecá. O motociclista João Batista Alves Ferreira, 26 anos, seguia com a moto Intruder sentido Centro-Costa Sul, quando colidiu de frente com um caminhão que vinha no sentido contrário. Com o impacto, a vítima faleceu no local.
Aliás, esse é um dos trechos considerados mais perigosos até mesmo pelos usuários da rodovia. O motorista vem de uma reta e logo na seqüência já entra em uma curva acentuada. Ali é possível ver os veículos ‘comendo’ a faixa.
Um dia após a reportagem fazer o trecho com o engenheiro, um novo acidente foi registrado na área. Desta vez envolvendo dois veículos de passeio e um caminhão. O motivo foi óleo derramado na pista, mas quem mora nas imediações é unânime ao contar que já perdeu a conta da quantidade de acidentes que presenciou ou simplesmente se transformou em mais uma estatística.
É o caso do eletricista Edílson Alves de Souza Dutra, 23 anos, que mora no bairro e foi ao local do acidente após outros dois veículos terem rodado na pista. “Esta pista é ruim. Os motoristas entram em alta velocidade e acabam indo para a outra via. Se vem carro no sentido contrário, pode esperar que tem acidente”, descreve.
Imprudência deve ser levada em consideração
Embora com um número considerado excessivo de acidentes nos trechos de curvas, órgãos responsáveis pela rodovia Rio-Santos apontam que a imprudência ainda é uma dos principais fatores de colisões na pista.
O inspetor de tráfego do Departamento de Estradas de Rodagens (DER), Flávio Risther Moraes, observa que a rodovia não é perigosa porque é bem sinalizada e com vários trechos planos.
Na avaliação da Polícia Rodoviária Estadual falta mais atenção aos motoristas. Segundo o órgão, na maioria dos casos de acidente, a imprudência com excesso de velocidade e ultrapassagem em local proibido, são os fatores preponderantes para os sinistros.
Com relação à possível correção dos trechos sinuosos, o DER explicou que “a rodovia Rio-Santos é uma das mais antigas rodovias do Estado de São Paulo, o que explica a quantidade de curvas sinuosas em toda sua extensão”. Em função disso, está sendo elaborado projeto para implementar faixas adicionais na via no trecho entre Ubatuba e Caraguatatuba. O governador Geraldo Alckmin anunciou ainda, no início de junho de 2011, a construção de um contorno viário ligando a Rodovia dos Tamoios (SP-99) ao Porto de São Sebastião pela SP-55. A obra estimada em R$ 1 milhão servirá como alternativa para desafogar o fluxo de veículos que passam diariamente pela via. (M.C.)
São quase 200 quilômetros da rodovia Rio-Santos (SP-55 e BR-101) ligando São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba, e claro, o único acesso por terra para Ilhabela. E embora essa pareça uma reportagem de turismo, o que retrataremos hoje são as condições dessa estrada que é a única ligação do Litoral Norte com o Vale do Paraíba e Baixada Santista.
Ao mesmo tempo a Rio-Santos é uma rodovia e uma avenida quando se confunde com os trechos urbanos das cidades – Boiçucanga, Maresias e do Centro ao bairro São Francisco, em São Sebastião – cortando ainda Caraguá e Ubatuba.
Uma das principais características dessa rodovia são as curvas acentuadas, em especial na Costa Sul de São Sebastião, na Praia das Cigarras, também em São Sebastião, no trecho que vai da Casa Branca ao Jetuba, em Caraguá, e em praticamente todo o trecho de Ubatuba.
Constantemente a Editoria de Polícia do Imprensa Livre publica relatos de acidentes ocorridos na SP-55. Foi em função desses sinistros que um engenheiro chamou a atenção para o que ele considera um perigo na pista: as curvas.
“Acompanho as reportagens do jornal e percebi que a maioria dos acidentes foi registrada nos trechos de curvas. Como também faço muita viagem entre Juquehy e o Centro de São Sebastião, observei vários carros, motos e ônibus envolvidos em colisões, e batidas. Sem contar a quantidade de defensas e muretas de concreto instalados nesses locais e que estão constantemente quebrados”, alerta o engenheiro civil Emílio Iarussi.
Um dos detalhes que teria chamado a atenção de Iarussi seria a falta da sobrelevação nas curvas. Isso significa que o lado de fora da curva tem que ser um pouco mais alto que o lado de dentro, ou seja, ela tem que ser inclinada. “Com isso, é possível aumentar a força centrípeta (que puxa para o centro) na curva enquanto o veículo está trafegando mesmo com velocidade elevada. Assim reduz a possibilidade do veículo perder a aderência ao fazer a curva”, exemplifica.
Entre as causas dos acidentes, conforme relatado por especialistas, estão imprudência de muitos condutores e problemas com a conservação das vias, isso porque quando é feito o reparo da pista, em alguns casos, não seria obedecida a topografia original, o que faria alguns trechos perderem as inclinações necessárias. Mas erros técnicos no projeto de estradas podem agravar ainda mais a questão.
Em suas explicações, Iarussi destaca que a Lei da Inércia obriga o veículo a sair pela tangente à curva. No caso de uma motocicleta, ao ingressar em uma curva o piloto, por instinto, inclina seu corpo com a moto e assim controla essa lei que o obriga a manter a trajetória retilínea e que não o sujeita à força centrífuga. “Ao corrigi-la, o motociclista cria uma força centrípeta, evitando o acidente”.
