O centro do Rio é palco, nesta segunda-feira, 17, da maior passeata da série de protestos contra o aumento no preço das passagens de ônibus ocorrida na cidade. Cerca de 20 mil pessoas participaram. Tudo ia bem até perto das 20 horas, quando um pequeno grupo subiu as escadarias da Assembleia Legislativa do Rio para tentar invadir o prédio.
Eles estavam em quantidade 133 vezes maior do que a de policiais militares (eram 150, segundo dado oficial da corporação), que se refugiaram dentro da Assembleia e jogaram gás de pimenta e bombas de efeito moral de dentro do edifício para fora. Um carro que estava estacionado do lado da Alerj foi virado e incendiado.
A reação policial aconteceu quando alguns poucos manifestantes soltaram rojões em direção à escadaria da Alerj, que estava desde cedo protegida por PMs. Os policiais então soltaram as bombas. Um deles foi espancado por um grupo de rapazes, encapuzados - uma ínfima minoria entre milhares de manifestantes que já tinham ido embora.
O estudante Matheus Poppe, de 17 anos, ficou até o fim da manifestação, mas criticou quem atacou a Alerj. "Eu vim aqui para outra coisa. Estava disposto a dar meu sangue, mas assim está demais. Estava tudo pacífico." O estudante Rodrigo Nogueira, de 23, veio de Angra dos Reis, no sul do estado, e também lamentou o que aconteceu. "Isso não é manifestante. Acaba atrapalhando tudo. Picharam o Paço Imperial, que é patrimônio nosso".
Boa parte dos manifestantes estava de branco. Eles ocuparam toda a extensão da Avenida Rio Branco, uma das principais da região, para gritar também por outras causas: eles são contrários ao uso de dinheiro público nas obras preparatórias para a Copa do Mundo de 2014 e reclamam da má qualidade dos serviços públicos.
Embora a dispersão estivesse prevista para a Cinelândia, os manifestantes que seguiam à frente decidiram ir até a Assembleia Legislativa, como aconteceu na última quinta-feira, quando o prédio foi pichado. A concentração começou às 17 horas e, até as 19h30, não havia ocorrido confronto com a Polícia Militar, que até então apenas acompanhava os manifestantes.
Durante o percurso, a passeata ganhou o apoio de muitas pessoas que ainda trabalhavam em escritórios localizados na via ou esperavam o fim da manifestação para ir para casa. Eles lançaram papel picado pelas janelas, em sinal de apoio, e os manifestantes agradeciam. "Quem apoia acende a luz", gritavam da rua, e as luzes piscavam nos escritórios. Duas grandes faixas na frente da multidão davam o tom do ato: "Não é por centavos, é por direitos" e "Somos a rede social".
Uma pequena parte dos manifestantes, em sua maioria jovens estudantes, levava flores, demonstrando que o ato tinha, de modo geral, motivação pacífica. Eles tiveram respaldo de profissionais que se prontificaram a ajudar em caso de arbitrariedades policiais: 60 advogados se colocaram à disposição para agir em caso de prisões ilegais ("mas não de depredações", ressalvaram) e 20 estudantes de medicina de jaleco branco se ofereciam para atender possíveis feridos. Até as 19h30 não havia registro de incidentes.
A Polícia Militar e a Guarda Municipal reforçaram a vigilância no centro desde o começo da tarde, embora a concentração estivesse marcada para as 17 horas. O prédio da Assembleia, histórico, já estava cercado por cavaletes desde cedo. O centenário Teatro Municipal, na Cinelândia, por onde o grupo passaria, também foi cercado por policiais.
A manifestação começou de forma festiva, com grupos de jovens tocando instrumentos e cantando, em clima de bloco de carnaval. Alguns usavam narizes de palhaço. Policiais se restringiam a fazer uma escolta discreta. Depois o número de PMs aumentou, de motocicleta e a pé.
Os dizeres "Revolto-me, logo existo", "Verás que o filho teu não foge à luta" e "Somos filhos da revolução" estamparam cartazes. Os manifestantes que estavam com bandeiras de partidos políticos (PCB, PSol, PSTU) foram criticados - preferia-se a bandeira do Brasil. Ainda na concentração, enquanto um dos líderes do movimento discursava fazendo críticas à presidente Dilma Rousseff pela parceria com os governos do estado e município do Rio, o cineasta Daniel Zarvos, de 39 anos, tentou se apossar do microfone gritando palavras de apoio a ela.