Em troca de garantir um maior apoio do PMDB, a presidente Dilma Rousseff deve desistir da criação do Ministério da Infraestrutura, que reuniria Aviação Civil e Portos, e deixar as duas pastas nas mãos do partido, garantindo à legenda seis vagas no primeiro escalão do governo.
Depois de diversas reuniões ao longo da quarta-feira (23), o vice-presidente Michel Temer confirmou que "provavelmente" o PMDB ficaria com seis ministérios, um a mais do que o planejado inicialmente por Dilma e apenas um a menos do que o atual desenho do ministério.
O xadrez da composição política da reforma ministerial ainda não está fechado e, ao contrário do previsto inicialmente, a presidente deve embarcar para Nova York nesta quinta-feira (24) sem anunciar o formato e os nomes do novo ministério, segundo Temer. "Existe a possibilidade da reforma ficar, sim, para depois da volta da presidente", disse o vice-presidente.
Fontes do Palácio do Planalto informaram à "Reuters" que a decisão de anunciar a reforma ainda dependia de conversas que Dilma estaria tocando pessoalmente, mas os ministros do PMDB foram informados que dificilmente o anúncio será feito antes da viagem da presidente.
A reorganização do espaço do PMDB e também do PT ocupou a maior parte do dia da presidente na quarta-feira. A intenção do governo é reorganizar o ministério para trazer o PMDB novamente para dentro da coalizão política, de acordo com um ministro palaciano.
Alijado de algumas das decisões mais importantes, como a recriação da CPMF, o partido ensaiava abandonar o governo. Prestes a enfrentar mais uma rodada de votações duras no Congresso, com as novas medidas de ajuste fiscal, a presidente reconheceu a necessidade de tentar unir a maior parte do PMDB com o governo.
Logo pela manhã, Dilma recebeu o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que foi entregar os nomes de indicados pela bancada para duas vagas: o Ministério da Saúde, que Dilma já havia oferecido ao partido, e a nova pasta de Infraestrutura, que reuniria Aviação Civil, hoje nas mãos de Eliseu Padilha, e Portos, com o também peemedebista Edinho Araújo.
Dilma, que ofereceu as duas pastas ao PMDB da Câmara em uma tentativa de aproximação com Picciani, informou ao deputado que planejava manter Padilha no comando da nova pasta, mas ouviu que os deputados do partido não se consideravam representados pelo ministro gaúcho, indicado inicialmente por Temer.
Ao consultar seu vice-presidente, Dilma ouviu que ele não faria objeção e nem interferiria nos desejos da bancada na Câmara, mas a presidente reafirmou o desejo de manter Padilha, considerado essencial para a articulação política do governo.
De acordo com fontes próximas a Temer, o vice-presidente preferiu chamar a atenção de Dilma para outro problema que seria criado com a reforma. O ministro da Pesca, Helder Barbalho, perderia o cargo na reforma e seu pai, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), estava bastante irritado com a situação. Jader cobrava o apoio dado ao governo quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ensaiou um afastamento do Palácio do Planalto.
Até o final da noite de quarta-feira, a solução encontrada pelo Planalto foi desistir da criação da pasta de Infraestrutura, mantendo assim Padilha na Aviação Civil e deslocando Helder Barbalho para Portos.
Para a Saúde, Dilma deve indicar Marcelo Castro (PMDB-PI) ou Manoel Junior (PMDB-PB), nomes levados a ela pela bancada peemedebista na Câmara, que deverá manter ainda Henrique Eduardo Alves no Ministério do Turismo. O partido ficaria ainda com os senadores Eduardo Braga em Minas e Energia e Kátia Abreu na Agricultura.
Temer reuniu em seu gabinete à noite Padilha, Jader Barbalho, Helder Barbalho e Henrique Eduardo Alves. Os peemebistas saíram visivelmente satisfeitos do encontro, mas ainda aguardavam a decisão final da presidente. Dilma embarca nesta quinta-feira para Nova York, onde participa da 70ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, e só deve retornar ao Brasil na próxima terça-feira.