Alguém já disse: "Os americanos comem qualquer coisa, desde que venha entre dois pães e pingue". Boa frase, exceto que, hoje, até os povos que se davam ao respeito aderiram à prática de comer carne processada, espremida entre dois pães e asfixiada com ketchup --em pé, num balcão na rua, às pressas e lambuzando mãos, bochechas e gravata (às vezes, pinga também no sapato).
Ontem foi o Dia do Hambúrguer. Milhões de jovens foram às lanchonetes comemorar, ao passo que, na solidão dos pastos, os rebanhos bovinos não viram motivo para alegria. Os médicos também não --estão apreensivos com o surto de obesidade até em países de gente magra, como a China, provocado pela "junk food", da qual o hambúrguer é símbolo.
Em outras eras, eu próprio devorei mais hambúrgueres do que seria sensato para um bípede estressado, curvado de responsabilidades e acima do peso. Mas a leitura de um "paper" científico me revelou que um hambúrguer comercial pode conter carne de 200 bois diferentes, de rebanhos também distintos e talvez de vários países. A ideia de que os bois não fossem parentes e podiam nem se conhecer me fez olhar para aquele hambúrguer como a mixórdia mais promíscua que eu podia imaginar. Joguei-o na lixeira e nunca mais comi outro.
Minto. Comi, sim, mas era o do fotógrafo americano David Zingg, radicado no Brasil. David ia ao açougue, escolhia uma linda peça de filé e mandava moer. Era a garantia de que seus hambúrgueres tinham uma genealogia vacum única. Não satisfeito, o pão era artesanal e o bife, grelhado na frigideira com uma manteiga vinda de Montana, terra do Gary Cooper.
David queria abrir um restaurante em SP, o United Steaks of America. Mas não achou quem bancasse seus hambúrgueres de boa família, filhos de um pasto sólido e estruturado.
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