Na primeira semana de junho, membros da Comissão de Assuntos Relevantes – CAR, da Câmara Municipal de Caraguá-SP, que acompanham a construção da Base de Gás da Petrobrás, estiveram na Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato de Caraguatatuba – UTGCA. Visita esta que coincidiu com o anúncio do Plano de Adequação, marcado para julho deste ano. O cenário encontrado pela Comissão é promissor: a UTGCA está bombeando cerca de 18 milhões de m³ de gás diariamente e usando menos de 1% do total para gerar a energia necessária para manter a Base em funcionamento. Contudo, a principal informação do dia não foi esta, mas o fato de que para atender às obras de Adequação, que aumentarão a capacidade da UTGCA de 18 para 20 milhões de m³, haverá um novo “boom” de empregos na cidade.
No pico das obras da UTGCA, em 2007, foram gerados mais de quatro mil empregos diretos. Nesta nova fase de Adequação as oportunidades serão em menor escala, mas ainda sim, muito animadoras. Cerca de mil pessoas serão contratadas e a expectativa é de que pelo menos 40% deste contingente venha de Caraguá.
A cidade vive um momento ímpar. Além desta nova demanda de oportunidades de trabalho, em linhas gerais, o Município passa realmente por um período de efervescência econômica. Caraguatatuba acaba de completar 154 anos sob o olhar atento de investidores oriundos de vários setores, principalmente, o imobiliário, varejo e offshore. Planejamento será necessário para ordenar o crescimento que está por vir e assim desenhar um novo horizonte para a cidade do litoral paulista.
Em entrevista especial à Revista SANTOS MODAL, o prefeito de Caraguá, Antonio Carlos da Silva, fala das possibilidades de desenvolvimento socioeconômico que estão se abrindo para a cidade e como ele pretende fazer com que este crescimento seja sustentável
Santos Modal - Como o prefeito define este momento pelo qual passa o município?
Antonio Carlos - O município sente-se muito honrado e orgulhoso em poder sediar a Petrobras. Nós sabemos a importância deste investimento para o Brasil em termos de abastecimento energético, do desenvolvimento do País. Mas também estamos muito preocupados. O nosso objetivo é transformar Caraguá em uma cidade boa pra se morar, pra se investir e visitar. Essa é a nossa missão. Então, o poder público também tem que se focar em ações para que este crescimento tenha sustentabilidade.
SM - Há muitas empresas de grande porte que estão se instalando na Cidade, a exemplo da Dicico e um mega shopping que está vindo, certo?
AC - Hoje nós temos quase todas as lojas grandes de departamento no município. Caraguá é, na realidade, o centro comercial do Litoral Norte. Ela já não depende tanto do turismo há muito tempo. Agora nós temos a preocupação de que esse desenvolvimento venha com qualidade de vida. Com esse crescimento acaba vindo muita gente e a cidade não vai ter como oferecer empregos para todos. Aproveito para fazer um alerta. Governo Federal, Governo do Estado e municípios devem realizar uma ação conjunta, incluindo a Petrobras, para que este desenvolvimento venha com muita responsabilidade. Nós temos o exemplo de Macaé, no Rio de Janeiro, que recebeu a Petrobras e hoje quase 80% do município é formado por favelas. O Litoral Norte é a “galinha dos ovos de ouro” do Estado de São Paulo e do Brasil. Eu quero deixar aqui o meu pedido e a minha preocupação para que tenhamos políticas públicas unificadas com as outras esferas governamentais. Estamos investindo 20% do orçamento municipal, que é um índice altíssimo, para solucionarmos um problema sério de drenagem. Estamos fazendo a nossa parte.
SM - Estes investimentos que o Município vem recebendo tendem a potencializar o desenvolvimento da cidade. De que forma a prefeitura está lidando com isso?
AC - Concretizamos uma parceria com a Petrobras pra fazer o enroncamento do rio Juqueriquerê e do estacionamento. A empresa já contratou o projeto e está fazendo o estudo de impacto ambiental. A obra é importantíssima, pois vai reduzir em mais de um metro o nível da água e diminuir as enchentes de toda a região sul, Morro do Algodão, Barranco Alto, Perequê Mirim e Travessão, que tem enchentes em função da baixa altitude.
SM - Será preciso alargamento?
AC - Não. O Rio Juqueriquerê já é navegável, só vai ter que fazer a barra. A obra vai estimular, também, o turismo náutico, que gera muito emprego, desenvolvimento, atraindo o turista e veranista.
SM - Terá um limite máximo para a embarcação poder passar pelo rio e chegar até a estação de gás?
AC - Ainda não foi definido qual é o potencial do rio e se vai ter algum limite para a embarcação entrar.
SM - Como a prefeitura vem trabalhando para amenizar os impactos de crescimento da cidade, em decorrência da instalação da unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato em Caraguatatuba?
AC - O Governo do Estado já liberou para Caraguatatuba mil residências para famílias de baixa renda, que é o nosso foco. Estamos procurando áreas para poder oferecer ao CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo). Pretendemos tirar as pessoas que moram em favelas e atender aquelas famílias que vivem em áreas de risco. No total, vamos precisar de três mil residências.
SM - Já ouve aumento na oferta de oportunidade de trabalho em função destes primeiros investimentos projetados e aplicados na cidade. Em que proporção?
AC - Sim. Só nos últimos 90 dias foram aprovados 17 novos prédios. Você atrai veranistas, atrai moradores e também gera emprego . Eles consomem na cidade e contratam serviços aqui. Eu sou desenvolvimentista e municipalista. Sou prefeito pela terceira vez e já implantamos aqui uma Escola Federal e uma ETEC em parceria com o Governo do Estado. Além disso, Caraguá tem hoje o Poupatempo, o AME (Ambulatório Médico de Especialidades) e o SENAI para qualificar e capacitar nossa mão de obra.
SM - Como o senhor imagina a cidade nos próximos anos?
AC - Imagino Caraguá bonita como ela é, com uma infraestrutura melhor, com desenvolvimento. Vai depender das nossas ações e das nossas parcerias, pra que seja sustentável e tenha qualidade de vida. É isso que eu desejo.