RIO - Em apenas uma semana, o Estado do Rio registrou um aumento de 30% no número de casos de dengue. Na última quarta-feira, havia 20.150 vítimas da doença. Na quarta-feira, quando os dados foram atualizados,
as notificações deram um salto: já são 26.258 vítimas. Em 2008, quando houve a última epidemia, foram notificados entre janeiro e março pouco mais de 32 mil casos. Sete municípios já enfrentam surto:
Bom Jesus de Itabapoana, Santo Antônio de Pádua, Cantagalo, Magé, Mangaratiba, Guapimirim e Seropédica.
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Mapa: confira os números da doença no estado )
Em dois dias, capital tem 837 casos a mais A capital também divulgou novos dados na quarta-feira: já são 9.152 vítimas, 837 a mais do que na terça. Nenhum bairro do Rio enfrenta, segundo a secretaria municipal, surto. Até segunda-feira, a secretaria usava como indicativo de surto a taxa de 300 casos para cada 100 mil habitantes —
o que fazia que 14 bairros enfrentassem o problema. Na terça-feira, no entanto, durante uma reunião de epidemiologistas, os critérios foram revistos, levando em consideração também a curva de crescimento da doença. Se em cinco semanas, duas apresentarem queda nos números, não há surto.
Com a mudança,
os 14 bairros deixaram de se enquadrar nos critérios de surto. A reviravolta provoca críticas:
— Se você tem um critério, tem que segui-lo até o fim. Se ele se revelar ruim, você simplesmente o abandona?— questiona o infectologista Alberto Chebabo. — Os dados, assim, falam o que você quiser.
Em outras ocasiões, mudanças na metodologia também acabaram alterando dados. Em 2004, por exemplo, o número de sequestros caiu graças à retirada dos sequestros-relâmpago da estatística. Eles passaram a figurar no item extorsão com privação momentânea da liberdade.
Na noite de quarta-feira, a Secretaria municipal de Saúde divulgou uma nota técnica sobre as definições para epidemia ou surto de dengue. Ela estipula que, para bairros com menos de 100 mil habitantes, a taxa de incidência não deve ser calculada isoladamente, e sim por região. Segundo a nota, em virtude do pequeno denominador (número de habitantes), existe maior probabilidade de flutuação aleatória. Com isso, o Cosme Velho, que tinha indicativo de surto por estar acima de 300 casos por 100 mil habitantes, passaria a integrar os dados computados em toda a Zona Sul. Na nova conta, a região não estaria em surto.