No caso de um veiculo de quatro rodas, segundo o engenheiro, a única maneira de vencer a Lei da Inércia é sobrelevar a guia do lado externo da curva - se ela é para a direita a sobrelevação é da guia esquerda. Outro fator determinante para realizar a curva com segurança é a velocidade e ela depende do raio da curva. Mas, conforme o engenheiro Iarussi, as placas nas estradas são muito incoerentes, por isso nem sempre são levadas a sério pelos motoristas.
“A sinalização deve respeitar a diferença que existe entre veículos leves e pesados e em geral a velocidade estabelecida acaba sendo baixa demais para automóveis e alta para caminhões, sendo que o caso mais grave acontece nas curvas em descida, nas serras ou alças de pontes e viadutos, em que a velocidade máxima indicada vale para os carros, mas quase sempre é alta para os caminhões. O resultado é que somos recordistas em tombamentos de caminhões”.
Emílio Iarussi cita o trabalho do professor e engenheiro da Escola Politécnica da USP, o já falecido Adervan Machado, que teria passado boa parte da sua vida cobrando das autoridades a correção dessas curvas (sem sobrelevação ou com sobrelevação negativa) que jogam os veículos para fora da pista. “Ele as chamava de ‘curvas assassinas’ e conseguiu que umas 50 fossem reformadas”, relembra.
Derrapagens
A reportagem do Imprensa Livre percorreu alguns trechos da rodovia Rio-Santos com o engenheiro Emílio Iarussi onde ele mostrou os locais mais comuns onde ocorrem os acidentes no trecho de São Sebastião. Um caso de falta de sobrelevação é apontado no Km 187, em Bora-Bora, na Costa Sul, sentido Boracéia. Ali, conforme a velocidade que entra na pista – o limite ali é de 80 Km/h, o motorista tende a sair da sua faixa, sentido pista contrária. O resultado são as constantes colisões ocorridas na defensa instalada na pista sentido Centro.
Uma das vistas mais bonitas desse trecho da Costa Sul fica na Praia Preta e é lá também que está um dos trechos considerados mais perigosos, segundo engenheiro. Além do problema da curva, há ainda trechos que acumulam água em períodos de chuva, o que leva o risco de aquaplanagem.
Na famosa serrinha de Boiçucanga/Maresias, a situação é considerada mais crítica. A pista é estreita e as curvas são fechadas. No ano passado, pai e filho que estavam em um caminhão morreram após saírem da pista. No local, duas cruzes lembram as vidas perdidas.
Em dezembro do ano passado, outro registro grave, desta vez no Km 137,600, na serrinha de Guaecá. O motociclista João Batista Alves Ferreira, 26 anos, seguia com a moto Intruder sentido Centro-Costa Sul, quando colidiu de frente com um caminhão que vinha no sentido contrário. Com o impacto, a vítima faleceu no local.
Aliás, esse é um dos trechos considerados mais perigosos até mesmo pelos usuários da rodovia. O motorista vem de uma reta e logo na seqüência já entra em uma curva acentuada. Ali é possível ver os veículos ‘comendo’ a faixa.
Um dia após a reportagem fazer o trecho com o engenheiro, um novo acidente foi registrado na área. Desta vez envolvendo dois veículos de passeio e um caminhão. O motivo foi óleo derramado na pista, mas quem mora nas imediações é unânime ao contar que já perdeu a conta da quantidade de acidentes que presenciou ou simplesmente se transformou em mais uma estatística.
É o caso do eletricista Edílson Alves de Souza Dutra, 23 anos, que mora no bairro e foi ao local do acidente após outros dois veículos terem rodado na pista. “Esta pista é ruim. Os motoristas entram em alta velocidade e acabam indo para a outra via. Se vem carro no sentido contrário, pode esperar que tem acidente”, descreve.
Imprudência deve ser levada em consideração
Embora com um número considerado excessivo de acidentes nos trechos de curvas, órgãos responsáveis pela rodovia Rio-Santos apontam que a imprudência ainda é uma dos principais fatores de colisões na pista.
O inspetor de tráfego do Departamento de Estradas de Rodagens (DER), Flávio Risther Moraes, observa que a rodovia não é perigosa porque é bem sinalizada e com vários trechos planos.
Na avaliação da Polícia Rodoviária Estadual falta mais atenção aos motoristas. Segundo o órgão, na maioria dos casos de acidente, a imprudência com excesso de velocidade e ultrapassagem em local proibido, são os fatores preponderantes para os sinistros.
Com relação à possível correção dos trechos sinuosos, o DER explicou que “a rodovia Rio-Santos é uma das mais antigas rodovias do Estado de São Paulo, o que explica a quantidade de curvas sinuosas em toda sua extensão”. Em função disso, está sendo elaborado projeto para implementar faixas adicionais na via no trecho entre Ubatuba e Caraguatatuba. O governador Geraldo Alckmin anunciou ainda, no início de junho de 2011, a construção de um contorno viário ligando a Rodovia dos Tamoios (SP-99) ao Porto de São Sebastião pela SP-55. A obra estimada em R$ 1 milhão servirá como alternativa para desafogar o fluxo de veículos que passam diariamente pela via. (M.C.)
Pense....... Uma oportunidade de mudança
A impunidade de atropeladores é uma barbaridade nacional que banaliza mortes cruéis e evitáveis: há culpados por tais crimes cumprindo pena hoje?
Gabriella Guerrero Pereira atropelou, em 23 de julho, Vitor Gurman, que morreu cinco dias depois.
Mas de uma entrevista sua, que poderia ser usada em cursos de direito, depreende-se que ela é que foi a vítima: do namorado, que bebeu demais, do carro, que, robusto, tem direção mole, do azar, pois Vitor passava por ali... Tão vítima do acaso quanto Vitor, ela estava "destruída" (embora não a ponto de aceitar qualquer culpa) e gostaria de "pegar o sofrimento (...) para carregar só comigo".
