Um menino de 11 anos foi morto pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) durante uma perseguição, na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, por volta das 22h30 de sábado, 25. O guarda responsável pelos disparos, Caio Muratori, foi autuado em flagrante por homicídio culposo (quando não há intenção de matar), pagou fiança e vai responder as acusações em liberdade. É o segundo caso envolvendo perseguição e morte de uma criança neste mês na capital paulista.
Três guardas participaram da ocorrência. À Polícia Civil, eles afirmaram que foram avisados por dois homens em uma moto que um grupo de ladrões em um Chevette prata havia acabado de roubá-los. Os GCMs não anotaram os dados das vítimas, mas passaram a patrulhar a região para localizar os criminosos.
Os guardas logo localizaram o carro suspeito, que não teria obedecido à ordem de parada e, por isso, se iniciou uma perseguição. Conforme relataram posteriormente aos investigadores do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), os ocupantes do carro teriam atirado contra eles. Por isso, Muratori atirou quatro vezes na direção do Chevette. Os tiros acertaram o vidro traseiro e um dos pneus. O carro dos ladrões parou na Rua Regresso Feliz, onde ocorria uma quermesse. Dois ocupantes desceram correndo. Mesmo perseguidos pelos guardas, eles conseguiram fugir.
Um policial militar aposentado que mora na frente do local onde os foragidos abandonaram o carro notou que uma criança estava no veículo – ferida. O menino de 11 anos foi levado a um pronto-socorro da região, onde morreu.
Investigação. O caso será investigado pelo DHPP. O delegado responsável pelas investigações apreendeu o carro dos supostos ladrões e encaminhou para perícia. Inicialmente, os peritos constataram que há registros de que houve disparos de fora para dentro do veículo e os vidros estavam fechados. Não há indício de que houve tiros no interior do carro. A arma supostamente usada pelos criminosos não foi localizada nem pela GCM nem pela polícia.
O delegado considerou as versões apresentadas pelos guardas municipais juntamente com as conclusões iniciais da perícia. Por isso, decidiu autuar o GCM Caio Muratori por homicídio culposo, pois há suspeita de que o agente agiu com imprudência. O tiroteio, como revide, foi considerado e, por isso, o caso não foi qualificado como homicídio doloso (intencional). Um inquérito policial foi instaurado para investigar o fato.
A mãe do menino disse no DHPP que ele nasceu na Bahia, tinha mais sete irmãos e era usuário de drogas. Ela afirmou que o filho começou a “dar trabalho” há cerca de um ano, quando passou a andar com “más companhias”. A data e o horário do enterro do menino só devem ser divulgados nesta segunda, 27.
Procurado pelo Estado, o comandante-geral da GCM, Gilson Menezes, disse neste domingo, 26, que não iria comentar o caso, porque “as informações ainda estavam sob apuração” e nesta segunda, provavelmente, a Secretaria de Comunicação da Prefeitura se pronunciaria oficialmente. Em nota, a Prefeitura afirmou que os guardas envolvidos na ocorrência foram afastados e a conduta deles será investigada.
Contradições. O Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana (Condepe) vai acompanhar as investigações. Para o advogado Ariel de Castro Alves, a versão apresentada pelos GCMs à Polícia Civil apresenta dúvidas em relação à veracidade do que realmente pode ter ocorrido. “Não há vítima do roubo justificado pelos guardas. Não há arma supostamente usada no confronto. E não há indícios na perícia de que houve confronto”, afirmou.
Neste domingo, ele iria à Polícia Civil para se informar oficialmente das providências adotadas em relação ao caso. Para o advogado, não há como evitar a comparação como caso do menino de 10 anos morto pela Polícia Militar, no início do mês, durante uma perseguição, na Vila Andrade, zona sul paulistana.