O violento conflito entre policiais militares e ativistas no centro do Rio na noite desta terça-feira, 15, após o protesto de professores municipais, resultou em número recorde de prisões e apreensões pelas Polícias Civil e Militar em manifestações de rua desde junho. No total, 190 pessoas foram encaminhadas a oito delegacias - 64 adultos e 20 menores foram autuados e continuam presos.
Entre os detidos, há manifestantes de outros Estados. A polícia investiga se há migração de manifestantes entre as cidades em que os protestos de rua têm ocorrido nos últimos meses. Foram identificados participantes do Espírito Santo, São Paulo, Brasília e Rondônia.
"Em depoimento, muitos deles disseram que vieram para o Rio para passar férias e aproveitaram para participar de manifestações. A Polícia Civil pretende investigar se há algum tipo de importação de pessoas para a prática de delitos", afirmou a delegada-chefe, Marta Rocha.
Os presos foram encaminhados para centros de detenção na tarde de ontem.
As autuações basearam-se em crimes como dano ao patrimônio, associação criminosa, roubo e incêndio, todos inafiançáveis. Com os manifestantes foram encontrados facões, serras, canivetes e morteiros. A polícia apresentou também sete balões de ar cheios de fezes, que seriam atirado contra os policiais.
Rigidez
Entre os detidos, 27 foram autuados com base na nova Lei de Crime Organizado, promulgada em setembro deste ano pela Presidência da República. A legislação qualifica organizações criminosas como associação de quatro ou mais pessoas com atuações ordenadas e ações voltadas para a prática de delitos. A lei equipara a organizações terroristas as quadrilhas envolvidas na prática de crimes comuns.
O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio, José Mariano Beltrame, elogiou o "esforço técnico" da Polícia Civil para tipificar os crimes. "Se tem um movimento caótico, no qual queimaram uma viatura e um micro-ônibus (da polícia) do Estado, o que nós temos de fazer é punir essas pessoas. Esse é o esforço técnico que a polícia vem fazendo no sentido de buscar o enquadramento que o Poder Judiciário aceite", afirmou Beltrame.
Segundo a delegada-geral, a nova legislação "alterou o panorama" da atuação policial, mas ressaltou que a polícia "não analisa a pessoa, mas sim o fato" - a onda de vandalismo nas ruas do centro do Rio. "Nós olhamos para este grupo como um bando, na forma como o termo é descrito no Código Penal. Nossa decisão passa pelo crivo do Poder Judiciário", explicou Marta, em referência aos black blocs. "As pessoas saem de casa para praticar crimes. Há um aumento na intensidade de violência."
Marta classificou a atuação da polícia como "lúcida" e "serena" e garantiu que não haverá mudança na estratégia de combate aos mascarados. "Não se pode ter a ilusão de que essas pessoas estejam indo para esses eventos tratar de mudança social. Não vamos tratar isso de forma pueril. Ninguém mais aguenta essa situação. Não há uma pessoa, qualquer que seja sua ideologia, que suporte mais isso", afirmou a delegada-geral do Rio.
Abusos. A Polícia Civil, segundo Marta, investigará casos de abuso de autoridade e já está tentando identificar três homens flagrados em vídeos disparando armas na manifestação.
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