O secretário de Saúde do governo do Estado de
São Paulo, David Uip, contemporizou os números de casos e mortes por dengue, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (25). O Estado registrou 170 mil casos e 169 mortes, além de epidemia em diversas cidades do interior e bairros da capital paulista. Mais de 70% das mortes por dengue neste ano aconteceram no Estado. Ao ser questionado sobre o alto número de mortes, Uip afirmou que a maior parte foi registrada entre a população idosa e que a taxa percentual ainda é considerada baixa perto do número de casos que o Estado registrou.
"A morte é individual, e ficamos pesarosos, mas o percentual ainda foi baixo", afirmou.
Segundo ele, a epidemia deste ano pode ser explicada pela presença do mosquito no Estado. "Antigamente não tinha esse mosquito. O mosquito invadiu São Paulo por condições climáticas há uns cinco anos e a população não estava protegida por anticorpos", afirmou Uip em resposta sobre o número de casos no Estado, bem maior que o de outros Estados brasileiros. Segundo o secretário, 80% dos criadouros estão em domicílios, o que torna o combate ao mosquito uma operação complexa.
"Sou sempre a favor de vacina"
Segundo o secretário, o problema da dengue ainda atinge o Brasil porque é um problema difícil. "Temos um grande inventário do que foi feito e o que pode melhorar, mas é uma situação difícil de ser resolvida. Muitas vezes o melhor não é o suficiente", afirmou. "Não tem prevenção nem tratamento para a dengue, precisamos mais do que nunca contar com a população".
Ao ser questionado sobre as vacinas, o secretário explicou que a vacina mais avançada, que deve ser aprovada pela Anvisa até o final do ano, representa um avanço, porém não é a solução para o problema por ter uma proteção de cerca de 60% e por ter três doses. "Sou sempre a favor da vacina, mas sei que mais de uma dose acaba tendo pouco apoio da população". "Precisamos usar a mídia para falar de dengue todos os dias, durante o ano todo. Nem tudo se resolve com dinheiro, há problemas que se resolvem com comunicação", afirmou.
O secretário evitou fazer críticas ao ministério da Saúde. "O ministro Arthur Chioro é muito competente e tem uma difícil decisão sobre a adoção dessa vacina no SUS, acredito que ele vá tomar a melhor decisão", disse.
"Não tem dinheiro que vá bastar"
Ao ser questionado sobre o orçamento da secretaria estadual, o secretário afirmou que são cerca de R$ 20 bilhões anuais, sendo 70% já comprometidos com folha de pagamento. "Não há dinheiro que vá bastar pois temos um sistema 'hospitalocêntrico', ou seja, não temos prevenção, saneamento, nem vacinação suficientes para evitar que o paciente vá para o hospital. Enquanto perseguirmos a cura, e não a prevenção, não vai adiantar", afirmou. "Hoje, mais de 80% dos pacientes na fila de um pronto-socorro não precisa estar ali. Os casos que não são graves são os que geram filas", disse.
Segundo David Uip, 49% dos paulistas têm convênio médico ou pagam pelo atendimento privado.
Sobre o atendimento ao SUS (Sistema Único de Saúde), o secretário se afirmou um "defensor" do sistema, mas foi contra o que ele chama de "judicialização", ou seja, a garantia de direitos de atendimento de saúde específicos, conseguidos pela Justiça. "Chega ao caso de termos de oferecer 69 tipos de fralda. Hoje mesmo tive de responder a uma ação judicial de R$ 20 milhões para comprar remédios que vão atender 37 pessoas. Entendo o lado do juiz, mas ninguém pergunta se o Estado tem essa verba para cobrir todas as ações judiciais concedidas", afirmou Uip.
"Vivemos uma epidemia de sífilis"
"Hoje estamos vivendo uma microepidemia de Aids e sífilis porque as pessoas não estão se prevenindo. São quase sete novos casos de sífilis em São Paulo por dia", afirmou o secretário de saúde do Estado.
"Estamos longe de resolver o problema do crack"
Ao ser questionado sobre o problema do crack, Uip afirmou que o programa do Estado é de redução de danos. "Estamos longe de dizer que controlamos o problema do crack. Não sei nem se eu vou conseguir ver isso", afirmou.
"Estamos tentando unir esforços, temos uma relação muito boa com a prefeitura. O viciado precisa ser tratado, desintoxicado e ficar em unidades terapêuticas para depois ser reinserido na sociedade. O programa do Estado de São Paulo me parece consistente do ponto de vista do que é possivel", disse.
Foram realizadas nove mil internações em 2014, sendo que 90% são espontâneas, por vontade do próprio usuário. Segundo ele, a volta para as ruas fica em torno de 15% dos usuários. "O período de acompanhamento é curto, não podemos dar como vitória. Esse tipo de trabalho não tem fim", disse Uip.