Com um milhão de tijolos coloridos de
Lego, Ai Weiwei, artista chinês exilado em Berlim, recriou os rostos de 43
jovens de Ayotzinapa que estão desaparecidos desde uma ação policial há quase
cinco anos. O mural faz parte da exposição Restablecer memorias, aberta neste
sábado (13) no Museu Universitário de Arte Contemporânea (MUAC), na Cidade do
México.
Com seu trabalho artístico, Ai Weiwei disse querer
lembrar as vítimas da violência. "O autoconhecimento é baseado na
memória", disse o artista de 61 anos. "O vazio é um insulto à
dignidade do ser humano e pode ser a fonte de raiva e violência."
O mural é acompanhado por uma videoinstalação com
entrevistas de parentes, policiais e autoridades mexicanas.
O sequestro dos estudantes provocou uma avalanche de
indignação em todo o mundo. Os 43 alunos de uma faculdade em Ayotzinapa, no sul
do país, desapareceram em setembro de 2014 quando queriam viajar para
participar de uma manifestação na Cidade do México.
De acordo com a Procuradoria-Geral mexicana, o grupo foi
levado para o estado de Guerrero, no sul, por policiais corruptos e entregues à
gangue de drogas Guerreros Unidos. Eles teriam sido considerados membros de uma
facção hostil pela gangue, que os matou num depósito de lixo e depois queimou
os seus corpos.
Peritos independentes da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos duvidam dos resultados das investigações oficiais, que foram
marcadas por negligências e tentativas de encobrimento. O governo foi criticado
internacionalmente devido ao tratamento lento dado ao caso. Os críticos também
veem uma conexão entre o Estado e o crime organizado.
Na abertura da exposição, Ai Weiwei
disse que o tema o comoveu não apenas como artista, mas também como ser humano.
"Quando se ouve que alguém está sendo maltratado, que o filho do seu
vizinho nunca mais voltará, e depois de quatro anos, o governo ainda não
esclareceu o caso – que tipo de governo é esse? Em que tipo de sociedade
vivemos?", indagou Ai.
Em seu país de origem, a China, Ai se posicionou
repetidamente de forma crítica ao governo em Pequim, o que o levou à prisão por
certo tempo. Em relação à escolha do material para o seu mais recente trabalho,
ele disse que sempre entendeu o Lego como um meio "democrático".
"Qualquer um pode usá-lo, todo mundo reconhece", disse o artista.
Além disso, Ai Weiwei afirmou que lhe agrada o fato de as
peças individuais de seus retratos o lembrarem de pixels de computador.
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