Econômica na responsabilidade, ela esbanja compaixão e dá a entender que, mesmo sem ser culpada pela destruição real, não figurada, de uma vida jovem, já foi punida por sua própria dor.
Em 5 de agosto, ela foi indiciada sob suspeita de homicídio com dolo eventual, e seu pai, Sergio Pereira, declarou: "Foi uma mera fatalidade, das que acontecem uma em mil". Além do desrespeito implícito no "mera", vê-se aqui a mesma mentalidade em operação: a violência no trânsito seria um fenômeno natural, como terremotos e tsunamis. Assim, numa cidade com taxas absurdas de mortes provocadas por motoristas irresponsáveis, o fator humano se evapora.
Ainda é normal, no Brasil, encarar como "mera fatalidade" o que em outros lugares é crime gravíssimo e, caso se conclua que Vitor Gurman foi vítima de um, é assim que isso deveria ser tratado, pois onde há crime deve haver punição.
Esse truísmo choca-se, porém, com uma cultura da cordialidade, irreverência e mais afeita ao perdão do que ao respeito às leis, uma cultura de coitadinhos vivos e de mortos à espera de justiça.
A impunidade dos atropeladores é uma barbaridade nacional que banaliza mortes cruéis e evitáveis.
Quantos culpados de tais crimes estão cumprindo pena hoje no Brasil?
Há algum? Na Europa e nos Estados Unidos, pedestres, gente de skate, ciclistas etc. são respeitados. Lá, há punição, e o que quase não há é violência no trânsito.
Punição exemplar não traz ninguém de volta, mas é decisiva para que outros não morram tão gratuitamente.
Segundo a sabedoria talmúdica, quem desculpa os culpados ultraja suas vítimas.
Punição, porém, é o último recurso e, para que se torne cada vez menos necessária, cabe incentivarmos e participarmos cada vez mais de campanhas de conscientização e de uma educação que, voltada para deveres, não só para direitos, enfatize as responsabilidades para com a comunidade.
Com esse intuito, os amigos do Vitor organizaram, na noite de 30 de julho, uma comovente caminhada silenciosa pelas ruas da Vila Madalena. Desde então, o grupo tem promovido manifestações públicas com a chamada "Viva Vitão: não espere perder um amigo para mudar sua atitude no trânsito".
Vamos ouvi-los. A violência de nosso trânsito mata mais gente do que muitos conflitos que merecem manchetes. Não estamos em guerra: queremos andar e passear a pé, de bicicleta etc. por nossas ruas sem correr risco de vida. O caminho rumo à mudança é longo e tem duas vias: educação para a responsabilidade e punição justa.
Gabriella Guerrero Pereira atropelou, em 23 de julho, Vitor Gurman, que morreu cinco dias depois.
Mas de uma entrevista sua, que poderia ser usada em cursos de direito, depreende-se que ela é que foi a vítima: do namorado, que bebeu demais, do carro, que, robusto, tem direção mole, do azar, pois Vitor passava por ali... Tão vítima do acaso quanto Vitor, ela estava "destruída" (embora não a ponto de aceitar qualquer culpa) e gostaria de "pegar o sofrimento (...) para carregar só comigo".
Econômica na responsabilidade, ela esbanja compaixão e dá a entender que, mesmo sem ser culpada pela destruição real, não figurada, de uma vida jovem, já foi punida por sua própria dor.
Em 5 de agosto, ela foi indiciada sob suspeita de homicídio com dolo eventual, e seu pai, Sergio Pereira, declarou: "Foi uma mera fatalidade, das que acontecem uma em mil". Além do desrespeito implícito no "mera", vê-se aqui a mesma mentalidade em operação: a violência no trânsito seria um fenômeno natural, como terremotos e tsunamis. Assim, numa cidade com taxas absurdas de mortes provocadas por motoristas irresponsáveis, o fator humano se evapora.
Ainda é normal, no Brasil, encarar como "mera fatalidade" o que em outros lugares é crime gravíssimo e, caso se conclua que Vitor Gurman foi vítima de um, é assim que isso deveria ser tratado, pois onde há crime deve haver punição.
Esse truísmo choca-se, porém, com uma cultura da cordialidade, irreverência e mais afeita ao perdão do que ao respeito às leis, uma cultura de coitadinhos vivos e de mortos à espera de justiça.
A impunidade dos atropeladores é uma barbaridade nacional que banaliza mortes cruéis e evitáveis.
Quantos culpados de tais crimes estão cumprindo pena hoje no Brasil?
Há algum? Na Europa e nos Estados Unidos, pedestres, gente de skate, ciclistas etc. são respeitados. Lá, há punição, e o que quase não há é violência no trânsito.
Punição exemplar não traz ninguém de volta, mas é decisiva para que outros não morram tão gratuitamente.
Segundo a sabedoria talmúdica, quem desculpa os culpados ultraja suas vítimas.
Punição, porém, é o último recurso e, para que se torne cada vez menos necessária, cabe incentivarmos e participarmos cada vez mais de campanhas de conscientização e de uma educação que, voltada para deveres, não só para direitos, enfatize as responsabilidades para com a comunidade.
Com esse intuito, os amigos do Vitor organizaram, na noite de 30 de julho, uma comovente caminhada silenciosa pelas ruas da Vila Madalena. Desde então, o grupo tem promovido manifestações públicas com a chamada "Viva Vitão: não espere perder um amigo para mudar sua atitude no trânsito".
