O ex-secretário de Obras da Prefeitura de Blumenau (157 km de Florianópolis) Alexandre Brollo, 37, um dos investigados da Máfia do Asfalto de Santa Catarina, disse nesta sexta (3), em Florianópolis, que está "secando por dentro".
Brollo só concordou em ser fotografado e dar entrevista para se defender das acusações porque queria "mostrar que não sou o bandido que andam dizendo". Ele estava acompanhado do advogado Dênio Scottini. Antes de falar, ressalvou que não entraria em detalhes das acusações sem o consentimento de Scottini.
Ele lembra que na tragédia dos deslizamentos de 2008 que mataram 15 pessoas passou um mês dormindo no meio dos escombros, trabalhando para estabilizar a área atingida. "Mas o que sobra da minha carreira é uma história de fraude", afirmou. Neste ponto, ele chorou pela primeira vez. O ex-secretário afirmou que trabalhou nove anos como engenheiro da prefeitura (ele é formado pela Fundação Universitária de Blumenau). Disse que conhece "como poucos os problemas urbanos da cidade". "Comecei na manutenção, arrumando buracos na ruas, até chegar a secretário [há quatro anos]", afirmou.
Brollo disse que não é um homem rico. "Tenho uma casa geminada pela qual paguei R$ 115 mil, em 2005, onde moro com minha mulher [também engenheira da prefeitura] e minhas duas filhas pequenas [de 2 e 5 anos]. Tenho um carro ano 2010. Ninguém pode dizer que roubei milhões, né?".
No ano passado, ele fez um concurso público para engenheiro da prefeitura da qual era secretário, passou e foi chamado. Hoje não tem mais o cargo em comissão, mas é funcionário estável da prefeitura, com salário de R$ 2.000, dando expediente na Diretoria de Viação.
A segunda vez em que o secretário chorou foi quando tentou explicar a gravação na qual disse que o povo "tem que se foder".
"Você pode tentar ouvir de novo? Por favor, note que o interlocutor está me pressionando para dizer para um vereador mentir para o povo. Eram 7h da manhã, eu tava meio dormindo, tentava me livrar dele, dizendo tá, tá, tá...lá pelas tantas eu soltei aquela do 'povo que se foder', mas foi assim, tipo 'tá, não me enche o saco'."
Durante e entrevista Brollo fica sabendo que uma rádio de sua cidade está reproduzindo naquele momento os mesmos diálogos e chora pela terceira vez. "É injusto que todo uma vida de serviço ao povo fique enlameada". O advogado o ajuda a se recompor, servindo-lhe água mineral.
De volta, Brollo repete então o argumento que todos os suspeitos estão dizendo, quase da mesma forma: "Sou inocente. Não houve fraude. Não houve superfaturamento. Não tenho medo de nada. Espero ser chamado a depor para poder provar minha inocência".
Eduardo Jacomel escondido
Brollo foi à cafeteria, onde encontrou a reportagem do UOL, sozinho, mas o ex-presidente da URB Eduardo Jacomel estava com ele até momentos antes da entrevista. Jacomel preferiu não falar. Telefonemas entre ele, Brollo e Scottini foram trocados, mas Jacomel se recusou a aparecer. Scottini disse que Jacomel está sendo orientado por outro advogado e que preferiu não se defender das acusações naquele momento.
Scottini disse que já conversou com 39 das pessoas citadas na investigação, embora defenda apenas três. Ele disse que também é advogado pessoal do ex-prefeito de Blumenau e atual presidente do Badesc João Paulo Kleinubing. Explicou sua ligação com os envolvidos por conhecer bem a política de Blumenau, por ter sido durante cinco anos tesoureiro do partido DEM hoje está só advogando.
O advogado disse que vê "uma armação política nas denúncias". "O que ninguém sabe, ou se sabe não disse, é que o promotor Jean Michel Forest que acusa é irmão do líder do PT, vereador Jefferson Forest, e que Jefferson é genro do deputado federal Décio Lima [PT], que por sua vez é marido da deputada estadual Ana Paula Lima [PT], candidata derrotada à prefeitura. Ora, está na cara que o PT está por trás de tudo".
O advogado disse que defende Brollo apenas por amizade.