O advogado do partido, Rogério Paz Lima, reclama de problemas burocráticos no processamento das fichas em São Paulo, Estado que abriga o maior número de eleitores, e no Distrito Federal – onde Marina venceu as eleições presidenciais. O advogado afirma que até mesmo fichas de fundadores da Rede, eleitores com endereço e histórico conhecidos, foram rejeitadas. “Uma pessoa que tem tantas intenções de voto não pode ficar alijada do processo. Se Marina não disputar, não tem segundo turno.”
A hipótese de Marina ficar fora da eleição de 2014 parece pouco provável. Se a Rede não conseguir se legalizar a tempo, não faltarão legendas abertas a abrigar a candidata e seus seguidores. O presidente do PEN (Partido Ecológico Nacional), Adilson Barroso, afirma que no dia 10 de setembro fará, pessoalmente, convite para ela se filiar à sigla verde. “Ela tem que esgotar todas as forças para criar a Rede, mas vamos fazer o convite pessoalmente. O PEN é um partido novo e foi um partido novo que elegeu Fernando Collor, em 1989”, diz. Para Barroso, a única diferença entre a Rede e o PEN é o nome. As semelhanças, de fato, incluem as próprias contradições. Como a Rede, o PEN diz que sua principal causa é a sustentabilidade, bandeira que costuma atrair boa parte do eleitorado jovem. Ao mesmo tempo, é uma sigla conservadora no campo dos costumes – condena o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo – o que pode contribuir para afastá-los. A cúpula do PEN é também ligada à igreja evangélica, como Marina.
No momento em que a Rede parecia um partido fácil de ser construído, passou a receber migração de tucanos, convencidos de que uma candidata com uma tradição ambientalista teria disposição de terceirizar a administração da economia em caso de vitória em 2014. Esse processo se reforçou depois que a educadora Maria Alice Setubal, uma das herdeiras do grupo Itaú, anunciou que se tornaria uma das principais financiadoras de uma eventual candidatura presidencial de Marina Silva. Sérgio Werlang, Ilan Goldfajn e outros economistas que ocupam ou ocuparam posição de destaque no Itaú, onde fizeram parte de sua carreira, assumiram cargos importantes na equipe econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. Um dos mais antigos aliados de José Serra, o deputado Walter Feldman, também deixou o PSDB para engajar-se na Rede, para onde transferiu uma máquina de afiliados. Outro deputado paulista, o tucano Ricardo Trípoli, com antigas preocupações ambientais, já anunciou a intenção de trocar de camisa. No entanto, o que poderia ser uma virtude, a filiação de políticos ligados aos tucanos, pode se tornar um problema futuro. A aproximação excessiva com estrelas de um partido que ocupou a Presidência da República por duas vezes e que no momento se encontra no centro das denúncias do propinoduto do Metrô de São Paulo parece pouco conveniente para Marina, pelo risco de contaminar sua imagem de não política, que tanto sucesso faz entre os jovens, com o estigma de um partido “velho” e “tradicional” .
Caso a criação da Rede se mostre inviável, Marina ainda terá de enfrentar um desafio que faz parte de sua carreira política – a dificuldade para adaptar-se a ambientes estranhos. Sua passagem-relâmpago pelo Partido Verde deixou várias sequelas. No apogeu da crise, o ex-deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), conhecido pelo espírito conciliador, tentou afinar as relações entre Marina e o presidente do PV, deputado José Luiz Penna (PV-SP). Mas, depois que Marina deixou o partido sem avisar ninguém, a relação entre ambos tornou-se irreconciliável. Em vez de ajudar a Rede ou levar a candidatura de Marina para dentro de suas fileiras, os verdes comandados por Penna articulam candidatura própria à Presidência. A ideia é lançar Fernando Gabeira candidato. Justamente para tirar alguns votos de Marina.
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