Vamos ouvi-los. A violência de nosso trânsito mata mais gente do que muitos conflitos que merecem manchetes. Não estamos em guerra: queremos andar e passear a pé, de bicicleta etc. por nossas ruas sem correr risco de vida. O caminho rumo à mudança é longo e tem duas vias: educação para a responsabilidade e punição justa.
O que quer uma mulher? - Martha Medeiros
Uma mulher quer que suas unhas não quebrem nem descasquem. Uma mulher quer se sentir atraente com o peso que tem. Uma mulher quer ver seu trabalho valorizado. E quer ganhar dinheiro com ele. Uma mulher quer ser amada. Quer viver apaixonada. E quer se divertir.
Poderíamos encerrar a questão neste primeiro parágrafo, mas como a página necessita ser preenchida, avante.
Uma mulher quer ter filhos. Ou já quis um dia.
Uma mulher com filhos quer ter mais tempo para si mesma. E uma mulher com tempo de sobra quer uma rotina mais agitada. Uma mulher só não quer o tédio.
Uma mulher quer um cabelo que não precise ser constantemente pintado, arrumado, escovado. Uma mulher quer conversar. Uma mulher quer ficar em silêncio. Uma mulher quer que lhe telefonem de surpresa e lhe digam coisas que a façam ficar sem palavras. Uma mulher quer deixar um homem maluco. E ter, ela mesma, o direito de enlouquecer.
Uma mulher quer aprender a ser mais egoísta. Quer, ao menos uma vez na vida, pensar só nela e em mais ninguém.
Uma mulher quer inspirar um poema. Quer ser musa. Mas não quer ser confundida com essas mulheres que não controlam a própria vaidade, perdem a noção e pagam mico nas páginas das revistas.
Uma mulher quer colocar comida na mesa e que as crianças raspem o prato, uma mulher quer seus filhos saudáveis e felizes, uma mulher quer que eles durmam a noite toda, de preferência em casa.
Uma mulher quer desligar a tevê. Uma mulher quer sexo. Uma mulher quer devorar um pão de meio quilo sem culpa. Uma mulher quer sair bonita na foto. Uma mulher quer dormir mais cedo. Uma mulher quer ser reparada na festa. Uma mulher quer que seu carro não a deixe na mão. Uma mulher quer ser escutada. E quer escutar os homens, que pouco se abrem.
Uma mulher quer fazer algo pela sociedade. Quer ajudar quem precisa. Quer ser útil. Em troca, quer que a ajudem com as sacolas. E que a amparem na dor.
Uma mulher quer ter o gostinho de dizer não para os cafajestes. Por mais que ela queira dizer sim.
Uma mulher quer morrer de rir. Uma mulher quer que não a levem tão a sério. Quer batalhar por seus ideais sem se embrutecer.
Uma mulher quer de vez em quando demonstrar seus dotes de atriz. Uma mulher quer brilhar no escuro.
Uma mulher quer paz. Uma mulher quer ler mais, viajar mais, conhecer mais. Uma mulher quer flores. Quer beijos. Quer se sentir viva. E quer viver para sempre, enquanto for bom. Está respondido, doutor Freud. Não somos assim tão complicadas.
Poderíamos encerrar a questão neste primeiro parágrafo, mas como a página necessita ser preenchida, avante.
Uma mulher quer ter filhos. Ou já quis um dia.
Uma mulher com filhos quer ter mais tempo para si mesma. E uma mulher com tempo de sobra quer uma rotina mais agitada. Uma mulher só não quer o tédio.
Uma mulher quer um cabelo que não precise ser constantemente pintado, arrumado, escovado. Uma mulher quer conversar. Uma mulher quer ficar em silêncio. Uma mulher quer que lhe telefonem de surpresa e lhe digam coisas que a façam ficar sem palavras. Uma mulher quer deixar um homem maluco. E ter, ela mesma, o direito de enlouquecer.
Uma mulher quer aprender a ser mais egoísta. Quer, ao menos uma vez na vida, pensar só nela e em mais ninguém.
Uma mulher quer inspirar um poema. Quer ser musa. Mas não quer ser confundida com essas mulheres que não controlam a própria vaidade, perdem a noção e pagam mico nas páginas das revistas.
Uma mulher quer colocar comida na mesa e que as crianças raspem o prato, uma mulher quer seus filhos saudáveis e felizes, uma mulher quer que eles durmam a noite toda, de preferência em casa.
Uma mulher quer desligar a tevê. Uma mulher quer sexo. Uma mulher quer devorar um pão de meio quilo sem culpa. Uma mulher quer sair bonita na foto. Uma mulher quer dormir mais cedo. Uma mulher quer ser reparada na festa. Uma mulher quer que seu carro não a deixe na mão. Uma mulher quer ser escutada. E quer escutar os homens, que pouco se abrem.
Uma mulher quer fazer algo pela sociedade. Quer ajudar quem precisa. Quer ser útil. Em troca, quer que a ajudem com as sacolas. E que a amparem na dor.
Uma mulher quer ter o gostinho de dizer não para os cafajestes. Por mais que ela queira dizer sim.
Uma mulher quer morrer de rir. Uma mulher quer que não a levem tão a sério. Quer batalhar por seus ideais sem se embrutecer.
Uma mulher quer de vez em quando demonstrar seus dotes de atriz. Uma mulher quer brilhar no escuro.
Uma mulher quer paz. Uma mulher quer ler mais, viajar mais, conhecer mais. Uma mulher quer flores. Quer beijos. Quer se sentir viva. E quer viver para sempre, enquanto for bom. Está respondido, doutor Freud. Não somos assim tão complicadas.
