O socialista François Hollande foi o vencedor da eleição presidencial
na França no domingo, numa virada para a esquerda no coração da Europa
que poderá começar a reagir contra a austeridade que caracteriza o
governo da Alemanha.
Segundo pesquisas de opinião, Hollande venceu
o atual presidente e conservador Nicolas Sarkozy com uma margem
decisiva de 51,9 a 48,1 por cento.
Sarkozy admitiu a derrota 20
minutos depois do encerramento das últimas urnas, às 15h (horário de
Brasília), dizendo aos seus partidários que havia telefonado para
Hollande, para lhe desejar boa sorte.
""Assumo total responsabilidade por essa derrota," ele disse.
Sarkozy,
punido por sua incapacidade em conter a taxa de desemprego recorde de
10 por cento e por seu estilo pessoal ousado, é o 11º líder da zona do
euro que foi tirado do poder desde que a crise monetária dos países da
União Europeia começou em 2009.
Os esquerdistas comemoraram do
lado de fora da sede do Partido Socialista e na Praça da Bastilha, onde
partidários comemoraram em 1981, quando François Mitterrand se tornou o
único outro presidente socialista da França.
Mas as comemorações
podem ser ofuscadas por uma bomba política na Grécia, onde os partidos
tradicionais foram massacrados numa eleição parlamentar, que as
pesquisas sugerem pode deixar os partidários do resgate do Fundo
Monetário Internacional (FMI) para Atenas, sem uma maioria, levantando
dúvidas sobre o seu futuro na zona do euro.
A vitória clara de
Hollande deveria dar ao autodenominado "Sr. Normal" a autoridade de
pressionar a chanceler alemã Angela Merkel a aceitar uma mudança
política para estimular o crescimento na Europa para equilibrar a
austeridade que tem alimentado a raiva em todo sul da Europa.
Sua
margem também coloca os socialistas numa posição que permitirá uma
grande vitória da maioria de esquerda, nas eleições legislativas do mês
que vem, um resultado vital para seus planos de implementar uma imediata
reforma tributária.
Se vencer a eleição em dois turnos em 10 e 17
de junho, o Partido Socialista terá mais controle sobre o poder do que
nos seus 43 anos de história, com a presidência, as duas casas do
Parlamento, quase todas as regiões e dois terços das cidades francesas
em suas mãos.
Antes mesmo da declaração dos resultados, multidões
se reuniram na sede do Partido Socialista para aclamar a primeira
vitória presidencial do partido desde a reeleição de Mitterrand, em
1988. Muitos levavam bandeiras vermelhas e algumas pessoas levavam
rosas, o símbolo do partido.
Na Praça da Bastilha, ponto crítico
da Revolução Francesa de 1789 e tradicional ponto de manifestações e
comemorações da esquerda, os ativistas começaram a comemorar duas horas
antes do fechamento das urnas.
Hollande, um político de carreira,
estava liderando as pesquisas há semanas depois de apresentar um
programa de governo abrangente em janeiro, baseado no aumento de
impostos, especialmente para as pessoas com rendimentos mais altos, para
financiar os gastos e conter o déficit público.
Além de se
beneficiar pelo seu programa de governo, ele também se beneficiou de um
clima anti-Sarkozy devido ao estilo pessoal áspero do atual presidente e
à raiva em relação à mesma economia sombria que derrubou os líderes de
Dublin, Lisboa e Atenas.
"Se Hollande for eleito, teremos
eliminado, por motivos pessoais, alguém extremamente competente, não só
para a França, mas também para a Europa," disse Christian Fabry, de 72
anos, que estava entre os partidários de Sarkozy que esperavam
desanimados, pelo resultado, em um salão de Paris.
Sarkozy começou
sua campanha tarde e se desviou para a direita, numa tentativa de
recuperar o eleitor de baixa renda que as pesquisas mostraram que o
haviam abandonado pela extrema direita ou extrema esquerda.
Seus
comícios agressivos e promessas de conter a imigração, reprimir a evasão
fiscal e fazer com que os desempregados se preparassem para novos
empregos, como uma condição para que recebessem seus benefícios, não
reduziram a liderança de Hollande. Sarkozy surpreendeu muitos
partidários ao não conseguir nenhuma vantagem durante os debates
televisionados.
Embora Sarkozy tenha tirado alguns pontos da
liderança de Hollande nos últimos dias de campanha frenética, seus
assessores confessaram que um milagre seria necessário para levar a
reeleição.
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