Suspeito que nossa espécie já desejava as 'casas inteligentes’ desde os tempos pré-históricos. João das Cavernas está em um canto de sua caverna, pronto para relaxar após um longo dia de coleta (ele nunca foi do tipo que caçava) e, de repente, uma forte preocupação toma sua mente: teria ele apagado a fogueira na entrada da caverna? Ele vagamente se lembrava de tê-lo feito, mas e se não fez?
Milênios depois, somos surpreendidos pelo mesmo problema. Você se arrasta para fora da cama e desce dois lances de escadas, apenas para conferir se desligou o aquecedor no porão.
A automação residencial deveria ter resolvido isso. Durante décadas, empresas de tecnologia e revistas futuristas nos provocaram com visões de casas nas quais a iluminação, a temperatura, os sistemas de TV e áudio poderiam ser controlados por uma unidade central. Você poderia conferir o aquecedor do porão sem sair de debaixo das cobertas.
Porém, embora grande parte da tecnologia necessária já exista, os sistemas de lares inteligentes fáceis de usar sempre ficaram restritos aos ultrarricos. As alternativas econômicas aos pobres mortais, incluindo dispositivos de automação parcial – como controles remotos universais para sistemas de entretenimento e dispositivos que controlam eletrodomésticos remotamente _, sempre ficaram aquém do sonho da automação residencial.
A boa notícia é que os preços daquela outra rota à casa inteligente, sistemas personalizados instalados por profissionais, estão lentamente começando a cair. Algumas pessoas da classe média americana já podem arcar com uma configuração profissional que controla ao menos um sistema completo de entretenimento, ou talvez um que controle alguns itens, como TV, iluminação, o termostato, travas das portas e, digamos, a cafeteira, enquanto outros poderão arcar com esses custos muito em breve.
Randy Stearns, presidente da Engineered Environments, empresa da região da Baía de São Francisco que vende sistemas de automação profissionalmente projetados, mostrou-me um de seus projetos menores – a automação de um sistema de entretenimento para Bill Weeks, executivo imobiliário aposentado que mora perto de São Francisco. A TV de Weeks, presa à parede, era conectada a um móvel com outros equipamentos audiovisuais no canto esculpido de uma escada. Não havia fios visíveis; todas as conexões eram ocultas atrás de um painel na parede. Weeks podia controlar todo seu sistema com um único controle, que havia sido configurado para suas especificações por um dos técnicos de Stearns.
Sempre que testei controles universais comprados no varejo, eles perdiam a sincronia com o equipamento ou não ofereciam certos botões importantes – e eu acabava tendo de buscar os controles originais para deixar tudo sob controle.
Mas o controle que a empresa de Stearns forneceu como parte do sistema de Weeks (o MX-980 da URC, um dispositivo complexo vendido e configurado apenas por profissionais) não sofria essas falhas. Seus botões e painel na tela podem ser interminavelmente programados para fazer exatamente o que o usuário quer. Quando Weeks apertou 'Ver DVD’, por exemplo, sua TV e aparelho de DVD entraram em ação. E era fácil de usar. Segundo Weeks, ele nunca teve de explicar como usar a TV, nem mesmo para babás ou avós.
''Queríamos que ficasse óbvio para qualquer um que usasse’', disse ele.
Mas ele teve de pagar por essa simplicidade. O custo total da configuração de Weeks, incluindo equipamentos e instalação, foi de US$ 4.600, sem contar a TV, comprada separadamente.
A conta de Weeks é bem representativa dos preços atuais; sistemas de casas inteligentes profissionalmente instalados varia entre alguns milhares a até centenas de milhares de dólares, dependendo do grau do serviço. Mas Dave Pedigo, diretor de tecnologia da Custom Electronic Design and Installation Association, grupo comercial de instaladores de automação residencial e home theaters, disse que os preços para automações personalizadas estão em queda – e que um dos maiores motivos é o advento de dispositivos com tela sensível ao toque como iPhone e iPad. ''O surgimento dos dispositivos da Apple e do Google vem realmente alterando este mercado’', explicou Pedigo.