Antipolítica Se os políticos parecem ser todos corruptos é porque nós, na sociedade civil, devemos ser todos honestos
Certa vez, uma mulher me disse que não deixaria de gostar de mim, mesmo se eu perdesse o cabelo, engordasse absurdamente e mudasse de fé ou de lugar de residência. Mas ela deixou claro que, caso eu me tornasse um político, ela se separaria de mim, no ato. Essa mulher é brasileira, mas poderia ter sido italiana. Brasileiros e italianos compartilham, hoje, uma paixão antipolítica. A ideia antipolítica mais difusa é a convicção (recente na Itália e endêmica no Brasil) de que o exercício da política é indissociável da corrupção -com seu cortejo de alianças oportunistas, mentiras etc. Fora a ojeriza moral, a consequência dessa convicção é a seguinte: de repente, o único projeto republicano válido parece ser a luta contra os corruptos. Ou seja, no governo, os apetrechos da política (planos, visões ou competências) são inúteis, apenas precisamos de pessoas honestas.
A antipolítica da corrupção cria uma nova unanimidade. Para o cidadão comum, ela é lisonjeira: se os políticos parecem ser todos corruptos é porque nós, na sociedade civil, devemos ser todos honestos, não é? Para os políticos, denunciar a corrupção de sua própria classe é mais fácil do que conceber e colocar em ato ideias sociais e econômicas inovadoras. Com isso, a antipolítica reconcilia a nação, as classes e os partidos: vivemos enfim numa comunidade de (todos) indignados contra os políticos (todos) corruptos. Na Itália, o Partido Comunista da época de Berlinguer (inclusive nas regiões que governava) era considerado, mesmo por seus adversários, como uma reserva ética. Os comunistas podiam ser acusados de comer criancinhas, mas ninguém imaginava que, uma vez no poder, eles seriam como os outros. Ora, a partir de 1991, quando o partido se desfez, as siglas nas quais ele confluiu (compostas cada vez mais de políticos profissionais e cada vez menos de militantes) foram partidos como os outros. O caso do PT, no Brasil, não foi muito diferente. As alianças de governo e sobretudo o mensalão acabaram com a ideia de que o Partido dos Trabalhadores representasse uma reserva ética dentro da política. Conclusão: como quer a antipolítica, políticos são todos iguais e reserva ética só existe na sociedade civil. Quanto a mim, oscilo: acho que a arte de governar não deveria se resumir num trabalho de polícia, mas será que, hoje, é possível qualquer política sem um saneamento moral prévio?A corrupção generalizada não é o único argumento da antipolítica. A desconfiança de discursos políticos fanfarrões e abstratos (que, ao longo do século 20, sacrificaram milhões) pede que eles sejam substituídos pelo cuidado com os problemas concretos, numa espécie de ativismo direto, sem projetos globais, sem representação e sem delegação. Aqui também a antipolítica ganha uma simpatia suprapartidária e interclassista.Acabo de ler um conto de Piero Colaprico, "Arrivano i NAM", publicado pelo "Corriere della Sera", no qual ex-militantes da luta armada dos anos 1970 e 1980, tanto esquerdistas como fascistas de extrema direita, unem-se, hoje, para criar um grupo que organiza linchamentos e punições como no passado, só que contra alvos comuns, que não são mais inimigos ideológicos, mas pessoas que concretamente estragam a convivência civilizada de todos na cidade. Os NAR, Nuclei Armati Rivoluzionari, são assim substituídos pelos NAM, Nonni Armati per Milano, ou seja, os avós armados para Milão, vigilantes defensores da ordem e da justiça miúdas e concretas. Concordando com a antipolítica, entre os NAR e os NAM, talvez eu prefira os avós, os NAM. Se hesito um pouco, é porque receio que, à força de cuidar apenas do concreto imediato, a gente acabe perdendo a capacidade de pensar mundos realmente diferentes.Em suma, não sei interpretar a antipolítica. Talvez ela seja o sinal de uma nova forma de domínio, que nos induz a aceitar nosso "sistema" e pedir apenas gestões mais honestas e mais concretas. Talvez, ao contrário, ela seja uma revolta contra a política tradicional, capaz, a longo prazo, de redefinir nossa visão do que é política. Questões. A Primavera Árabe me parece ser um evento político no sentido tradicional. Mas os jovens protestatórios do Chile e ainda mais os saqueadores de Londres foram o quê? Antipolíticos?
A palavra
Falar e escrever sem necessidade de tradução ou legenda: eis um dom que é preciso desenvolver todos os dias
Freud costumava dizer que poetas e escritores precederam os psicanalistas na descoberta do inconsciente. Tudo porque literatura e psicanálise possuem um profundo elo em comum: a palavra.
Já me perguntei algumas vezes como é que uma pessoa que tem dificuldade com a palavra consegue externar suas fantasias e carências durante uma terapia. Consultas são um refinado exercício de comunicação. Se relacionamentos amorosos fracassam por falhas na comunicação, creio que a relação terapêutica também naufragará diante da impossibilidade de se fazer entender.
Estou lendo um belo livro de uma autora que, além de poeta, é psicanalista, Sandra Niskier Flander. E o livro chama-se justamente a pa-lavra, assim, em minúsculas e salientando o verbo contido no substantivo. Lavrar: revolver e sulcar a terra, prepará-la para o cultivo.
Se eu tenho um Deus, e tenho alguns, a palavra é certamente um deles. Um Deus feminino, porém não menos dominador. Ela, a palavra, foi determinante na minha trajetória não só profissional, mas existencial. Só cheguei a algum lugar nessa vida por me expressar com clareza, algo que muitos consideram fácil, mas fácil é escrever com afetação.
