Quanto mais cedo começa uma campanha
eleitoral, menor a parcela do eleitorado que lhe dedica atenção. A imprensa,
por dever de ofício, dedica aos movimentos dos protagonistas desse interminável
teatro um espaço desproporcional à sua efetiva importância para a sociedade
brasileira. A leitura do noticiário só pode infundir no cidadão comum um
sentimento de desgosto com o alheamento dos políticos em relação a seus
interesses e necessidades. Poucas coisas, de fato, afastam tanto a população
dos participantes da maratona ao poder quanto a sua preferência pela
interlocução entre si mesmos - qualquer que seja a natureza do que se digam e a
forma como o façam. Especialmente nessa fase de acertos preliminares da
competição antecipada, o eleitor, de quem dependem em última análise as
ambições dos possíveis candidatos, é um ser praticamente invisível. Claro que
falam dele o tempo todo. Mas não lhe dirigem a palavra em momento algum.
Tomem-se os
episódios mais recentes do atual agito, ambos na segunda-feira: a ida da presidente
Dilma Rousseff a Pernambuco e a vinda do senador Aécio Neves a São Paulo. No
primeiro caso, o pretexto foi a inauguração de uma adutora em Serra Talhada. No
segundo, um evento do diretório estadual do PSDB. A presidente, em plena
campanha pela reeleição, tem viajado com calculada frequência ao Nordeste, onde
a sua popularidade bate recordes, mas ainda não tinha posto os pés no Estado do
governador Eduardo Campos, do PSB da base aliada dilmista, desde que ele
começou a ensaiar voos presidenciais cada vez mais desenvoltos e a criticar o
governo Dilma diante de públicos os mais diversos - além de trocar afagos com
tucanos vistosos, a começar do ex-governador José Serra.
O ex-governador
mineiro, por sua vez, embora lançado ao Planalto por ninguém menos que o
ex-presidente Fernando Henrique, percorria no PSDB paulista uma jornada morro
acima, dada a resistência da ala liderada por Serra a seu nome. Não se trata
apenas da relutância de Serra a jogar a toalha depois de perder duas vezes a
disputa pela Presidência - para Lula em 2002 e para Dilma em 2010 -, sem falar
na derrota que outro petista, Fernando Haddad, lhe infligiu no ano passado, na
eleição para prefeito de São Paulo. A mala sangre entre Serra e Aécio é
pessoal, sobretudo da parte do primeiro. Ele parece acreditar que o então
governador, no mínimo, nada fez para impedir que um jornalista mineiro
difundisse acusações de malfeitos contra amigos e até a sua filha, à época da
privatização das teles.
Em Serra Talhada,
lado a lado com Campos, Dilma discursou 50 minutos, durante os quais citou Lula
11 vezes e alvejou o anfitrião com setas de fino calibre. No trecho mais
destacado de sua fala, teorizou que "nenhuma força política sozinha é
capaz de dirigir um país com esta complexidade. Precisamos de parceiros
comprometidos com esse caminho". Assinalou que a administração Campos se
beneficiou de aportes federais de cerca de R$ 60 bilhões. Pouco antes, ele
havia dito que muitas parcerias com o Estado "vêm de antes do seu
mandato" e não esqueceu, como é lei, de mencionar os "fundamentos
macroeconômicos" legados pelo período Fernando Henrique. Para que não lhe
imputem a pecha de divisionista, ressaltou que da parte dos seus
correligionários "não tem faltado apoio político ao governo". E daí?
Daí nada: ambos demarcaram os seus territórios, Dilma não irá se indispor com o
PSB e o seu presidente só decidirá o que fazer no ano eleitoral de 2014.
Em São Paulo,
porém, algo mudou: Aécio conseguiu o endosso do governador Geraldo Alckmin à
pretensão de ascender ao comando nacional do PSDB, sucedendo ao pernambucano
Sérgio Guerra. "Percorra este Brasil continente", exortou Alckmin,
tratando-o como presidenciável. Até bem pouco tempo atrás o governador dizia
que o senador não deveria acumular a candidatura com a presidência do partido.
Aécio também deve essa a Fernando Henrique. Na conspícua ausência de Serra, os
tucanos se esfalfaram em ostentar unidade, mas o eleitor só foi admitido à
festa dos políticos graças ao ex-presidente. "O PSDB", aconselhou,
"precisa de um banho de povo."
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