RIO - O ditador da Líbia, Muamar Kadafi, disse em discurso transmitido pela TV estatal na início da tarde (horário brasileiro) desta terça-feira que a "a Líbia não quer a revolução e o colonialismo". Gritando e gesticulando muito, Kadafi se dirigiu pela segunda-vez ao povo líbio desde o início do levante contra o seu regime no país do norte da África. O líder líbio disse que vai resistir e não vai se render aos manifestantes da oposição. Segundo a emissora al-Jazeera, o Líbia foi suspensa da Liga Árabe, o que deve aumentar ainda mais a pressão sobre o regime.
- Este é o meu país, e o dos meus irmãos. Nós o irrigamos com o nosso sangue(...) Vou morrer aqui como um mártir - esbravejou, pregando a unidade do país.
Ele disse que covardes e traidores estão tentando mostrar a Líbia de forma distrocida, e que os inimigos do país estão tentando manchar a imagem da nação. Segundo ele, o poder, na Líbia, está com o povo.
Este é o meu país, e o dos meus irmãos. Vou morrer aqui como um mártir
Disse, também, que sua situação é diferente da de líderes dos demais países árabes onde vêm ocorrendo protestos contra os líderes locais.
- Muamar Kadafi não é o presidente, ele é o líder da revolução. Ele não tem nada a perder. Revolução significa sacrifício - disse. - Não tenho cargo para renunciar. Tenho minha arma, meu rifle para lutar pela Líbia.
Desafiador, ele culpou os jovens pela "agitação" dos últimos dias e classificou os manifestantes de "ratos mercenários" que querem transformar a Líbia em um Estado islâmico. Ele também acusou os opositores do seu regime de terem recebido "drogas alucinógenas" e de estarem "servindo ao demônio."
- Eles estão apenas imitando o Egito e a Tunísia - afirmou o ditador.
Kadafi conclamou o povo a sair às ruas na quarta-feira, numa demonstração de apoio a ele.
- Muamar Kadafi não é uma pessoa normal que você pode envenenar... ou contra a qual você pode se rebelar. Vou lutar até a última gota de sangue, com o povo ao meu lado - disse, energicamente. - Se você ama Muamar Kadafi você vai sair às ruas para defender a Líbia.
Não tenho cargo para renunciar. Tenho minha arma, meu rifle para lutar pela Líbia
- O uso da força contra a autoridade do Estado será punido com a morte.
Ao contrário desta terça, quando discursou longamente, na noite de segunda-feira, Kadafi fez um breve discurso, no qualafirmou que continuava em Trípoli, desmentindo relatos de que teria fugido para a Venezuela.
Aeroporto de Benghazi fica destruído e governo não controla mais fronteira leste Enquanto o ditador pede unidade, informações dão conta de que o governo não controla mais o leste do país. Homens armados contrários ao ditador tomaram nesta terça-feira o controle do lado líbio da fronteira com o Egito. Segundo as Forças Armadas do Egito, os guardas da fronteira se retiraram do local, que passou a ser controlado por "comitês do povo". Os soldados líbios na cidade de Tobruk disseram que eles não apoiam mais Kadafi. Segundo relato de um correspondente da Reuters que atravessou a fronteira, os rebeldes estavam armados com cassetetes e fuzis Kalashnikov.
Moradores da capital líbia denunciaram nesta terça novas ações violentas do governo para reprimir possíveis protestos. De Dubai, o ativista Mohammed Ali, da Frente da Salvação da Líbia, disse ter recebido relatos de que os habitantes de Trípoli estão se escondendo em casa e há dezenas de corpos nas ruas. Aviões voltaram a ser usados, assim como tanques, helicópteros e mercenários, disseram testemunhas. De acordo com a Human Rights Watch, entidade de defesa dos direitos humanos, pelo menos 62 pessoas morreram em dois dias de confrontos em Trípoli.
Em Benghazi, as pistas do aeroporto ficaram destruídas após os enfrentamentos entre manifestantes e forças de segurança, informou o ministro de Relações Exteriores egípcio, Ahmed Aboul Gheit. Na cidade, a segunda maior da Líbia, estão 130 funcionários brasileiros da empresa Queiroz Galvão. A construtora estaria negociando seu resgate com manifestantes de oposição.
Conselho das Nações Unidas se reúne para avaliar situação da Líbia O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas terá uma reunião de emergência, na próxima sexta-feira, em Genebra, para avaliar a crise na Líbia. A expectativa é que saia uma dura resolução do encontro, condenando os ataques do governo líbio aos manifestantes que são contra o atual presidente Mouammar Kadhafi.
A reunião extraordinária foi pedida por um grupo de países, entre os quais o Brasil, os Estados Unidos, o México, a Suíça e o Catar. Segundo um alto funcionário do governo brasileiro, dependendo da situação, o Conselho poderá desde meramente demonstrar sua preocupação com os direitos humanos naquele país até estipular embargos de ordem comercial e econômica.