A clareza exige simplicidade, foco, precisão e generosidade. A pessoa que nos ouve e que nos lê não é obrigada a ter uma bola de cristal para descobrir o que queremos dizer. Falar e escrever sem necessidade de tradução ou legenda: eis um dom que é preciso desenvolver todos os dias por aqueles que apreciam viver num mundo com menos obstáculos.
A palavra, que ferramenta.
É pena que haja tamanha displicência em relação ao seu uso. Poucos se dão conta de que ela é a chave que abre as portas mais emperradas, que ela facilita negociações, encurta caminhos, cria laços, aproxima as pessoas.
Tanta gente nasce e morre sem dialogar com a vida. Contam coisas, falam por falar, mas não conversam, não usam a palavra como elemento de troca. Encantam-se pelo som da própria voz e, nessa onda narcísica, qualquer palavra lhes serve.
Mas não. Não serve qualquer uma.
A palavra exata é uma pequeno diamante. Embeleza tudo: o convívio, o poema, o amor. Quando a palavra não tem serventia alguma, o silêncio mantém-se no posto daquele que melhor fala por nós. Em terapia – voltemos ao assunto inicial –, temos que nos apresentar sem defesas, relatar impressões do passado, tornar públicas nossas aflições mais secretas, perder o pudor diante das nossas fraquezas, ser honestos de uma forma quase violenta, tudo em busca de uma “absolvição” que nos permita viver sem arrastar tantas correntes.
Como atingir o ponto nevrálgico das nossas dores sem o bisturi certeiro da palavra? É através dela que a gente se cura.
Freud costumava dizer que poetas e escritores precederam os psicanalistas na descoberta do inconsciente. Tudo porque literatura e psicanálise possuem um profundo elo em comum: a palavra.
Já me perguntei algumas vezes como é que uma pessoa que tem dificuldade com a palavra consegue externar suas fantasias e carências durante uma terapia. Consultas são um refinado exercício de comunicação. Se relacionamentos amorosos fracassam por falhas na comunicação, creio que a relação terapêutica também naufragará diante da impossibilidade de se fazer entender.
Estou lendo um belo livro de uma autora que, além de poeta, é psicanalista, Sandra Niskier Flander. E o livro chama-se justamente a pa-lavra, assim, em minúsculas e salientando o verbo contido no substantivo. Lavrar: revolver e sulcar a terra, prepará-la para o cultivo.
Se eu tenho um Deus, e tenho alguns, a palavra é certamente um deles. Um Deus feminino, porém não menos dominador. Ela, a palavra, foi determinante na minha trajetória não só profissional, mas existencial. Só cheguei a algum lugar nessa vida por me expressar com clareza, algo que muitos consideram fácil, mas fácil é escrever com afetação.
A clareza exige simplicidade, foco, precisão e generosidade. A pessoa que nos ouve e que nos lê não é obrigada a ter uma bola de cristal para descobrir o que queremos dizer. Falar e escrever sem necessidade de tradução ou legenda: eis um dom que é preciso desenvolver todos os dias por aqueles que apreciam viver num mundo com menos obstáculos.
A palavra, que ferramenta.
É pena que haja tamanha displicência em relação ao seu uso. Poucos se dão conta de que ela é a chave que abre as portas mais emperradas, que ela facilita negociações, encurta caminhos, cria laços, aproxima as pessoas.
Tanta gente nasce e morre sem dialogar com a vida. Contam coisas, falam por falar, mas não conversam, não usam a palavra como elemento de troca. Encantam-se pelo som da própria voz e, nessa onda narcísica, qualquer palavra lhes serve.
Mas não. Não serve qualquer uma.
A palavra exata é uma pequeno diamante. Embeleza tudo: o convívio, o poema, o amor. Quando a palavra não tem serventia alguma, o silêncio mantém-se no posto daquele que melhor fala por nós. Em terapia – voltemos ao assunto inicial –, temos que nos apresentar sem defesas, relatar impressões do passado, tornar públicas nossas aflições mais secretas, perder o pudor diante das nossas fraquezas, ser honestos de uma forma quase violenta, tudo em busca de uma “absolvição” que nos permita viver sem arrastar tantas correntes.
Como atingir o ponto nevrálgico das nossas dores sem o bisturi certeiro da palavra? É através dela que a gente se cura.
Panis et circenses
SÃO PAULO - O ministro Mário Negromonte (PP), das Cidades, foi acusado de oferecer R$ 30 mil de mesada a parlamentares de seu partido a fim de tentar reverter uma correlação de forças que lhe é desfavorável na bancada da Câmara.
Em sua defesa, não se limitou a negar a acusação. Saiu cuspindo balas, literalmente: "Para acabar com esse fogo amigo, um revólver só não resolveria. Teria que ser uma metralhadora para sair atirando".Em entrevista ao jornal "O Globo", o ministro de Dilma fez acusações e ameaças explícitas aos colegas do PP: "Imagine se começar a vazar o currículo de alguns deputados. Ou melhor, a folha corrida". E completou: "Então aqui vai o meu alerta: em briga de família, irmão mata irmão, e morre todo mundo".Estaria tudo certo se o autor das frases fosse Tony Soprano, dando conselhos para unir a "famiglia". Na boca de um ministro de Estado, não passa de desfaçatez vulgar. Negromonte parece confundir família e governo, máfia e coisa pública.Não é o caso de brincar de Roma Antiga e atirar as pessoas aos leões, como sugeriu Dilma, criticando a espetacularização da faxina (que a rigor não existe), mas, sim, de lembrar essa tigrada que isso ainda é uma República, apesar deles.Depois de Alfredo Nascimento (PR) e de Wagner Rossi (PMDB), além de Antonio Palocci (PT), chegou a vez de o PP oferecer a sua contribuição à degradação da política.Mas não se trata de um rebaixamento apenas moral, o que já seria bastante. A fala de sarjeta do ministro Negromonte vale também como sintoma e metáfora de um governo pedestre, sem nenhum brilho ou capacidade de formulação, que se consome no varejo de escândalos em série, diante dos quais tem atitude no mínimo dúbia.Por ora, a política do pão e circo (programas de transferência de renda para os mais pobres e ilusão de faxina ética para as classes médias) tem funcionado. Veremos até quando Dilma pode se segurar inspirada na Roma Antiga.
