GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

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Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Lá vem samba e a ABI vai junto

Por Maria Luiza Franco Busse, diretora de Cultura da ABI

Terminou nesse domingo, em Brasília, o 3º Congresso da Federação Nacional do Samba, entidade formada por 83 Ligas de 17 estados que representam 820 escolas de samba e blocos em atividade do Amapá ao Rio Grande do Sul. O encontro resultou na aprovação da Carta de Brasília e foi especial porque comemorou também os 5 anos de fundação da Fenasamba. A ABI participou, por meio da diretoria de Cultura, e ganhou de presente o convite para ser o enredo do carnaval de 2024 da Imperadores do Ritmo, escola do Rio Grande do Sul. 

A ideia da Fenasamba nasceu em 2013 durante audiência pública promovida pela Câmara dos Deputados sobre a cadeia produtiva do carnaval, tomou força, e se institucionalizou em 2017 com o objetivo de organizar a defesa das Escolas de Samba, do carnaval e da cultura popular, segmentos ameaçados por movimentos conservadores e preconceituosos que cresciam no país.

O Congresso, que começou na sexta-feira, dia 29, se estendeu pelo último final de semana de julho e teve apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, premiou com diploma e troféu personalidades do mundo do samba. O prêmio Bambas do Samba foi para Tia Surica, baluarte e presidente de honra da Portela, e para o jornalista Odair Ferreira, locutor-oficial do carnaval de Porto Alegre. Tia Surica levantou a audiência do Museu Nacional da República ao soltar o vozeirão para dar uma canja a pedidos, cantando Eu vivia isolado do mundo, de Manacea, Candeia e Alcides Malandro Histórico.

Aos 82 anos e pequenininha, era difícil entender de onde vinha aquela voz tão grande e potente. Deve ser o tal “fenômeno que não se pode explicar”, com diz a letra de uma das músicas do outro portelense Paulinho da Viola.

Selminha Sorriso, muitas vezes campeã como primeira-porta bandeira da Beija-Flor, recebeu o prêmio Musa Cidadã pela coordenação do projeto social Sonho do Beija-Flor, do Instituto Beija-Flor, que desenvolve atividades voltadas ao carnaval com crianças da comunidade de Nilópolis, sede da escola do Rio de Janeiro.

Selminha ainda foi empossada como a segunda Embaixadora da Fenasamba fazendo par com Quitéria Chagas, e também protagonizou outro momento Surica. Sentada, elegante como sempre, Selminha levantou num impulso e sambou como nunca visto na Sapucaí quando o cantor Alexandre Belo puxou um samba-enredo da sua Beija-Flor. Aconteceu o que se pode chamar de apoteose do samba.

Alexandre Magno, da paulistana Nenê de Vila Matilde e presidente da União das Escolas de Samba Paulistas, UESP, foi premiado na categoria Mestre de Administração, e o Projeto Mini Divas de Raquel Nunes, de Porto Alegre, escolhido para receber o prêmio Social Nota 10.

Dentre tantos e importantes dirigentes presentes comprometidos com essa manifestação originária do mundo preto, que se apresenta como a pedagogia de um traço fundante da formação cultural brasileira, estavam o ex-presidente da Portela e diretor Cultural da Liesa, Luís Carlos Magalhães, que além de 2º benemérito da Fenasamba agora também passa a ocupar o novo cargo criado de diretor Cultural da entidade; o presidente da Liga-RJ, responsável pelo Grupo de Acesso do Rio de Janeiro, Wallace Palhares; e o carnavalesco Milton Cunha, de tantos e importantes serviços sempre prestados à cultura do samba. No momento, Milton é responsável pelo projeto Escola de Carnaval que a subsecretária de Difusão e Diversidade Cultural da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, Sol Montes, desenvolve junto com ele.