Para ilustrar a opinião de Pedigo, e para me dar uma amostra do que as pessoas menos abastadas poderão aproveitar nos próximos anos, Stearns me levou a uma casa no subúrbio de Atherton, onde sua empresa havia instalado um extenso sistema de automação residencial.
Ele incluía mais de 12 televisores, entre eles um com tela de 100 polegadas em um sistema de cinema caseiro, além de um sistema áudio na casa toda, com caixas de som montadas invisivelmente no teto. Havia também um sistema integrado de iluminação e controle de clima, de forma que a família poderia, por exemplo, controlar a temperatura na adega de vinhos enquanto malha na academia de ginástica, do outro lado da propriedade.
E aqui está o mais interessante para o restante de nós: essa família comanda seu principesco sistema, que custou US$ 400 mil entre projeto e instalação, de algo tão simples como um iPad (ou, neste caso, um dos sete iPads convenientemente espalhados pela casa). Segundo Stearns, antes do advento dos celulares e tablets com tela sensível ao toque, ele teria usado controles personalizados para este sistema automatizado – e cada um desses dispositivos custa milhares de dólares. Mas um iPad custa US$ 499, uma grande economia. E como o iPad pode ser personalizado com diferentes aplicativos, pode ser usado para controlar os sistemas de inúmeras empresas.
Assim, conforme os preços da tecnologia caem, o conjunto se torna mais viável para todos. Veja um serviço bem básico de segurança e automação residencial oferecido por uma empresa chamada Vivint. O pacote profissional traz um preço base de US$ 200 e uma taxa mensal de cerca de US$ 70, incluindo monitoramento de segurança.
Claro que o sistema da Vivint não oferece os refinamentos de um sistema personalizado, instalado por um dos profissionais afiliados à associação de Pedigo; o sistema da Vivint não se conecta a uma central de entretenimento, por exemplo. Para muitas pessoas, porém, um sistema simples pode ser muito útil. O da Vivint inclui uma câmera de segurança, uma trava automática de porta, um termostato inteligente controlado remotamente e um módulo para controlar um eletrodoméstico (módulos adicionais custam uma taxa única de US$ 39 cada). ''Achamos que essas tecnologias ainda não foram adotadas porque sempre foram complicadas e caras demais’', declarou Alex Dunn, diretor operacional da empresa, ''e sentimos que seria possível mudar isso alterando o modelo de negócio’'.
Jake Zalewski, morador de São Francisco que gerencia uma rede de livrarias universitárias e viaja frequentemente a negócios, diz que seu sistema da Vivint o libertou das preocupações com os pequenos detalhes ao viajar. Será que me lembrei de trancar a porta, apagar as luzes, desligar o ar-condicionado e ativar o alarme? Ele pode dirimir todas essas dúvidas com o aplicativo da Vivint em seu iPhone, de qualquer lugar com uma conexão à internet.
''É algo muito conveniente’', resumiu Zalewski. Ele pretende instalar um segundo sistema em sua casa no Lago Tahoe e está particularmente ansioso por um recurso: ligar sua banheira quando sai de São Francisco, deixando-a pronta para um banho quando chegar ao lar, algumas horas depois.
Conforme caem os preços da tecnologia, sistemas de baixo custo como o da Vivint podem ganhar muitas funcionalidades sem alterar no nível de preço.
Além de controlar a iluminação, eletrodomésticos e o termostato, por exemplo, você também poderá ajustar os irrigadores do jardim e ser alertado quando houver algum vazamento.
Recentemente, a Sigma Designs, fabricante de uma tecnologia de automação residencial que interliga vários aparelhos, anunciou que havia tornado seus sistemas compatíveis com os 'medidores inteligentes’ que serviços de fornecimento público dos EUA estão disponibilizando aos consumidores. Esse desenvolvimento pode permitir que você programe seus eletrodomésticos para ligar e desligar de acordo com o preço da eletricidade. Sua lavadora de roupas, por exemplo, poderia ligar somente quando percebesse alguma queda nas taxas de eletricidade.
Tais avanços tendem a ser instalados inicialmente nas casas mais extravagantes. Mas à medida que os preços caírem, pode não demorar muito até que, finalmente, possamos controlar todos os cantos de nossas cavernas.
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