BANG BANG, CINISMO E MORTES
Enquanto grupos políticos, em Brasília, cada vez mais se assemelham a quadrilhas brigando de foice por e para tirar cada moeda possível dos cofres públicos, ao ponto de um ministro de Estado, numa espécie de chantagem nada velada para bom entendedor, insinuar que se uns continuarem denunciando os outros vai haver derramamento de sangue entre irmãos e todos morrerão, no chão do país de verdade quem está morrendo mesmo é a população desprovida de saúde. Nos últimos dias, um exemplo nacional e outro local exibidos pela televisão estamparam o quanto o mar de corrupção e as intrigas políticas geradas em torno dele se traduz no dia a dia na ausência do estado na vida de quem precisa ou na prestação de serviços inclassificáveis de tão desumanos.
Em agosto, os telespectadores baianos foram assombrados por imagens de um exército de mais de 2.000 pessoas doentes derretendo de calor, cansaço e sofrimento físico em frente ao Hospital Ana Nery, indicado pelo poder público como o hospital de referência em cardiopatia. Embora nada justifique a presença de dois milhares de pessoas implorando por atendimento médico desde a madrugada até o meio da tarde para pegar esse perverso direito de voltar para casa com esperança de ser atendido um dia, ou seja, o direito à tal da senha para obter uma ficha, os responsáveis pela unidade vieram para a frente das câmeras explicar que havia ocorrido tão somente um erro no sistema de agendamento. Para quem via as imagens e o desespero das pessoas no local era impossível aceitar a tese de que tudo poderia ser reduzido a um erro de sistema.
VALE-FUNERAL - Um outro argumento sempre usado pelo ajuntamento desumano de gente doente em porta de hospital é o de que as pessoas, se doentes e sem possibilidades de atendimento, jamais devem vir para a capital em busca de atendimento. O discurso é belo e aparentemente funcional: devem procurar as prefeituras locais, cadastrar-se e esperar que estas providenciem o agendamento do atendimento em Salvador, via centrais de regulação. Quem acreditar na eficiência desse sistema ganha um doce e quiçá um vale-funeral. O povo, que de muito bobo só tem a aparência, sabe que a política pública da regulação do atendimento entre prefeituras e sistema único de saúde na capital pode ser perfeitamente traduzível, com raríssimas exceções, por uma sentença do tipo: esperem, em seu município, passivamente, a morte chegar. Não venha tumultuar as portas dos hospitais com sua pressa por atendimento, pois não há vagas, não há leitos disponíveis. Essa é a tradução da regulação.
Um dia antes de um ministro, Mário Negromonte, do PP, baiano, inclusive, quando submetido a denúncias de ter criado um mensalinho para remunerar o apoio dos colegas de bancada mais pragmáticos, dizer, em tom de ameaça, que “em briga de família, irmão mata irmão, e morre todo mundo. Por isso eu disse que isso vai virar sangue”, quem praticamente morria em uma maternidade de referência, em Belém, que lhe batera a porta na cara, era uma mulher em trabalho de parto de gêmeos. Os bebês nasceram mortos e, independentemente de a causa mortis ter sido a negligência, é impossível compreender que uma mulher em sofrimento de parto tenha duas portas na cara em duas maternidades diferentes e acabe parindo bebês mortos em uma viatura do Corpo de Bombeiros.
DONO DE CAPITANIA - Bastou o Jornal Nacional ir à maternidade para o discurso surreal de sempre recomeçar. Não se sabe de quem é a culpa, os médicos que estão na ponta de um sistema perverso não podem se tornar bode expiatórios, as maternidades já estavam superlotadas e a culpa é do sistema como um todo. Sim, a culpa é do sistema, mas não apenas o de saúde, mas o político, ético e moral do país. O impostômetro instalado em São Paulo corre voraz todos os dias anunciando quantos milhões, bilhões, os brasileiros deixam nos cofres públicos a cada bala que compram e a cada salário que recebem. O sistema que faz faltar dinheiro para maternidades ampliarem vagas, instalar leitos, contratar médicos ou para a construção de novos hospitais é o mesmo que sempre dá um jeito de reservar um dinheirão para mensalinhos e para o combustível dos helicópteros da Polícia Militar do Maranhão que conduzem o mais prestigiado dono de capitania hereditária do Brasil, José Sarney, em sobrevoos para ver as belezas de sua ilha de estimação no estado. E ele sente-se tão à vontade com isso que se permite brincar a respeito publicamente.