A Associação Brasileira de Imprensa participou a convite do Secretário-Geral da Fenasamba, Moacyr Oliveira Filho, jornalista e diretor de Jornalismo da ABI. Edinei Martins, presidente da Imperadores do Ritmo, escola da cidade de Santa Cruz do Sul, a 155 quilômetros de Porto Alegre, RS, propôs como enredo para 2024 o papel da ABI nas lutas pela democracia, soberania e estado de direito. Agradecida pelo reconhecimento, a diretoria de Cultura da ABI aceitou integrar o projeto e em breve haverá o encontro de Edinei com a instituição.

Durante a solenidade de entrega do Prêmio, foi lançado o Hino da Fenasamba, de Alexandre Belo e Lucas Donato:

“Naquele ano lá no Rio de janeiro
Nascia uma Federação
Pra defender o sambista brasileiro
E combater toda discriminação
Meu povo, representatividade
Povo meu, de todas as cidades
Sim de tantas lutas e batalhas conquistar
As entidades nunca deixarão de brilhar
A nossa missão
É politizar
Sou a Fenasamba de todos carnavais
Quem me ergueu não esquecerei jamais
Tenho muito orgulho dos bambas desse país
Com todos vocês sou mais feliz”.

Quando cantou o samba, Alexandre Belo lançou a ideia de se eleger a bancada do confete e serpentina para enfrentar as bancadas da bala, do boi e da Bíblia.

Depois de aprovada a Carta de Brasília, manifesto que expressa o que diz a letra do samba-hino da Fenasamba, “nossa missão é politizar”, o domingo encerrou o Congresso com almoço de confraternização e o melhor do samba na quadra da escola Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro – ARUC, fundada em 1961 por funcionários públicos do Rio de Janeiro transferidos para Brasília quando o estado deixou de ser a capital federal. A Portela é a madrinha da ARUC.

Leia a íntegra da Carta de Brasília

CARTA DE BRASÍLIA

Há 5 anos, reunidos no Rio de Janeiro, sob a liderança do presidente Kaxitu Ricardo Campos, representantes de ligas e entidades carnavalescas de vários estados do país, criaram a Federação Nacional das Escolas de Samba – Fenasamba para reunir ligas e entidades carnavalescas de todo o país e lutar institucionalmente pelo estabelecimento de políticas públicas permanentes em defesa das escolas de samba e dos seus desfiles.

Desde as primeiras articulações para a criação da Federação Nacional das Escolas de Samba, iniciadas em 2013, na Audiência Pública sobre a Cadeia Produtiva do Carnaval, na Câmara dos Deputados, em Brasília, os dirigentes e as entidades nela envolvidos vêm alertando dos riscos e ameaças aos desfiles das escolas de samba em inúmeros municípios brasileiros.

De lá para cá, essas ameaças se intensificaram e, nos últimos dois anos, explodiram como uma terrível e perigosa política de Estado, com o evidente objetivo de golpear e, se possível, ferir de morte essa que é a maior manifestação cultural do povo brasileiro.

Os ataques partiram de todos os lados. Seja de governantes insensíveis à importância cultural e econômica do Carnaval e das escolas de samba, seja de políticos inescrupulosos que misturando questões religiosas, perseguiram, combateram e tentaram sufocar o Carnaval e as escolas de samba.

Os resultados dessa política de cerco e aniquilamento do Carnaval e das escolas de samba são evidentes e preocupantes e chegaram a atingir até mesmo o Carnaval do Grupo Especial do Rio de Janeiro, de reconhecida importância cultural e econômica, que em 2020 perdeu o apoio da Prefeitura, na trágica gestão do ex-prefeito Marcelo Crivela.

Além disso, nos últimos anos, centenas de municípios brasileiros tiveram seus desfiles das escolas de samba cancelados, sob a falaciosa justificativa da falta de recursos públicos, ou o hipócrita argumento de que os recursos existentes seriam destinados para a saúde, a educação e a segurança pública, ou, pior ainda, com argumentos religiosos, fundamentalistas e preconceituosos.

