O pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, atribuiu neste sábado ao prefeito Gilberto Kassab (PSD) uma visão antiga de como se faz política. Segundo ele, o governo federal tem vários programas disponíveis para São Paulo, mas que não foram executados ainda por pura falta de interesse da Prefeitura. 'Nós não conseguimos trazer a Universidade Federal para a zona leste, nós ainda não conseguimos trazer o Instituto Federal para a zona noroeste, nós ainda não conseguimos conveniar a construção de 172 creches na cidade de São Paulo por falta de interesse', criticou.
O petista fez as afirmações em conversa com jornalistas após ter participado do seminário temático 'Conversando São Paulo sobre Saúde', do qual participou também o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. 'Não instalamos nenhum toldo da Universidade Aberta do Brasil na cidade de São Paulo por falta de interesse. Enfim, o conjunto de ações do Ministério da Educação ainda não chegou na cidade de São Paulo', disse Haddad. 'Eu entendo que a cidade não deve recusar aquilo que é dela. Retornar recursos federais na forma de benefícios é natural, uma vez que o contribuinte paulistano recolhe para os cofres municipal, estadual e federal. Então, tem que retornar. O que não faz sentido é a Prefeitura recusar a parceria', disse.
Ao ser indagado pela Agência Estado se a afirmação dele se chocava com as declarações do prefeito Kassab, que vive apregoando seu estreito relacionamento de trocas com o governo federal, Haddad retrucou: 'Estou te passando uma informação que pode ser checada a qualquer hora junto ao Ministério da Educação'. 'Temos intenção de instalar a Unifesp na zona leste e estamos há três anos negociando a doação do terreno. O Pró-Infância, que é um programa do governo federal que visa a construção de creches no município, tem R$ 250 milhões previstos para a cidade e nós não estamos conseguindo realizar um convênio aqui.'
De acordo com ele, o prefeito não aceita o repasse destas verbas por uma visão antiga de como se fazer política. 'Política se faz com parceria. Nunca discriminamos ninguém em virtude de razões partidárias porque vereadores, prefeitos e governadores de Estado têm por trás de si cidadãos com os mesmos direitos dos cidadãos de qualquer outra cidade. Então é uma visão equivocada de se fazer política pública', criticou o pré-candidato petista.
Ele disse que comumente se ouve prefeitos e governadores esbravejarem por serem discriminados com bloqueios de verbas da União para os municípios e Estados. 'Aqui é o contrário. É a União que está reclamando maior presença no município', afirmou.
No tocante à área da saúde, as críticas do petista foram endereçadas ao governo estadual e se concentraram na intenção do Estado de pleitear a autorização da Justiça para 'privatizar' 25% dos leitos hospitalares conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com Haddad, há um projeto de Lei obstado por uma liminar que tem impedido o governo do Estado de repassar os leitos para a iniciativa privada. 'Nós estamos fazendo as contas dos leitos SUS na cidade de São Paulo. E os leitos, independentemente de serem municipais ou estaduais, são insuficientes. Se nós privatizarmos 25% dos leitos estaduais, vai ficar ingovernável para a cidade', criticou o petista. 'Já faltam leitos. Se nós abrirmos mão de um quarto deles, vamos colapsar o sistema', alertou Haddad.
O pré-candidato prometeu que vai tentar convencer o Estado a desistir da ideia e se alinhar ao Ministério Público e impedir que isso continue. Para Haddad, apesar de esta ser uma medida adotada na esfera estadual, o prefeito pode intervir tomando partido no Ministério Público. 'A Prefeitura não se manifestou sobre isso. Quer dizer, não levou ao conhecimento do Judiciário as consequências para a cidade de se perder um quarto dos leitos do Estado. O Ministério Público entrou com uma tese de princípio constitucional, mas nós queremos levar como contribuição as consequências de uma decisão como essa para a cidade de São Paulo', insistiu o petista. (Francisco Carlos de Assis)