A Alemanha é o quinto país mais afetado pelo coronavírus, mas taxa de mortalidade é baixíssima. O que explica esse fenômeno?
A pandemia do novo coronavírus deixou o planeta em estado de alerta. Agora presente em 177 países e territórios, a covid-19 já matou quase 20.000 pessoas em todo o mundo e já contaminou mais de 400.000. É fato que a doença está causando colapso nos sistemas de saúde pública, principalmente nos países mais afetados, e os cientistas agora tentam entender as particularidades deste novo vírus e mapear caminhos para lidar com essa crise.
No meio do caos, a situação da Alemanha chama a atenção não pelas histórias de horror, tal qual se vê na Itália ou na Espanha, mas sim por estar numa situação radicalmente diferente de seus pares europeus: quinto entre os dez países mais afetados pelo novo coronavírus, a Alemanha tem a menor taxa de mortalidade da doença. E isso ainda que comparada com países com números inferiores de casos confirmados.
Até a data da publicação desta reportagem, e com base em levantamento da Universidade Johns Hopkins, o país contabilizava 31.991 casos da doença e 149 mortes (0,4%). A Coreia do Sul, por outro lado, o nono país mais afetado, registrava 9.037 casos e 120 mortes (1,3%). A taxa de mortalidade alemã também impressiona quando colocada diante das taxas da Itália ou da Espanha, que estão em 9,5% e 7%, respectivamente.
O que explica esse fenômeno em um país tão afetado quanto todos os outros?
Não há uma resposta. Tudo indica que o sucesso do país em manter baixa a taxa de mortalidade até agora seja o resultado de um conjunto de iniciativas, colocadas em prática no momento em que se entendeu a gravidade do novo coronavírus.
Uma delas é uma agressiva estratégia de testar o maior número possível de pessoas, o que ajuda as autoridades na detecção dos pacientes assintomáticos. Segundo especialistas, essas pessoas seriam responsáveis por dois terços das infecções da doença. De acordo com números do Instituto Robert Koch (IRK), instituto de pesquisa para o controle e prevenção de doenças, o país vem conduzindo 160.000 testes por semana.
“Acredito que a Alemanha reconheceu a epidemia muito cedo. Estamos duas ou três semanas à frente dos nossos vizinhos. E conseguimos fazer isso graças ao número alto de diagnósticos e testes”, explicou o pesquisador Christian Drosten, chefe do hospital universitário Charité, da Universidade Humboldt e da Unviersidade Livre de Berlim, em entrevista ao jornal Die Zeit. “Estamos vendo cada vez mais casos na Alemanha, como era o esperado. Mas também estamos registrando menos mortes do que em outros países.”
Assim como outros países do mundo, a Alemanha adotou iniciativas de distanciamento social. Escolas, restaurantes e bares estão fechados, reuniões entre mais de duas pessoas são proibidas, com exceção de encontros familiares e moradores de uma mesma casa. Suas fronteiras estão fechadas.
O país pode estar prestes a colher frutos das medidas implementadas. Nesta quarta-feira, 25, espera-se que a Alemanha confirme ter conseguido estabilizar a curva ascendente de novos casos. “Estamos vendo sinais de que a curva de crescimento exponencial está se estabilizando ligeiramente”, disse Lothar Wieler, presidente do IRK, nesta semana para a imprensa. “Mas só poderei confirmar esta tendência definitivamente na quarta-feira.”
Há, ainda, um elemento demográfico que parece jogar a favor da Alemanha: a doença ainda não chegou até a população idosa. Segundo dados do IRK, a maioria das pessoas infectadas por coronavírus no país tem entre 15 e 59 anos de idade (21.373). Apenas 2,7% dos casos confirmados são pessoas com mais de 80 anos de idade. Na Itália, esse índice é de 18%, mostram dados da Bloomberg.
Os dados da Alemanha são positivos e trazem alento num momento no qual o mundo está em pane. Contudo, o governo alemão é cauteloso e enfatiza ser cedo para cravar que o país estava melhor preparado para lidar com essa emergência do que outros. “Estamos apenas no começo desta epidemia. E agora todos os responsáveis por lidar com essa crise precisam resolvê-la”, disse Wieler.
A posição da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, aliás, sempre foi reconhecer a gravidade da pandemia no novo coronavírus. “A situação é séria. Desde a unificação alemã, não, desde a Segunda Guerra Mundial, não enfrentávamos um desafio tão grande”, disse ela em um raro pronunciamento televisionado. E é possível que isso também seja parte importante da resposta.
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