No mesmo dia em que a realidade da maternidade em Belém onde houve a negação de atendimento à mãe dos gêmeos mortos no parto mudou completamente, por conta da presença das câmeras do Jornal Nacional, nobres senadores, quem sabe estimulados pelo clima Negromonte de insinuar morte de irmão e sangue, trocaram acusações no plenário e por conta não encenaram um bang bang de sopapos. Os afagos morais oscilavam em torno de termos como safado, débil mental, louco e moleque. Em Belém, o representante dos médicos dizia que estes não podem ser o bode expiatório da crise na saúde. Autoridades do sistema de saúde e jurídico diziam ter havido falta de solidariedade no caso da grávida. Todos têm razão sob seu ponto de vista, enquanto o mais elementar fica desfocado: os homens públicos que deveriam empreender todos os esforços para reduzir o sofrimento humano no país, estão mesmo é exercendo o cinismo, as ameaças, as chantagens à companheirada e interessados tão somente na briga por poder, cargos e desvios de dinheiro. Pacientes em desespero e médicos incapazes de dar conta da demanda que se entendam e se acusem entre si por negligências e mortes. Esse é o recado que boa parte de ministros, deputados e senadores mandam de Brasília. Justo Veríssimo é a tendência no Planalto Central.
Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado originalmente em 28 de agosto de 2011
Inacreditável: Estudante de psicologia matou o filho e jogou o corpo na casinha do cachorro.
Sem explicação - Os fatos narrados parecem um filme de terror, mas é verdade. Uma acadêmica de psicologia de 19 anos asfixiou e matou seu filho logo após o parto com dez facadas - ela já é mãe de uma criança de três anos. O crime ocorreu na última quinta-feira (25) no bairro de Itapuã, onde a universitária mora com os tios. Durante depoimento a garota disse à polícia que não se lembrava do ocorrido. Revelou que não tinha lembrança de estar grávida.
De acordo com informações do jornal Tribuna da Bahia, a polícia aguarda resultado dos exames de DNA e da perícia técnica. A estudante conseguiu esconder os nove meses de gestação da família e deu à luz sozinha dentro do quarto de casa. Para matar a criança, ela teria a asfixiado introduzindo papel higiênico na boca do recém nascido e desferido dez facadas em várias partes do corpo do bebê.
Crueldade - O corpo foi escondido na casinha do cachorro, no quintal de casa. Logo em seguida a universitária, que não teve o nome revelado pela polícia, deu entrada no hospital Sagrada Família, na Cidade Baixa, para realizar o procedimento de curetagem. A falta do bebê chamou a atenção da equipe médica, que acionou agentes da 3ª delegacia, que encontraram a criança morta na casa.
sábado, 27 de agosto de 2011
Quem escreve o que quer, ler o que não quer.....
Após ler o texto publicado no Blog do João Lucio e assinado pelo senhor Marcos do Nascimento tenho a confirmação que a Frente SupraPardária vai deixar muita gente de pernas curtas.
A frente suprapartidária nasceu porque os políticos de renome de Caraguatatuba não tratou os companheiros e partidos politicos com o devido respeito.
Estamos fortes e o tempo dirá se vale apena continuar com (02) dois coronéis mandando em tudo ou acreditar que a Frente Suprapartidária é a solução para acabar com essa farra.
Eu quero fazer uma pergunta a este senhor, você sabe qual diferença de uma FrentePartidária e uma coligação? Pelo texto com certeza este senhor não sabe.
Antes de sair criticando, procure saber quem são as pessoas que fazem parte da Frente SupraPartidária, e o que é a Frente SupraPartidária.
Um chá com mulheres e amigas nunca foi tão divertido
A Afrah Modas convida mulheres de todas as idades para participar de um coquetel no dia 28 de agosto com salgadinhos e bebidas para troca de experiências e dicas de como apimentar sua relação, dança do ventre, dança da cadeira, strip-tease, massagem tântrica, palestra de pompoarismo e varias outras tendências.
Convites limitados:
Garanta o seu convite na loja Afrah modas no Caraguá Praia Shopping
Contato: (12) 3883-4720 – Afrah Modas
DENUNCIE INCONSTITUCIONALIDADES
O Blog do Guilherme Araújo dedica este espaço ao cidadão que deseja fazer alguma denúncia sobre leis municipais, estaduais ou federais que sejam inconstitucionais.
Uma lei é inconstitucional se incorrer, basicamente, em duas situações:
(a) a criação da lei não respeitou as regras constitucionais do processo legislativo, o que pode acarretar erro de procedimento ou incompetência do órgão legislativo (formal);
(b) ou a lei criada contém um conteúdo incompatível com as normas constitucionais (material).
A denúncia popular propicia ao cidadão um canal de comunicação com o Blog do Guilherme Araújo e, com isso, lhe possibilita participar da preservação da Constituição.
Nenhum cidadão deve ser obrigado a cumprir uma lei inconstitucional.
A sua denúncia pode impedir que isso ocorra.
O Blog do Guilherme Araújo e você cidadão estamos autorizados a tomar medidas judiciais para impedir que uma lei inconstitucional continue a produzir efeitos não esperados pela Constituição.
Uma vez formulada a denúncia, o Blog do Guilherme Araújo analisará as razões do cidadão e, convencendo-se da inconstitucionalidade, tomará as medidas judiciais cabíveis contra a lei inconstitucional, tal como a Constituição determina.
Toda denúncia poderá ser encaminhada ao e-mail: blogdoguilhermearaújo@hotmail.com com as seguintes informações:
(1) a indicação expressa da lei ou ato normativo violador;
(2) a indicação expressa do(s) artigo(s) da Constituição violado(s);
(3) as razões da violação, mesmo que em linguagem popular.
Anexos documentais podem acompanhar a denúncia.
O Blog do Guilherme Araújo promoverá a análise das razões e dará uma resposta ao cidadão, informando a sua posição a respeito da denúncia.
Com esse espaço, o Blog do Guilherme Araújo nada mais faz do que cumprir o dever de zelar pelos valores da democracia e da república.
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