Como se isso não bastasse, vivemos tempos sombrios, com o deliberado desmonte da área cultural do governo federal, o cancelamento de políticas públicas de apoio à cultura, entre outras graves ameaças.

Nesse quadro ameaçador, a Fenasamba teve papel decisivo na articulação com os parlamentares para que o carnaval, as escolas de samba e seus profissionais fossem incluídos como beneficiários da Lei Aldir Blanc.

Hoje, cinco anos depois, os representantes das entidades filiadas à FENASAMBA, reunidos em Brasília, nos dias 29, 30 e 31 de julho, no seu 3º Congresso Nacional – CONASAMBA ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO, reafirmam sua disposição de continuar lutando pela implementação de políticas públicas permanentes em defesa do Carnaval e das Escolas de Samba, pela aprovação de mecanismos simplificados e eficientes de contratação das escolas de samba e contra todas as tentativas de enfraquecer os espaços de apoio às manifestações culturais e artísticas.

Reafirmamos nosso compromisso de fortalecer cada vez mais a FENASAMBA, como um poderoso instrumento de mobilização dos carnavalescos do Brasil e um canal de interlocução com a sociedade, os poderes públicos e a iniciativa privada para o debate das pautas que preservem e valorizem os desfiles das escolas de samba em todo o país e construam uma agenda de resistência para o Carnaval e as escolas de samba.

Reafirmamos, também, nossa disposição de lutar pela implementação do Plano Nacional da Cadeia Produtiva do Carnaval, aprovado no 2º CONASAMBA, em Vitória, em novembro de 2021, que prevê, entre outras coisas, a inclusão do Carnaval na Lei de Diretrizes Orçamentárias, com rubricas específicas nos ministérios do Turismo, Economia e Ciência e Tecnologia e nos orçamentos de estados e municípios; a criação de linhas de crédito específicas, junto ao BNDES e outros órgãos, com a criação de um Programa Nacional de Crédito da Cadeia Produtiva e Econômica do Carnaval; a promoção de ações da APEX que possam favorecer a exportação de produtos e serviços do Carnaval brasileiro; e a criação pelo SEBRAE de programas específicos de capacitação em pesquisa, inovação e produção cultural e artística, focados na melhoria da gestão das escolas de samba e ligas.

Além disso, defendemos, também, a implantação nos Estados e municípios, do projeto que está sendo desenvolvido em Corumbá, com a inclusão da história do samba, do Carnaval e das escolas de samba, nos currículos escolares, além de ministrar cursos com os ofícios das funções exercidas nos diferentes segmentos de uma escola de samba.

Precisamos lutar, também, para garantir a presença de representantes do Carnaval e das escolas de samba nos Conselhos Estaduais e Municipais de Cultura.

Anunciamos, também, a criação da Diretoria Cultural da Fenasamba, que passa a ser ocupada pelo nosso Benemérito n.o 2, Luís Carlos Magalhães, ex-presidente da Portela e diretor cultural da Liesa, com o objetivo inicial de realizar palestras e debates pelo Brasil sobre a história do samba e do Carnaval, voltados para a formação de uma nova geração de carnavalescos.

É preciso, também, destacar e elogiar o trabalho que está sendo desenvolvido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF no apoio às escolas de samba do DF e à retomada dos desfiles em 2023, depois de oito anos, com iniciativas como a Escola de Carnaval, para capacitação profissional das comunidades, segmentos e profissionais do Carnaval, entre outras, que são um modelo e um exemplo para outros estados do país.

Finalmente, as entidades carnavalescas que integram a Fenasamba entendem que é necessária a articulação de um amplo movimento de unidade dos setores democráticos e progressistas para, nas eleições de outubro, derrotar a ameaça autoritária e fascista e, juntos, reconstruir o Brasil.

Vamos Juntos pelo Carnaval e pelo Brasil!
Brasília, 31 de julho de 2022

3º CONASAMBA
Kaxitu Ricardo Campos – presidente

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