O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, admitiu ontem que o governo e movimentos sociais aliados ficaram "perplexos" com os protestos de junho do ano passado, quando milhares de pessoas foram às ruas do País.
"Houve quase que um sentimento de ingratidão, de dizer: 'fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós'", afirmou Carvalho, ao participar de uma conferência no Fórum Social Temático Crise Capitalista, Democracia, Justiça Social e Ambiental, em Porto Alegre.
Carvalho disse também que "a direita inicialmente fez festa" por entender que as manifestações se configuravam como contrárias à administração federal. As declarações do ministro foram feitas na Conferência Contra o Capital, Democracia Real, da qual também participaram, como palestrantes, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), e representantes de ONGs do Brasil, França, Marrocos e África do Sul.
Os protestos de meados de 2013, que tiveram início em São Paulo, como reação ao aumento da tarifa do transporte coletivo, espalharam-se pelo País e passaram a abrigar pautas diversas, entre elas manifestações contra o uso de dinheiro público para a realização da Copa do Mundo.
Para o ministro, as políticas de distribuição de renda e estímulo ao consumo do governo federal não foram acompanhadas na mesma velocidade por um debate sobre um modelo de desenvolvimento diferenciado. "É evidente que, junto com melhor emprego e melhores salários, vem a consciência de novos direitos", disse.
Ao falar da "perplexidade" e da incompreensão em algumas esferas do governo com as manifestações, Carvalho disse que o governo se esforçou para compreender a realidade, dialogou com os novos movimentos e respondeu com programas de melhorias da mobilidade urbana.
O Palácio do Planalto e o PT estão mobilizados para tentar evitar atos de repressão policial violentos com potencial de gerar uma nova onda de manifestações durante a Copa do Mundo. Questionado sobre um protesto ocorrido no dia anterior na capital gaúcha por passe livre e contra o Mundial, o ministro destacou que a ação policial não foi violenta.
"Temos de dialogar. Só não pode ter a atitude de se encastelar e achar que repressão resolve", afirmou. "Não podemos permitir pessoas infiltradas, que não acredito que sejam manifestantes efetivos."
'Hora de sair'. No início da noite, Carvalho participou de outro evento do Fórum Social e sugeriu que prepara sua saída do governo. "Eu falo como quem está no governo há 12 anos. Já está na hora de sair", afirmou, ao participar da mesa redonda Os Movimentos Sociais Populares e o Futuro da Democracia.
Antes, o ministro criticou a imprensa e adversários políticos, que, segundo ele, "criminalizaram" o PT no julgamento do mensalão. Ele reiterou a defesa do financiamento público de campanhas eleitorais. "Trataram de criminalizar toda a nossa conduta, nos transformando quase em inventores da corrupção, enquanto nós sabemos que o problema nosso foi reeditar, infelizmente, em parte aquilo que eram os usos e costumes da política", comentou em um trecho do discurso.