Se Bruna Linzmeyer fosse Alice, aquela do País das Maravilhas, certamente faria o coelho correr atrás dela, e não o contrário como mostra a história de Lewis Carooll. Com apenas 18 anos, a Leila de "Insensato coração" tem aquela veia jovem de quem tudo quer num simples piscar de olhos. E que olhos! Nem vamos nos ater muito a eles, ok? É que Bruna não gosta de ser apenas um par de olhos azuis. Sabe como é... Nos perturbadores olhos de Bruna, a inquietude inerente à idade está estampada a cada observação que faz da própria biografia. É de se espantar que a menina, até meio franzina, que chega com um exemplar de jornal embaixo do braço e cita Freud com a mesma desenvoltura com que fala de suas sandálias Havaianas, tenha mesmo acabado de sair da adolescência.
— Estou sempre em conflito e isso me leva a vários lugares. Me deixo seduzir e seduzo a vida para que ela se apresente a mim da melhor forma. Sou movida por paixões, pelo que me encanta — tenta traduzir-se.
Nascida em Corupá, uma cidadezinha do interior de Santa Catarina de apenas 12 mil habitantes, Bruna já se destacava na escola. Estudou a vida inteira na rede pública de ensino e fez disso quase uma bandeira. Era tão questionadora sobre o nível de educação que o país queria lhe dar, que foi parar na sala da direção diversas vezes.
— Eu era daquelas que paravam uma aula para discutir o tema, queria saber mais, saber por que meu professor não queria se aprofundar em determinado assunto, saber por que ele não conseguia me explicar o que estava acontecendo no mundo. Poxa, por que os alunos da rede pública não podem fazer uma aula de teatro ou de filosofia, ter um inglês mais decente que não seja apenas ensinar o verbo "to be"? Não aceitava estas coisas — justifica ela, que frequentou os bancos escolares gratuitos pela falta de um colégio particular em sua cidade e pela situação dos pais: — Não dava para eles pagarem uma escola em outro lugar e custear todo o resto.
Apesar das críticas, guarda com carinho essa fase da vida, quando ainda se apoquentava com aquelas perguntas típicas de quem está descobrindo o mundo:
— Me angustiava muito para saber o que eu queria, para onde iria, que faculdade fazer. E se escolhesse errado? Isso era um tormento.
Por pouco, não foi parar na faculdade de psicologia em Florianópolis. Mas decidiu se mudar para São Paulo.
— Já tinha uma vida social em Floripa, ia nos fins de semana, mas queria me atirar no desconhecido. Ir para os Estados Unidos trabalhar, ou fazer um curso de dança. Queria fazer uma coisa que nunca tinha feito e descobrir uma paixão que eu não sabia qual era, e fui descobrindo — conta ela, que, em sua busca rumo ao que não sabia, chegou ao Rio para um teste com Luiz Fernando Carvalho, que a lançou em "Afinal, o que querem as mulheres?", no papel de Tatiana, uma russa meio maluquete e sensual: — Ele foi muito cuidadoso comigo, soube me conduzir, me ensinar. Difícil para mim foi me desapegar da personagem.
E não se desapegou totalmente. Tanto que a turma que formou no Rio inclui atrizes da minissérie e o namorado, Michel Melamed, de 36 anos, com quem prefere não manter um rótulo. Caretice demais para uma menina que está tateando seu caminho até tornar-se adulta:
— O que temos é magia! Dançamos a mesma música, compartilhamos das idéias e dos desejos mais singelos aos mais furiosos.
Corra, Bruna, corra
Bruna é cheia de metáforas, de frases construídas, de referências culturais quase manjadas para pseudointelectuais, mas deixa-se transparecer ao falar da infância em Corupá, quando gostava de subir em árvores, tomar banho de cachoeira, correr até a casa dos avós alemães ou ouvir os sábios segredos do irmão mais velho, que trocou o futuro de artista pelo de bancário. Daí você fica sabendo que a menina já foi modelo, esquece de marcar as consultas médicas, tem dificuldade em manter a casa organizada e descobriu um gosto por andar de chinelos que antes não tinha.
A única rotina que aceita e gosta é a de gravar a novela e correr por aí.
— Correr me traz sensação de liberdade, sinto meu corpo todo, aquele vento batendo, a música no máximo... Poderia mudar o mundo correndo — define.
Nos próximos capítulos de "Insensato coração", Leila voltará mudada de Londres. Os cabelos estarão mais curtos e ela bem diferente da menina que queria perder a virgindade a todo custo e conhecer o orgasmo. Assuntos que nunca foram tabus em casa.
— Deixei de ser virgem aos 16 também, como a Leila, e foi tudo tranquilo — limita-se a dizer.
Lado Polyana
Em cena, ainda não demonstrou tudo o que pode. Mas é aposta nos corredores da Globo, que a estão conhecendo só agora. Espera-se que a história que terá com o personagem de Lázaro Ramos a faça crescer na trama.
— Já tive momentos de chegar em casa e me perguntar por que não faço uma faculdade de administração. Sou nova, tenho crises existenciais — admite ela, que encontrou a fórmula ideal para se defender das críticas e da bola de neve que vem junto à fama: — Inteligência e bom humor.
Bruna só não encontrou ainda uma fórmula para aplacar a saudade. Pelo menos uma vez por mês, voa até a cidade natal para se reabastecer:
— Preciso disso, estar perto da minha família me faz ter os pés no chão e perceber que, qualquer coisa que queira fazer, sempre poderei voltar para lá.
Por vezes, ouvindo Bruna discorrer sobre qualquer assunto, é fácil esquecer dos seus 18 anos. Mas basta uma resposta para ter certeza de que a moça de grandes olhos — olha eles aí de novo! — e boca à la Jolie ainda tem estrada pela frente:
— Nunca vou perder meu entusiasmo. Sou assim. Meus olhos são treinados para ver as coisas como se fosse sempre a primeira vez. Queria que todos fossem assim, que pudessem enxergar o que é essencial e belo.