O ministro da Economia, Paulo Guedes,
afirmou neste sábado (13), em Washington, nos Estados Unidos, que ainda não
conversou com o presidente Jair Bolsonaro sobre a decisão
de suspender a alta do diesel pela Petrobras nas refinarias, mas
disse concordar com as preocupações provocadas pelo recuo.
"É evidente que aparentemente já houve um efeito
ruim", afirmou o ministro, após participar de reuniões com autoridades do
FMI (Fundo Monetário Internacional).
Ao ser questionado pelos jornalistas sobre as razões e
impactos da interferência do governo na política de preços da estatal, Guedes
disse que prefere se "informar melhor" quando voltar ao Brasil, mas
citou os caminhoneiros ao dizer que o presidente se preocupa com efeitos
políticos do reajuste do diesel.
"O presidente já disse para vocês que ele não é
especialista em economia. Então é possível que alguma coisa tenha acontecido
lá. Ele ao mesmo tempo é preocupado com efeitos políticos. Estavam falando em
greve dos caminhoneiros, esse tipo de coisa", afirmou.
Guedes disse ainda que ainda que é possível
"consertar tudo", se "eventualmente" Bolsonaro fizer
"alguma coisa que não seja muito razoável".
"Acho que o
presidente tem muitas virtudes, fez muita coisa acertada e ele já disse que não
conhece muito a economia. Então, se ele eventualmente fizer alguma coisa que
não seja muito razoável, tenho certeza que nós conseguimos consertar. Uma
conversa conserta tudo", afirmou o ministro.
Interferência
A Petrobras desistiu na noite de
quinta-feira (11) do aumento do preço do diesel nas refinarias anunciado mais
cedo. O recuo na decisão da companhia ocorreu após uma determinação do
presidente Jair Bolsonaro. Para justificar a manutenção do preço, a estatal
afirmou que há margem para postergar o aumento do diesel por "alguns
dias".
Depois do anúncio do aumento, Bolsonaro determinou que a
companhia revisasse a alta no preço do combustível. O presidente afirmou nesta
sexta que não defende práticas
"intervencionistas" nos preços da estatal, mas pediu uma justificativa
baseada em números. E disse que telefonou para o presidente da
Petrobras, Roberto Castello Branco.
A interferência, no entanto, foi mal recebida pelos
mercados. As ações da estatal na Bovespa tomaram um tombo de mais de 8% no
pregão desta sexta, fazendo a empresa perder R$ 32,4 bilhões em
valor de mercado.
O presidente marcou uma reunião para terça-feira (16)
para discutir o assunto com ministros e responsáveis pela política de preços da
Petrobras. Segundo o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, na reunião
serão discutidos os aspectos técnicos da decisão da Petrobras que levou ao
anúncio do reajuste de 5,7% no preço do óleo diesel nas refinarias.
A Petrobras afirmou na noite desta sexta, em
esclarecimento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que a decisão
de reverter o reajuste do diesel foi tomada após a avaliação de que as condições
permitiam um espaçamento por mais alguns dias no reajuste do preço do
combustível.
Na nota, a estatal afirma que, diante do anúncio do
reajuste, e de ameaças de uma nova paralisação dos caminhoneiros, foi alertada
pela União para o possível agravamento da situação.
"A Companhia, então, revisitou sua posição de hedge
(um mecanismo de proteção financeira) e avaliou que as operações contratadas na
quarta-feira (10/04/19) permitiam um espaçamento por mais alguns dias no
reajuste do preço do diesel", afirmou a estatal.
A política de preços da Petrobras buscando a paridade está em
vigor desde 2016, tendo passado por ajustes desde então. O mais recente
movimento, anunciado em março, prevê que a companhia pode segurar a cotação do
combustível por períodos mais longos nas refinarias, com alterações acontecendo
em intervalos não inferiores a 15 dias.
Incertezas
A decisão trouxe incerteza com relação ao perfil
liberal da administração Jair Bolsonaro e coloca em dúvida
os passos futuros do governo na agenda econômica, segundo os analistas ouvidos
pelo G1. Paulo Guedes é o maior expoente desse
liberalismo no governo.
"Vai caindo a ficha de que a perspectiva liberal do governo pode
não ser tão segura como se esperava", afirma o economista-chefe do banco
Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
A principal preocupação dos investidores é que o governo Bolsonaro
adote medidas similares às que foram praticadas em gestões passadas, quando o
governo optou por não reajustar preços administrados, como dos combustíveis e
da energia elétrica, gerando perdas às empresas desses setores.
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